Depois da Tempestade

Ela é Forte

César, Almira e Wendell estavam sentados na recepção do hospital, quando Maiara entrou chorando desesperadamente.

Almira levantou-se, foi ao encontro da filha e amparou-a em um abraço.
-Mãe, cadê a Maraisa? Quero ver minha irmã!

-Calma, meu amor. Senta aqui- disse Almira alisando o cabelo da ruiva.

Maiara sentou-se meio que automaticamente. Seu olhar estava parado e distante. Ela estava pálida e gelada.

-Mãe... a Maraisa... me conta... o que aconteceu... -disse a ruiva entre soluços.

-Amor, a Maraisa está sendo bem cuidada. Logo estará bem.

-Pai, me fala o que aconteceu!! Por que vocês estão me escondendo as coisas? Eu sei que é algo grave! Me fala, pai!

César respirou fundo e começou a contar calmamente toda a história para a filha, desde o começo.

-Como assim, ela tomou um monte de remédio?? A Maraisa nunca faria isso! Alguém a obrigou! Não pode ser verdade, pai! - disse a ruiva chorando muito.

-Calma, meu anjo! -disse Almira abraçando a filha.

-Eu quero ver a minha irmã, por favor! Mãe, me deixa ver a Maraisa! Tem um aperto no meu peito. Eu preciso ver a Maraisa...

-Não podemos entrar na UTI agora. Amanhã, a gente vai vê-la- disse César tentando acalmar a filha.

-Mãe, ela vai ficar bem, não vai? Ela precisa ficar bem!

-Vai, meu amor! Vamos confiar em Deus.

Maiara deitou no ombro da sua mãe e ficou ali quieta por um tempo.

De repente, sentou-se direito na cadeira e disparou:
-Eu estava aqui pensando no que o pai me contou e não faz sentido. Que história é essa de ela estar na casa do Fabrício? A Maraisa nunca voltaria com ele! Ela estava com o Wendell! Isso está muito mal contado. Algo aconteceu e vocês não sabem ou não querem me contar.

-Eu mesmo fui até lá e ouvi da boca dela que ela queria ficar com o Fabrício, Maiara-disse Wendell cabisbaixo.

-Ah, mas vocês não podem ter acreditado nisso! Gente, vocês não conhecem a Maraisa? Ela nunca faria isso de livre e espontânea vontade! Deve ter sido obrigada. Eu conheço minha irmã.

-Agora isso não faz diferença. O importante é que ela saia dessa- disse Wendell em um tom triste.

Os três estavam sentados ali, quando Fabrício voltou do atendimento. Ele tinha os olhos vermelhos e inchados e uma bandagem no nariz. Ele sentou-se do outro lado.

-Vou lá falar com ele - disse Maiara e levantou-se tão rapidamente que ninguém conseguiu detê-la.

A ruiva ficou parada em pé na frente do Fabrício.
-Por que minha irmã estava na sua casa?

-A gente voltou. Ela não te contou? Achei que você soubesse.

-Não, não me contou. E ela me conta tudo. Tentei ligar para ela e não consegui falar. Tudo isso é muito estranho.

-Não vejo nada estranho em duas pessoas que se amam.

-Pelo amor de Deus, Fabrício! Minha irmã já não te ama há muito tempo! Ela está com o Wendell! Que história mal contada! Mas ela vai acordar e vai me contar tudinho! Minha irmã é forte! Ela vai sair dessa! E se você fez algo de ruim para ela, se prepare, viu?

A ruiva deu as costas para Fabrício e voltou para o outro lado.

-Nada me tira da cabeça que o Fabrício aprontou alguma coisa- disse a ruiva sentando-se.

-Vamos focar na recuperação da sua irmã agora. Sem brigas por enquanto! - pediu Almira.

-Vocês não querem ir descansar e eu fico aqui durante essa noite? -sugeriu Wendell.

-Eu quero ficar aqui! - respondeu Maiara imediatamente.

-Vão vocês dois e a Maiara e eu ficamos. Qualquer coisa, a gente avisa. Assim, vocês descansam, tomam um banho e comem alguma coisa- disse Wendell.

Almira relutou, mas acabou concordando. César chamou um táxi e pediu para que levasse os dois até a fazenda.

A noite seria longa para os que ficaram.

Maiara acabou adormecendo sentada e Wendell passou parte da noite encarando o rival, até que Fabrício resolveu ir embora.
Ele tinha  os olhos roxos e inchados e estes quase que não abriam em consequência do nariz quebrado.  Como não enxergava para dirigir, chamou um táxi.

Maiara permaneceu dormindo o resto da madrugada e Wendell cochilou algumas vezes.

Eram sete da manhã, quando o médico apareceu na recepção. 
-Familiares da paciente Carla Maraisa- chamou ele.

Wendell cutucou Maiara que acordou assustada.
-Cadê minha irmã? Eu sou irmã dela!

O médico chegou até eles e sentou-se com um olhar sério.
-Eu sou a irmã dela, doutor. Como ela está? -perguntou a ruiva apreensiva.

-Ela passou uma noite agitada. A pressão, a respiração e os sinais vitais oscilaram bastante e nós tivemos que entubá-la. Infelizmente, o quadro não é estável. Houve uma pequena piora, mas como eu disse precisamos aguardar.

Maiara começou a chorar e foi amparada por Wendell.

-O senhor acha que ela tem chance? -perguntou Wendell preocupado.

-Enquanto há vida, há chance. Vamos torcer para que ela passe um dia mais estável e amanhã teremos uma resposta mais concreta. Meu conselho  é que vocês vão para casa e descansem. Não vai adiantar nada os dois ficarem aqui.

-Posso ver a minha irmã? Eu preciso vê-la, pelo amor de Deus! -implorou Maiara.

- Bem, as visitas começam daqui a pouco. Vou abrir uma exceção porque sou fã das duas. Você pode entrar e ficar cinco minutos.

-Obrigada, doutor- disse Maiara enxugando as lágrimas.

Maiara foi levada até a UTI. Quando chegou à porta, sentiu um calafrio passar por todo seu corpo. O doutor a acompanhou até o leito da sua gêmea.

Maraisa tinha um roxo na testa e estava ligada a vários aparelhos, além do tubo em sua boca. 
Maiara se assustou ao ver sua irmã naquela situação, sentiu seu estômago revirar de medo. Sua gêmea parecia muito mal.

-Se eu falar com ela, ela escuta? -perguntou ao médico.

-Pode falar, se você quiser. Vou deixar vocês sozinhas.

O médico se afastou e Maiara chegou perto do ouvido da irmã.
-Irmã, sei que você tá aí. Você é forte, corajosa, a pessoa mais foda que eu conheço. Você é minha inspiração! Eu te admiro demais e não vivo sem você. Você é minha vida! Eu te amo! Você é minha metade e sei que não vou conseguir viver sem você. Acorda por mim! - disse a ruiva chorando.

Ela tocou na mão da irmã e apertou com força.
-Preferia que fosse eu no seu lugar! Você não merece tudo isso! Eu estou te esperando! Você nunca me decepcionou e sei que não vai me decepcionar agora! Você vai voltar pra gente! Te amo!- disse ela beijando a irmã.

O médico chegou e avisou que Maiara precisava sair, pois um paciente estava tendo uma parada cardíaca e não era prudente que ela ficasse ali.

Maiara foi saindo e deu uma última olhada em direção a sua irmã.

-Vamos torcer... -disse o médico.

-Eu confio em Deus, doutor! Minha irmã é forte. Ela vai voltar pra gente.