Decisão

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Maraisa sentou-se na cama e estava decidida:
não ficaria mais ali.

-Ligue para o doutor Flávio, por favor. Diga para ele que estou indo para casa.

-O que aconteceu? Você não pode sair assim- disse a enfermeira aparentando espanto.

Enquanto isso, Maraisa já estava ligando para a irmã. Maiara atendeu preocupada:
-Irmã, o que aconteceu?

-Maiara, converse com o Fabrício e venham me buscar agora.

-Você já teve alta? Não ia passar mais uns dias aí?

-Não tive alta. Maiara, faz o que estou te pedindo. E venham agora à noite, assim não corro risco de ser vista.

-Maraisa, não é arriscado para você e para o bebê? Acho perigoso...

-Se vocês não vierem, pegarei um táxi.

-Tá bom, irmã! Já vou falar com o Fabrício e estamos indo.

A enfermeira tentava falar com o doutor, mas sem sucesso.
-Eu não posso deixá-la sair assim. Você está no meio do tratamento. Vai atrapalhar toda sua evolução.

Maraisa ajeitava suas coisas.

-Eu faço o que for preciso, mas não ficarei aqui.

-Eu estou tentando falar com seu médico.
Aguarde, pelo menos, até que eu consiga localizá-lo.

Maraisa parecia não ouvir. Dobrava seus pijamas, guardou seu livro, foi ajeitando suas coisas na mala.

O doutor Flávio foi localizado e informado da situação. Pediu para que passassem o celular para Maraisa.
-Maraisa, o que aconteceu? Por que você quer deixar o hospital?-indagou o médico.

-Alguém vazou a informação de que estou internada e como estou passando. Só pode ter sido alguém que trabalha aqui. Doutor, eu vou embora. Contratarei alguém e continuarei esse tratamento em casa.

-Você terá que assinar um termo de responsabilidade. Ao sair, você será responsável pelos riscos que está correndo.

-Doutor, estou muito nervosa agora. Eu assino o que for preciso, só quero ir para casa. Prometo que continuarei o tratamento lá. Inclusive, o senhor pode me indicar alguém de confiança e que siga suas orientações.

-Não posso obrigá-la a ficar internada, Maraisa. Só lembre-se de que você precisa se cuidar para que essa gravidez evolua bem. Eu passarei na sua casa amanhã e a gente vê o que pode ser feito.

-Obrigada, doutor.

Nesse momento, Almira também ligou tentando convencer a filha a ficar no hospital o quanto fosse preciso. Não teve jeito.

Maraisa prometeu para a mãe que contrataria um enfermeiro para ajudá-la. Almira conhecia a teimosia da filha. Ninguém iria conseguir fazê-la mudar de ideia.

Ao desligar o celular, ela virou-se para enfermeira e pediu o tal termo de responsabilidade.

Depois de meia hora, a enfermeira voltou com o documento. Maraisa preencheu tudo e foi avisada de que sua irmã a esperava na recepção.
Antes de sair, a enfermeira entregou uma lista com a dieta que ela deveria seguir.
-Aqui está a dieta que seguiríamos. O doutor vai vê-la amanhã, mas você já pode ir organizando as suas refeições.
A receita dizia o seguinte:
Alimentação fracionada em pequenas porções, em torno de 6 refeições/dia.
Realizar lanches assim que levantar pela manhã ou durante a noite podem ajudar, sugerindo-se bolachas salgadas.
Preferir comidas sólidas e geladas, principalmente pela manhã.
Verificar quais alimentos são melhor tolerados e priorizá-los, organizando sua dieta. Evitar café, pimenta, alimentos gordurosos, ácidos ou muito doces.
Preferir refeições salgadas, secas, com alto teor proteico, pouco gordurosas e com baixo teor de fibras. Sugestões: nozes, biscoitos, torradas, cereais, ovo, tofu, legumes, frutas, carne magra.
Evitar consumo de líquidos durante a refeição, tentando intervalo de pelo menos 30 minutos até a ingestão de líquidos. Líquidos são melhor tolerados se gelados e em pequenas quantidades.

