Prisão Sem Grade

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Maraisa tentou fechar a porta antes que a pessoa entrasse, mas Fabrício conseguiu impedi-la segurando a porta com um dos pés.
-Eu não tenho nada pra falar com você, Fabrício! Achei que isso estivesse bem claro para você! Vai embora!

Ele empurrou a porta violentamente, conseguiu entrar no quarto e trancou a porta atrás de si:
-Hoje você vai me ouvir. Você foi embora de casa, sem me dar satisfação e apareceu com outro cara! Apesar do que aconteceu, a gente ia se casar!

-Apesar do que aconteceu?? Você matou meu filho! Foi isso que aconteceu! Foi pouco para você?

-Você sabe que isso não é verdade, Maraisa! Eu só queria te fazer uma surpresa!

-Quem disse que eu queria uma surpresa? Eu queria encontrar meu filho vivo em casa. A culpa é toda sua!

Ele partiu para cima dela agarrando fortemente os pulsos dela:
-Nunca mais fale isso, tá me ouvindo, Maraisa? Ou você acha que eu também não perdi um filho?

-Me larga, Fabrício, você tá me machucando! - disse ela tentando se soltar.

-Falei que hoje você ia me ouvir: o que você está fazendo com aquele cara? Tá de caso com ele, é? Sem ter terminado formalmente comigo? Você é minha!

-Eu não te devo satisfação! E não sou sua coisa nenhuma!

-Ah, deve, sim! A gente teve uma união estável, morávamos juntos, tivemos um filho. Você é minha mulher!

-Você só pode estar louco! Eu não sou nada sua! Pensei que estivesse claro que, depois que o Rodrigo morreu, ele levou tudo com ele.

-Então, você não me amava, Maraisa, é isso? Estava comigo por causa da criança? -ele apertava cada vez mais os pulsos dela.

-Me solta! Eu vou gritar!

-Experimenta gritar para ver o que te acontece- ele soltou um dos pulsos dela e levantou a camisa deixando um revólver a mostra em sua cintura.

Naquele momento, Maraisa congelou de medo. Fabrício nunca fôra um homem violento, mas estava visivelmente fora de si e tinha uma arma.

-Fabrício, para com isso! Não vai fazer nenhuma loucura!

-E o que eu tenho a perder? Me diz! Se já perdi você e meu filho?! Não resta nada mais.

-Calma, Fabrício! Vamos conversar!

-Agora você quer conversar? Está com medo?

-Fabrício, me solta, por favor! - ela implorava quase que ajoelhando no chão.

-Antes quero que você prometa que vai voltar pra mim.

-Fabrício...

-Eu só saio daqui te levando de volta pra nossa casa!

-Para com isso! Seja adulto!

-Maraisa, eu não estou brincando! - disse ele ameaçado pegar o revólver da cintura.

-Não precisa de nada disso. Vamos conversar!

-Agora quem não quer conversar sou eu. Vou te levar de volta pra casa.

Fabrício sacou a arma da cintura e apontou para ela:
-Anda! Começa a fazer sua mala!

As lágrimas escorriam pelo rosto dela. Ela abriu a porta do guarda-roupa e pegou a mala que trouxera tempos atrás da antiga casa e começou a jogar algumas roupas lá dentro. Fabrício a observava atentamente para que ela não fizesse nenhum movimento suspeito.

-Pronto! A mala está feita! Guarda essa arma, Fabrício!

-Agora quero que você troque de roupa.

Maraisa foi até o guarda-roupa, mais uma vez, e pegou um vestido qualquer. Tirou o pijama e colocou o vestido com má vontade.

-Tem papel e caneta aqui? - questionou Fabrício.

-Acho que tem. - respondeu ela amedrontada.

-Procure, então - ele aproximou-se para que a arma quase encostasse no rosto molhado dela.

Maraisa começou a abrir as gavetas e vasculhar rapidamente a procura do que Fabrício pedira.

