Depois da Tempestade

Luto

Maraisa ainda estava acordada, quando a mensagem de Maiara chegou. Ela abriu e viu somente o início do vídeo, as lágrimas começaram a rolar pelas suas faces e ela deixou o celular de lado.

Queria do fundo do coração sentir o prazer que sentia quando estava nos palcos. Infelizmente, aquilo não a atraía mais. Sentia falta dos fãs, no entanto não desejava voltar a fazer o que quanto amava.

No momento, seu desejo era estar só e viver o processo do luto. Sentia uma raiva misturada com tristeza  pelo o que tinha acontecido com seu filho. Tinha dias que ela sentia todo seu corpo doer e sentia uma angústia que parecia que ia sufocá-la. Em outros, sentia vontade de chorar desesperadamente. A sua vida tornara-se difícil e triste.

Virou-se de lado na esperança de dormir, mas foi mais uma das inúmeras noites que ela passara em claro.

Amanheceu e ela não tinha pegado no sono. Passou a manhã toda deitada. Fabrício passou pelo quarto dizendo que iria até a casa do sócio e ela não respondeu. O relacionamento dos dois estava cada vez mais frio e distante.

Aquele dia estava sendo um dos piores para ela. A lembrança do filho a consumia. Sentia uma dor no peito e uma saudade insuportável. Não conseguia aceitar de jeito nenhum que o filho já não estava mais aqui. Seu desejo era esconder-se do resto do mundo.

À tarde, Maiara passou para ver a irmã. Maria abriu a porta e avisou que Maraisa não havia descido ainda. Maiara subiu as escadas e encontrou sua gêmea de pijama largada na cama:
-Oi, meu anjo! Você ainda não se levantou? - perguntou a ruiva fazendo um carinho na irmã.

-Ainda não.

-Já comeu?

-Não.

-Maraisa, você precisa se cuidar. Se esforça um pouquinho.

Maraisa desabou:
-Maiara, eu estou cansada de todo mundo me dizer que eu preciso ser forte, que eu preciso me esforçar, que eu preciso me ajudar. Eu não quero ser forte, não agora. Vocês não entendem? Eu perdi o meu filho-disse ela chorando muito.

Maiara abraçou forte a irmã:
-Desculpa, irmã. Me perdoa. É que você sempre foi tão forte. Não aguento te ver assim.

-É isso que eu tenho para oferecer agora.

Maiara limpava as lágrimas da sua gêmea:
-Quer que eu cancele o show para ficar com você?

-Não, Maiara. Você tem um compromisso com o público. Eu só não estou em um dia tão bom. Prometo que vou ao médico. Não quero preocupar e nem atrapalhar vocês.

-Vou ligar para a mãe vir ficar com você.

-Não precisa.

-Tem certeza, Maraisa?

-Tenho! Deixa a mãe viver a vida dela.

-Então, come alguma coisa, irmã.

-Maiara...

-Por favor! - disse a ruiva fazendo bico.

-Tá bom, Maiara. Você sempre consegue o que quer fazendo essa cara aí.

As duas desceram e Maiara pediu para que a cozinheira esquentasse um prato para Maraisa.
Sentaram-se à mesa e Maiara obrigou a irmã a comer.

Maraisa deu duas garfadas:
-Maiara, por favor. Não quero mais.

-Só mais um pouquinho.

Maraisa empurrou o prato:
-Não desce mais.

Maiara suspirou fundo:
-Irmã, toma um banho. Tira esse pijama.

-Maiara, por favor, me deixa.

Maiara ficou um pouco chateada, mas percebeu que não teria como convencer sua irmã e ela precisava ir porque à noite tinha show em Anápolis.

A ruiva levantou-se da mesa e deu um beijo na irmã:
-Amanhã eu volto para passar uns dias com você. Na quarta-feira, já tenho que viajar porque tem show em São Paulo. Te amo!

-Também te amo.

Assim que Maiara saiu, Maraisa subiu e resolveu fazer o que estava pretendendo há tempos: queria sair daquela casa, queria isolar-se do mundo.

Separou as roupas e os sapatos que mais usava, escolheu alguns itens de higiene pessoal, pegou uma mala pequena e jogou tudo lá dentro.

Foi até o banheiro, tomou um banho rápido e pegou as chaves do carro. Desceu as escadas levando a mala e saiu sem falar com ninguém. Antes de sair, teve o cuidado de tirar o chip do celular.

Entrou no seu carro e dirigiu até a Fazenda Rosada. Dirigiu devagar e com cuidado, pois tinha que limpar as lágrimas que insistiam em cair e sua visão estava toda turva.

Fabrício chegou em casa lá pelas sete da noite e foi procurar por ela. Não a encontrou no quarto de hóspedes, passou pelo quarto do filho, ela também não estava lá. Desceu e perguntou aos empregados. Ninguém tinha visto a patroa, desde que ela descera com a irmã para comer.

Ele começou a ligar para o celular dela, mas não havia resposta. Teve a ideia de procurar pelo carro na garagem. Nada.

Ligou para Almira, mas ela não sabia da filha. Ligou para Maiara e ela respondeu que Maraisa não estava muito bem, mas que deixou-a em casa.

Meia-noite e ele ainda não tinha notícias dela. A família toda estava alarmada procurando por Maraisa.

Foi César que teve a ideia de ir até a fazenda.
Maraisa havia chegado à tarde e recomendado aos funcionários que não dissessem para ninguém que ela estava lá.

Assim que chegou, César avistou o carro da filha e sentiu-se aliviado. Pelo menos, ela estava segura. Resolveu não contar para ninguém até que não falasse com ela.

Entrou e encontrou a filha deitada em um dos quartos:
-Princesa, está todo mundo preocupado com você-disse ele sentando-se na cama ao lado dela.

Maraisa virou-se e abraçou seu pai bem forte e começou a chorar.

-Calma que o pai tá aqui.

Ela soluçava e César sentia seu coração despedaçado ao ver sua filha sofrendo.

Aos poucos, ela foi se acalmando.

-O pai não avisou ninguém que você está aqui, mas todos estão preocupados. Posso avisar sua mãe?

Ela assentiu com a cabeça.

César mandou uma mensagem para Almira avisando que a filha estava na fazenda. Almira respondeu que estava indo para lá.

-Sua mãe vem vindo. Ela quer ficar com você.

Maraisa não respondeu.

-Quer contar alguma coisa pro pai?

-Não, pai. Só quero um pouco de paz. Não fala nada para o Fabrício que estou aqui.

-Não vou falar, princesa.

-Pai, me abraça- disse ela chorando.

César aconchegou a filha em seus braços, enquanto ela fechou os olhos.

-O pai tá aqui. Descansa.

Maraisa acabou adormecendo no colo no pai. César deitou Maraisa, cuidadosamente, para que ela não acordasse.

Quando Almira chegou, a filha dormia.

-Nós vamos ter que levar a Maraisa ao médico- disse César.

-Ela é teimosa, mas amanhã vou marcar uma consulta- respondeu Almira.
Almira continuou:
-Ela te disse alguma coisa?

-Pediu para não contar ao Fabrício onde ela está. Pelo jeito, ela vai ficar por aqui.

-Se ela for ficar, vou me mudar pra cá para cuidar dela.

-Ela vai precisar-disse César com lágrimas nos olhos.

-Parece um pesadelo tudo isso... coitada da nossa filha-Almira disse começando a chorar.

-Espero que ela consiga reagir.

-Deus te ouça! - respondeu Almira limpando as lágrimas.