Não Sou Esse Alguém

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-Wendell, você me ouviu? Tá tudo bem? -perguntou ela colocando a mão no braço dele.

Wendell parecia não ouvir nada mais do que ela dizia e também não sentiu o toque dela em seu braço. As últimas palavras dela ainda ecoavam em sua cabeça, e ele foi sentindo-se cada vez mais tenso, nervoso e inquieto.

Ele tentava de todas as maneiras controlar aquele ciúme louco que estava sentindo, mas sabia que aquilo era muito mais forte do que ele. Fabrício, além de ter morado com Maraisa, havia sido pai de um filho dela. Filho que tanto ele quanto Maraisa sempre planejaram, sonharam e desejaram.  O que será que ele queria com sua mulher? Sim, Maraisa era dele. Para Wendell, não havia dúvidas. E ela? Também sentia a mesma coisa? Será que ela responderia para o outro? A cabeça dele não parava um só segundo.

-Wendell? Tá aí? -ela perguntou encostando seu rosto bem perto do dele.

Ele pareceu sair do transe. Balançou a cabeça em sinal afirmativo e olhou em direção à janela, sem saber direito como reagir.
-O que foi? -por fim ele balbuciou.

-Você ouviu o que eu te disse?

-Ouvi, sim.

-O que foi, amor? O que aconteceu? Você disse que eu podia te contar tudo...

-Eu sei-disse ele passando a mão pela barba-é que você me pegou de surpresa-ele falava tentando disfarçar o que realmente estava sentindo.

-Eu te conheço, Wendell. Não precisa disfarçar. Eu sei o que você está sentindo.

Ele permaneceu calado.

Ela adiantou-se:
-Eu não devia ter te falado nada. Olha o seu estado. Está na sua cara que você ficou transtornado com esse assunto- concluiu ela desanimada.

Ele não aguentou e explodiu:
-Eu estou morrendo de ciúme. Me corroendo por dentro. Me segurando para não pegar seu celular e acabar com a raça desse idiota. Por que que esse cara tinha que te procurar logo agora? Parece que adivinhou que você está comigo. E eu não estou conseguindo me controlar. Achei que estava tudo sob controle, que eu poderia cuidar de você, te ajudar a passar por esse momento difícil, ficar do seu lado em qualquer situação, mas eu não consigo nem administrar o que eu sinto, quem dirá cuidar de você.

Maraisa, ao ouvir tudo isso, ficou atônita.
-O que que você está querendo dizer com isso, Wendell?

-Eu quero dizer que você já sofreu demais e precisa de alguém que não vai te fazer sofrer ainda mais. Alguém que tenha mais controle, que seja mais racional, que seja mais compreensivo. Alguém que não tenha um ataque de ciúme, quando você contar algo que aconteceu.

As lágrimas já escorriam pelo rosto dela.
-Wendell, o que você está dizendo?

-Tô tentando dizer que...-ele hesitou.

-Fala logo!

Ele olhou dentro dos olhos dela e disse:
-Maraisa, eu te amo, mas não sou esse alguém que você precisa agora. Nós dois sabemos como isso vai terminar, se continuarmos assim.

-Como assim? -perguntou ela chorando.

Ele tinha vontade de pegá-la no colo e beijá-la, mas, no seu coração, ele sentia que não iria fazer bem para ela. Não enquanto não controlasse aquele ciúme.

-Eu não sou a pessoa certa. Eu estava prestes a ter uma crise de ciúme e te deixar triste e chateada. Eu achei que poderia lidar com tudo isso, mas você tem um ex que agora está aparecendo do nada e vocês têm toda uma história juntos e eu sinto que essa barra não vou segurar. Além de tudo, vocês tiveram um filho! Eu achei que eu tivesse mudado, que meu ciúme já não nos atrapalharia, mas eu morro de ciúme de você. Nós já vimos esse filme.

-Wendell, você, por acaso, em algum momento, pensou no que eu quero fazer? Você nem sabe se eu vou abrir essas mensagens e já está tirando conclusões baseadas no que está na sua cabeça.

Ele olhava para o chão sem coragem de olhar para ela.

-Eu só sei que meu peito está queimando de ciúme e não gosto de me sentir assim, pois sei que nós dois sairemos machucados.

-O que você quer então? - questionou ela firmemente, embora estivesse com o coração partido.

-Na verdade, nesse momento, eu quero ir embora.

-Tem certeza, Wendell? Tem certeza mesmo que é assim que você quer resolver essa situação? - disse ela com a voz embargada.

Ela já estava em pé, ajeitando a camiseta e dirigindo-se até a porta.

-Desculpa te fazer chorar. Eu, realmente, não queria nada disso, mas é que você ainda tem um poder muito forte sobre mim. Percebi que posso não estar pronto para ser o cara equilibrado que você precisa- disse ele já na porta.

-Eu só preciso de você - disse ela, mas ele já havia saído.

Maraisa abraçou o travesseiro e começou a chorar descontroladamente. Sentia que, mais uma vez, sua vida desmoronava sob seus pés.

Depois da Tempestade Onde histórias criam vida. Descubra agora