-Sabe, Maraisa, eu nem ia chegar a esse extremo, mas no dia que cheguei aqui e aquele seu ex chegou junto, meu sangue ferveu. Ainda mais quando seu pai me expulsou e esse tal de Wendell entrou. Ninguém faz isso comigo, não. Eu vim nas melhores das intenções, trouxe flores e fui enxotado. Agora as coisas vão ser do meu jeito.

Maraisa finalmente achou papel e caneta.
-Aqui está! - mostrou ela levantando as mãos.

-Ótimo. Agora escreva aí: Mãe e pai, não se preocupem. Resolvi voltar a morar com o Fabrício. Está tudo bem. Avisa o Wendell que não quero vê-lo nunca mais. Beijo. Maraisa.

Ela olhou para ele incrédula. Não era possível que o Fabrício havia perdido a razão daquele jeito. Ele só poderia estar louco. Além do mais, quem acreditaria em um bilhete daqueles?  Mas ela estava com medo de contrariá-lo naquele momento e ele fazer uma besteira.

Pegou o papel e a caneta e escreveu o que ele ditou. Ao terminar, mostrou o papel para ele. Ele conferiu cada palavra e ordenou:
-Deixa o bilhete em cima da sua cama. Agora pega a mala e vamos embora.

Maraisa fez o que ele lhe ordenara, ele apontou para que ela fosse na frente, ela obedeceu, saiu do quarto carregando a mala e ele vinha logo atrás dela.

Fabrício desceu as escadas com o revólver apontado para as costas de Maraisa, abriu a porta do carro e ela entrou. Deu a volta correndo, entrou, deu partida e dirigiu sem largar a arma até chegarem em casa.

Durante o caminho, Maraisa não conseguia racionar direito. Tudo aquilo parecia um pesadelo. Aquela arma apontada para ela, a agressividade de Fabrício, o medo que ela sentira, nada parecia real. Ela só foi cair em si, quando ele estacionou em frente à casa em que moravam antigamente. Uma avalanche de lembranças tomou conta dela e ela começou a soluçar de saudade, de angústia e de medo.
Fabrício colocou uma das mãos na perna dela, enquanto segurava o revólver na outra:
-Vai ficar tudo bem! Eu prometo! -disse ele em tom mais calmo.

"Ele só pode ter enlouquecido" - pensou ela.

-Vamos entrar, meu amor?

Maraisa apenas assentiu com a cabeça.

Ele colocou o revólver de volta na cintura, pegou a mala dela e guiou-a até a porta. Abriu a porta com cuidado e indicou para que ela entrasse. Ela obedeceu.

-Bem-vinda ao lar, meu amor! Sei que vamos ser muito felizes aqui!

-Fabrício...- ela disse chorando.

-Sei que você está emocionada e feliz de estar de volta! Eu também estou! -disse ele dando um abraço nela.

Maraisa sentia um incômodo que nunca sentira antes. Seu único desejo era sair correndo dali e nunca mais ter que ver aquela casa e nem a cara do Fabrício. Era preciso manter a calma e pensar no que fazer. Logo, alguém viria procurá-la, com certeza, mas e se Fabrício ameaçasse a família dela com a arma?! Era preciso pensar em uma solução mais imediata.

-Vamos levar sua mala para o quarto? Você pode colocar tudo no guarda-roupa. Ah, e deixei uma surpresa para você lá em cima.

Maraisa subiu as escadas escoltada por Fabrício. Ao entrar no quarto, notou que havia uma garrafa de champanhe com flores em cima da cama.

-Gostou? -perguntou ele fazendo um carinho no braço dela.

-Sim - ele respondeu com medo.

-Guarde suas coisas. Depois, eu volto.

Ela somente assentiu e ele saiu trancando a porta com a chave.

Por instinto, ela correu até a porta e começou a bater pedindo para que ele abrisse. O que ela ouviu foi silêncio total.

Depois da Tempestade Onde histórias criam vida. Descubra agora