O Sonho

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Maraisa acordou meio atordoada. Olhou ao redor e não reconheceu o lugar onde estava.
Fazia muito tempo que o médico receitara um ansiolítico, mas ela nunca tomara sequer um comprimido.

Depois de todas as emoções que vivera naquele dia, ela não hesitou, abriu o frasco e tomou logo dois de uma vez. Dormiu profundamente e sonhou. Um sonho que ela desejava com toda sua alma que fosse real.

Ela estava feliz em sua casa. Havia sons alegres por todo lado. Na caixa de som, estava tocando as músicas do EP Patroas 35%.

Na cozinha, sua mãe preparava chambari e cantarolava umas modas.

Na sala, Maiara, Marília e Murilo conversavam sobre a nova turnê.
No varanda, seu pai, seu irmão e sua cunhada preparavam a mesa.

Na piscininha, Léo brincava de dar pulos e jogava água em Paulinha que levava Rodrigo no colo.
No sonho, Maraisa estava ali parada na porta observando todo o movimento. De repente, uma mão passou pela sua cintura e lhe deu um beijo na bochecha. Ela virou-se e retribuiu o beijo.

-Meu amor, como sou feliz ao seu lado- disse a voz masculina.

-Te amo, príncipe.

Maiara veio correndo lá de dentro e quis implicar com a Paulinha:
-Hey, Paulinha, segura esse menino direito.

-Oxi, Maiara, que ele não é de vidro, não.

-Você já curtiu demais o Rodriguinho. Agora ele vai vir com a titia.

Maiara pegou o bebê e o encheu de beijos.

-Cadê o neném da titia? Cadê meu metadinha? Cadê o menininho da titia?

Maiara veio andando em direção ao casal que estava abraçadinho na porta.

-Irmã, cuidado que eu roubo o Rodriguinho de vocês.

-Ah, Maiara, você sabe que ele é um pouco seu também, não é, amor? - disse olhando para o rosto do homem.

Ele concordou com a cabeça e todos deram risada.

Almira apareceu na janela da cozinha e gritou:
-Almoço servido!

Foi um rebuliço total. Todos adoravam aquele chambari.

Marília gritou do outro lado da mesa:
-Ô Maraisa, senta aqui com a gente.

Maraisa puxou seu parceiro pela mão e foi até Marília.

-Tá sarada, hein, amiga? Nem com a gravidez você perdeu o corpão.

-Ah, Marília, para- disse Maraisa meio envergonhada.

A loira prosseguiu:
-E aí, não te falei que seria bom para você fazer uns meninos? Mais uns três tá bom.

Maraisa ria das graças da amiga.

-Ô, Maiara, larga esse menino! Ele já enjoou de você! - gritou Marília.

Maiara veio trazendo o bebê no colo.
-Eu só largo, se a Maraisa pedir!

Todos riram mais uma vez.

Como era possível tanta felicidade? Ela sentia-se completa, plena e realizada.

-Aqui, irmã, acho que ele quer a mãe.

Quando foi pegar o bebê, Maraisa acordou.
Olhou ao redor e não reconheceu onde estava.
Passou a mão pela cama e percebeu que estava sozinha. Esfregou os olhos na tentativa de enxergar algum móvel conhecido.

Então ela caiu em si. Estava na fazenda. O sonho fora tão real que ela, por alguns instantes, havia esquecido tudo o que tinha acontecido.

Em um ataque de fúria, começou a jogar objetos que estavam no criado mudo.

Maiara, que havia passado o tempo todo perto do quarto da irmã, ouviu o barulho e bateu à porta.
-Irmã, abre a porta, por favor. Deixa eu te abraçar. Você não está sozinha. Lembra o que eu te disse? Até o final eu e você.

Silêncio.

-Irmã, lembra o que você me disse? Nem pra nascer, você nasceu sozinha. Então, não vai sofrer sozinha. A Balala tá aqui.

Ao ouvir isso, Maraisa abriu a porta e se atirou nos braços de Maiara. Ela chorava muito.
Maiara conduziu a irmã até a cama. 

-Conta pra mim o que está aí dentro, meu amor. A Balala tá aqui.

Maraisa só chorava. Maiara tentava ser forte. Por fim, desabou em lágrimas.

Almira vendo a cena lá do corredor, chorava também.

Essa tempestade não acabaria nunca?

Depois da Tempestade Onde histórias criam vida. Descubra agora