Internação

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Assim que entrou no carro, Maiara lembrou-se de checar seu celular. Havia cinco chamadas perdidas de Marília.

Resolveu fazer uma chamada de vídeo para a amiga e contar o que estava acontecendo.

-Ô, Maiara, vocês sumiram!! Liguei no seu celular, no da Maraisa e ninguém atendeu.

-Marília, desculpa! O dia foi corrido. Maraisa fez os exames, levamos para o médico ver e ela está a caminho do hospital. Estou indo para casa preparar uma mala com itens pessoais para ela.

-Conta isso direito, Maiara! - disse a loira preocupada.

-Ela fez exame de sangue e de urina e deu mesmo aquela condição rara que algumas grávidas têm. Só não lembro o nome para te falar agora. É um nome estranho... hiperê...não sei o quê. Mas é por causa disso que a Maraisa estava tão enjoada e vomitando. Como ela não consegue comer, o médico resolveu interná-la para colocar soro.
Assim o bebê e ela não correm risco.

-Nossa, Maiara! Depois vou tentar falar com ela.

-Isso, Lila! Liga pra ela.

-Tá bom, então, nanica! Está mais tarde. Beijo.

-Até. Beijo!

Ao chegarem em casa, Maiara subiu e começou a separar as coisas de sua irmã. Pegou uns quatro pijamas Potiguar, escova de dente, pasta, escova de cabelo, um par de óculos e alguns livros.

Enquanto isso, Fabrício, Almira e Maraisa chegaram ao hospital.

Fabrício apresentou a carta de internação e os documentos da companheira na recepção e, logo em seguida, a atendente chamou uma enfermeira.

Maraisa foi colocada em uma cadeira de rodas.
-Vou levá-la para seu quarto- disse a enfermeira gentilmente.

Fabrício e Almira foram avisados que, por causa da pandemia, o hospital não permitia acompanhantes. Era para segurança de todos.

Maraisa sentiu-se angustiada  e desamparada por ter que ficar sozinha no hospital.

-Mãe, queria que você ficasse comigo.

-Eu também queria ficar, meu amor! Mas eu te ligarei todos os dias-disse Almira fazendo carinho nos cabelos da filha.

Fabrício aproximou-se para despedir-se dela:
-Vou morrer de saudade de você e desse bebezinho aqui -disse colocando a mão na barriga dela.

-Também vou -respondeu Maraisa enxugando algumas lágrimas que insistiam em cair.

-Liguem para mim. Mãe, peça para a Maiara me ligar.

A enfermeira sumiu pelo corredor levando Maraisa.

Almira deixou avisado na recepção que Maiara traria a mala da irmã. A recepcionista disse que ela não precisaria se preocupar que a mala seria levada ao quarto, assim que chegasse.

Fabrício e a Almira dirigiram-se para casa.

Já no quarto, a enfermeira entregou uma roupa para Maraisa.
-Enquanto suas coisas não chegam, tome um banho e coloque essa roupa. É uma roupa esterilizada. Um dos cuidados que tomamos por causa da pandemia.

Maraisa assentiu.

-Você gostaria que eu te ajudasse no banho? -perguntou a enfermeira.

-Acho que não precisa.

-Estarei aqui fora, se precisar me chame.

-Obrigada.

Na verdade, Maraisa estava envergonhada. Queria muito que sua mãe ou irmã estivessem com ela. Elas a ajudariam durante o banho. Suspirou fundo.

Começou a despir-se devagar e entrou no chuveiro. Queria tomar um banho rápido, pois estava com medo de sentir-se mal. Afinal, ela estava sem comer há dois dias.

Ligou o chuveiro e procurou apoiar-se na parede para não correr nenhum risco.

Quando estava terminando, Maraisa sentiu uma vertigem. Sentou-se no vaso sanitário na esperança de que aquela sensação passasse logo. Começou a perceber que sua vista estava escurecendo e que iria perder os sentidos, chamou a enfermeira. Depois disso, não viu mais  nada.

A enfermeira entrou depressa e enrolou uma toalha sobre o corpo de Maraisa, colocou-a na cadeira de rodas e levou-a para cama.

Depois de alguns minutos, Maraisa começou a voltar do desmaio. Percebeu que estava enrolada em uma toalha.

-O que aconteceu? Eu caí? Machucou o bebê?- perguntou meio chorosa.

-Não. Fique calma. Quando eu entrei no banheiro, você estava sentada no vaso e encostada na parede.

Maraisa ficou um pouco aliviada.

-Vamos colocar um pijama? Sua mala já chegou. Quer escolher algum?

-O rosa está aí?

-Está, sim.

A enfermeira passou uma calcinha e o pijama para Maraisa. Dessa vez não teve jeito, ela teve que aceitar ajuda. A enfermeira terminou de vesti-la e começou a explicar os procedimentos:
-O doutor prescreveu soro com substâncias e nutrientes para reidratação. Você ficará em jejum total. Amanhã cedo ele passará para te ver. Vou pegar sua veia agora, tá bom?

-Mas minha boca está muito seca-reclamou ela.

-Você não pode ingerir nada. O que eu posso fazer é mais tarde passar gelo em seus lábios para dar um certo alívio.

Maraisa concordou.

Após alguns minutos, Maraisa já estava recebendo os nutrientes.

-Você poderia deixar meu celular aqui perto?- perguntou Maraisa.

A enfermeira levou o celular até ela e antes de sair, avisou que, se ela precisasse de qualquer coisa, era só apertar o botão.

Maraisa fechou os olhos. Sentia-se sozinha.

De repente, seu celular vibrou. Era Marília. Ela atendeu rapidamente.

-Tá "loko" hein, Maraisa?! Você não atende o telefone mesmo! -disse a loira tentando animar a amiga.

-Oi, Marília. Eu não atendi porque não podia.

-Eu sei, amiga! Maiara me contou. E aí, como você está?

-Estou no soro! Um pouco fraca e com mal-estar.

-Passaram os enjoos?

-Não! Você acredita? Mesmo sem comer nada, meu estômago fica dando voltas.

-Que coisa, moço! Não te deram remédio, não?

-Por enquanto só soro e jejum. Amanhã o médico vem me ver.

-Ô, amiga, melhora logo, viu? Te amo!

-Também te amo, amiga!

-Beijo.

-Beijo, Marília.

Maraisa colocou o celular na mesinha ao seu lado. Sentia seus olhos pesados. Aos poucos, um pouco da fraqueza foi melhorando.

Sentiu o corpo amolecendo e o sono chegando. Adormeceu.

Na mesinha, o celular começou a vibrar. Era Maiara.

Em casa, Maiara tentava entrar em contato com a irmã. Maraisa não atendeu.

-Mãe, a Maraisa não atende! Será que ela tá bem?

-Deve estar dormindo, meu anjo!

-Não, mãe! Ela não iria dormir sem me ligar ou sem esperar minha ligação! E se ela estiver passando mal? E se ela estiver precisando de mim?

-Calma, filha! Sua irmã está no lugar certo e será bem cuidada. Por que você não tenta dormir?

Maiara respirou fundo e foi para o seu quarto. Seria a primeira noite que dormiria sem falar com sua metade...

Depois da Tempestade Onde histórias criam vida. Descubra agora