Calmaria

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O vizinho passara a frequentar a casa todos os dias. Se ele não aparecia para o almoço, estava lá na hora do jantar.

Maiara até brincava:
-Eh, Maraisa, o homem está de quatro por você!

-Cuida da sua vida! - respondia ela irritada.

Eles passavam o tempo ouvindo música,
conversando ou vendo lives.

Maraisa sentia-se bem ao lado dele. Ele tinha um certo charme e era romântico.

Estava presa em casa e, naquele momento, Fabrício proporcionava a ela dias mais interessantes.

Quando ele demorava a aparecer, ela mandava mensagem perguntando o porquê da demora.

Pouco a pouco ela foi percebendo que sentia falta dele. Aquela amizade havia se tornado algo mais.

Era um dia como todos os outros, Maraisa e Fabrício estavam conversando na varanda.

Maiara tinha ido deitar-se mais cedo e Paulinha tinha tirado o dia de folga.

Maraisa abriu um vinho e eles estavam empolgados discutindo quem tinha o melhor gosto musical.

De repente, Fabrício chegou mais perto e disse:
-Eu vou descobrir quem tem o melhor gosto musical, quer ver?

Nem deu tempo de ela responder e ele lhe deu um beijo. No começo, ela quis recuar, mas depois rendeu-se.

O peito queimava e ela não sabia se era por causa do vinho ou porque estava apaixonada.

No fundo, ela desejava aquele beijo.

Quando ele afastou-se, ela não hesitou, agarrou-o pelo pescoço e os beijos pareciam intermináveis.

-Dorme aqui essa noite-sussurrou ela mordendo a orelha dele.

-Se eu dormir aqui com você, não vou mais embora.

Ela sorriu e pegou-o pelas mãos em direção ao seu quarto.

Foi uma noite de amor e prazer intenso. Há muito tempo, Maraisa não se sentia tão "mulher".

Ela se entregou a ele de corpo e alma.
Solidão da pandemia? Talvez, quem sabe. O fato é que, naquela hora, era o que ela precisava: um companheiro, um parceiro, um amigo, um amor. Fabrício parecia ser tudo aquilo.

No outro dia, os dois desceram as escadas de mãos dadas e Maraisa já esperava as gracinhas da Maiara.

Não demorou muito, Maiara começou a rir da cara deles.

Maraisa só revirou os olhos.

-Bom dia, cunhado!

-Bom dia!

Maraisa olhava para Maiara esperando que ela fizesse mais alguma gracinha, mas em vez disso o que ouviu foi:
-Cuida da minha metade, ouviu? Se você fizer minha irmã sofrer, eu juro que não perdoo.

Maraisa deu um sorriso e foi abraçar sua metade:
-Aiii, Maiara- disse ela toda carinhosa.

Tomaram café da manhã juntos e depois daquele dia, ele nunca mais foi embora.

Os dois passaram a dividir dias tranquilos e divertidos durante a pandemia. Fabrício sempre comprava rosas vermelhas para ela e trazia muitos doces.

-Você está me mimando demais- dizia ela sorrindo.

Ele sempre dava um jeitinho de agradar a família. Levava um presentinho para sogra, um vinho para o sogro, perfumes  para Maiara e uniformes do Corinthians para o cunhado.

A família toda já gostava dele. O importante era que ele também havia conquistado o coração dela.

Já fazia sete meses que Fabrício se mudara para a casa de Maraisa. Tudo ia muito bem.

Até que uma manhã, Maraisa acordou com fortes dores de cabeça. Não se levantou para tomar café.

Fabrício tinha saído cedo para resolver umas questões com seu sócio.

Maiara estranhou o sumiço da irmã e resolveu ver o que estava acontecendo.

Nem precisou bater à porta, Fabrício tinha deixado a porta aberta pensando que Maraisa logo se levantaria.

-Acorda, dorminhoca- Maiara deitou do lado da irmã lhe dando um beijo na bochecha.

Maraisa não respondeu, só puxou a mão da irmã para cima do seu corpo e ficou ali quietinha.

-Irmã, você não vai se levantar? Vamos tomar café e entrar na piscina. Chamei a Marília e o Murilo. Léozinho vem também. Todo mundo já foi testado.

-Estou com muita dor de cabeça. Não sei se é uma boa eles virem aqui, Maiara. E se eu estiver com Covid?

-Você fez teste essa semana e deu negativo, lembra?

-É, mas e se eu peguei esses dias?

-Ô, irmã, vamos! Primeira vez que a Marília vai vir aqui por causa dessa pandemia. A gente vai poder mimar o Léo. Vamos!

Maiara ia falando e Maraisa sentia como se estivessem dando pancadas em sua cabeça.

-Vem, irmã! Tá um calorzão! Marília vai querer te ver!

Tudo começou a rodar e a dor aumentava.
Maiara levantou-se e abriu a gaveta.

-Põe esse biquíni vermelho aqui! Fica bem em você.

Maraisa sentia-se nauseada.

-Hein, Maraisa, responde.

Maraisa levantou-se correndo e não teve tempo de chegar ao vaso sanitário. Vomitou na pia.

-Irmã, o que foi? O que você está sentindo? Quer que eu chame um médico?

Maraisa não tinha tempo de responder. As náuseas vinham cada vez mais fortes.

Maiara segurava o cabelo da irmã para que não sujasse na pia.

Maraisa levantou a cabeça para ver se a náusea e a tontura tinham melhorado.

-Irmã, você está pálida!! Não é melhor você se deitar?

Ela assentiu com a cabeça.

Maiara ajudou a irmã chegar até a cama.

-Será que foi alguma coisa que você comeu?

Não deu tempo de Maraisa responder. Saiu correndo em direção ao banheiro.

Ela nunca havia vomitado tanto. Sentia-se tonta e sem forças.

-Fica quietinha aí, irmã! Vou ligar para um médico.

-Não precisa, foi alguma coisa que eu comi.

-Se você vomitar mais uma vez, eu chamo o médico.

-Tá bom. Agora deixa eu ficar quietinha. Acho que vou tentar dormir.

Maiara deu um beijo na bochecha da irmã e desceu preocupada.

Depois da Tempestade Onde histórias criam vida. Descubra agora