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O caminho de volta fora tão ou mais difícil do que o de ida porque agora Maraisa sabia que estava tudo acabado. Seu filho estava enterrado e com ele se fôra  a sua vontade de viver.

Chegou em casa, tomou um banho e jogou-se na cama do quarto de hóspedes.

Maiara e Almira resolveram ficar na casa dela, caso Maraisa precisasse de alguma coisa.

Maiara tomou um banho e foi deitar-se com
a irmã. Abraçou a sua metade e ficou quietinha do lado dela.

Maraisa tentou dormir, mas imagens misturadas vinham a sua mente: flashes dos shows na Europa, o sorriso do seu bebê, o ursinho de pelúcia, cama de hospital, coroas de flores, o caixãozinho. Ela cochilava e acordava assustada.
Cada vez que isso acontecia, Maiara acalmava sua metade:
-Calma, meu amor! Eu tô aqui com você...

Maraisa aconchegava-se no ombro da irmã, mas logo virava-se, pois estava muito agitada.

No dia seguinte, Maraisa não saiu da cama. Maiara passou várias vezes pelo quarto para ver a irmã. Marília também foi visitá-la. Ninguém conseguiu fazer com que ela saísse de lá. Almira levou café da manhã e almoço, mas Maraisa sequer tocou na comida.

À noite, Fabrício resolveu ter uma conversa com ela. Entrou e sentou-se na cama:
-Maraisa, a gente pode conversar?

Ela virou-se para ele e sentou-se na cama.

Ele começou com tom de voz abalado:
-Eu sinto muito pelo o que aconteceu. Eu queria te fazer uma surpresa. Eu não poderia imaginar que isso fosse acontecer. Um carro desgovernado atingiu a gente. Eu não tive culpa. Eu estou destruído. Não sei nem como chegar direito em você. Queria te pedir perdão. Se eu pudesse voltar no tempo...

-Fabrício, olha eu não quero falar sobre esse assunto. Na verdade, eu não tenho vontade de mais nada. Rodriguinho levou tudo com ele. Faz só uma coisa por mim: respeita o meu silêncio porque é isso o que eu tenho para oferecer agora.

-Quero te contar uma coisa: a Maria saiu da UTI, está no quarto. Assim que ela tiver alta, ela volta para cá.

-Fico feliz que ela esteja bem. Pelo menos, a tragédia é menor.

-O casamento...

Maraisa fez que não com a cabeça.

-Eu sei, eu ia dizer que vou cancelar...devolver os presentes. Vou pedir ajuda para sua família.

Ela assentiu com a cabeça.

-Se você quiser voltar para o nosso quarto, eu venho dormir aqui.

-Acho que não. Pode ficar lá. Vou ficar por aqui mesmo.

Ele levantou-se e foi saindo, parou na porta:
-Boa noite! Eu te amo!

Ela apenas assentiu com a cabeça.

Em seguida, Maiara, que estava esperando do lado de fora, entrou para falar com a irmã:
-Irmã, você falou com ele? O que ele te disse? Vocês se acertaram?

-Não tem o que acertar, Maiara...meu filho morreu e levou tudo com ele. Eu não tenho mais vontade de fazer nada.

-Oh, minha vida! Eu queria poder tirar todo esse seu sofrimento e pegar para mim.

-Obrigada por estar comigo, Maiara.

A ruiva deu um beijo na bochecha da morena e prosseguiu:
-No fundo, você está culpando o Fabrício pelo o que aconteceu?

-Maiara, eu sei que a culpa não é dele, que ele teve boa intenção, mas dentro de mim existem vários "ses" .Se eu tivesse ficado mais tempo com meu filho, se eu não tivesse aceitado fazer a turnê, se a mãe tivesse vindo aqui no dia, se o Fabrício tivesse deixado o meu filho em casa. Essas coisas não saem da minha cabeça e sinto que vou enlouquecer-disse começando a chorar novamente.

-Ô, minha metade, tô aqui. A sua dor é a minha dor. Estamos todos sofrendo com você.

-Dói demais, Maiara. Você não imagina como está meu coração. Eu tenho vontade de morrer, de me enfiar em uma cama e não sair nunca mais. A única coisa que eu queria era o meu bebê aqui comigo- ela começou a chorar descontroladamente.

A ruiva abraçou forte a morena:
-Você nunca estará sozinha, meu amor.

-Eu sei, vocês estão aqui, o Fabrício está também. Mas nada trará meu bebê de volta. Ele foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Eu não sei se vou conseguir me reerguer depois desse golpe- disse a morena chorando.

-Calma, meu amor. É tudo muito recente-dizia a ruiva enxugando as lágrimas da irmã.

-Maiara... dorme aqui comigo.

-Claro que durmo, meu amor.

Almira entrou levando o jantar para a filha:
-Mamãe trouxe o jantar para você, minha princesa-disse sentando-se na cama e dando um beijo na filha.

-Não quero, mãe. Não tô com fome.

-Eu fiz chambari que você tanto gosta.

-Come, irmã. Você vai ficar doente.

Maraisa fez um esforço e comeu um pouco. Ela não queria desapontar sua mãe que tivera o trabalho de fazer o prato que ela mais gostava.
Logo, deixou o prato de lado:
-Obrigada, mãe...

-Come mais, meu amor-insistia Almira.

-Não quero...

Almira saiu levando o prato e deixou as filhas sozinhas.

Naquela noite, Maiara ficou novamente com Maraisa. A morena não conseguiu dormir mais uma vez. Rolou na cama até que resolveu sair de lá. Levantou-se, foi até o quarto do filho, abriu o guarda-roupa, olhou as roupinhas, pegou algumas e ficou sentindo o cheirinho dele.
Perambulou pela casa, pegou o celular, abriu a galeria de fotos e olhou uma por uma as fotos do seu filho.

Tudo havia acontecido há pouquíssimo tempo, mas ela já havia tomado algumas decisões.

Depois da Tempestade Onde histórias criam vida. Descubra agora