Ela pegou o papel e jogou dentro da mala.

Maraisa foi colocada em uma cadeira de rodas e levada até o local onde Maiara e Fabrício a esperavam.

Ao vê-la, Maiara saiu correndo e agarrou-se no pescoço dela e encheu-a de beijos.
-Minha Malaisa!

-Maiara...-disse a morena com a voz embargada.

Fabrício veio até elas e ajudou Maraisa a se levantar.
-Oi, amor! Você está ainda mais bonita!-disse ele dando um selinho nela.

Maraisa apenas deu um leve sorriso.

No caminho do hospital até sua casa, Maraisa pouco falou. Queria chegar logo, deitar-se em sua cama e esquecer aquele pedaço da sua vida. Ela desejava dormir, acordar e descobrir que tudo aquilo não passara de um pesadelo.

Ao chegar, Almira e César a esperavam. Foi uma chuva de abraços e beijos. Ela tentava mostrar que estava mais animada e forte para não preocupar seus pais, no entanto ela estava destroçada por dentro. Tinha que pensar como iria driblar a imprensa, além disso, saíra do hospital arriscando pôr tudo a perder.

Pediu licença para todos, subiu para tomar um banho e jogou-se na cama.

Nem acabara de deitar-se e Maiara entrou.
-Irmã, vamos conversar?

-Maiara, eu não quero hoje, por favor.

-Maraisa, faz mal ser tão fechada assim.

Maraisa revirou os olhos.

-Você não precisa comer, não? -perguntou a ruiva.

-Preciso, Maiara, preciso. Mas vou esperar o doutor amanhã. Eles até me deram uma dieta para seguir, mas tenho medo de ter enjoos sem tomar medicação.

-Ê, Maraisa. Você é muito teimosa.

Maraisa deu de ombros. Olhou de lado para a irmã e percebeu que ela estava chateada.

-Tá bom, Maiara! Eu como! Pega a receita e vamos ver se tem algo que me agrade.

Maiara pegou a folha e começou a ler:
-Credo, irmã! Isso é comida?? Parece coisa de doente!

Maraisa quis chorar.

-Desculpa, irmã! Eu imagino o que você está passando- disse a ruiva.

-Me traz um biscoito água e sal.

-Um??? Só um???

-É e anda logo antes que eu desista.

Maraisa comeu o biscoito. Depois de meia hora tomou metade de um copo de suco e sentiu-se cheia.

-Amanhã, eu tento comer mais. Prometo.

Naquela noite, ela dormiu cedo, Fabrício dormiu com ela e a noite foi tranquila.

No dia seguinte, o médico passou para vê-la. Indicou um nutricionista e um enfermeiro que trabalhariam vinte e quatro horas em sua residência, até o final da gravidez. Recomendou a visita regular da psicóloga, deixou todas as prescrições e recomendou que ligassem para ele regularmente.

Os dias foram passando sem maiores problemas. Alguns dias, Maraisa comia e sentia-se bem, em outros, passava o dia todo enjoada ou vomitando.
Era tudo imprevisível. Ela podia estar ótima no dia anterior, acordar bem e, de repente, os enjoos começavam e nada parava no seu estômago. Às vezes, o remédio ajudava, outras vezes, não fazia nenhum efeito.

Os sites de fofoca continuam a comentar sobre a situação dela, sobre seu sumiço e invadindo sua vida. Questionavam até o fato de ela não ter anunciado a gravidez oficialmente. No entanto, ela estava tendo todo o apoio necessário para passar por aquele momento de turbulência. No momento certo, ela falaria com a imprensa e com os seus fãs.

Duas semanas passaram-se, a gravidez foi evoluindo relativamente bem e já dava para notar uma leve barriguinha.

Ela estava entrando na décima segunda semana e o doutor marcara uma ultrassonografia de rotina.

No noite anterior ao exame, Maraisa não dormiu. Rolou a noite toda na cama. Estava muito ansiosa. Se tudo desse certo, ela saberia o sexo do seu bebê no dia seguinte.

Depois da Tempestade Onde histórias criam vida. Descubra agora