Preciso Cuidar de Mim

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Um mês já havia se passado desde o acidente e Maraisa continuava dormindo e comendo muito mal. Tinha pesadelos constantes. Todos estavam muito preocupados com ela. Ela havia emagrecido bastante, andava irritada, calada e depressiva.

Almira insistia para que ela fosse a um médico, mas ela sempre se recusava.

Maiara continuava ficando na casa da irmã, já a mãe havia voltado a ficar em sua própria casa.

Era uma segunda-feira e o pessoal do escritório havia marcado uma reunião com a dupla. Elas estavam há algum tempo sem trabalhar, provavelmente, seriam cobradas para que voltassem a fazer shows. Maraisa avisou a irmã que não compareceria. Maiara insistiu um pouco, mas Maraisa não cedeu. Ela, raramente, saía de casa.

Assim que a sua gêmea saiu, Maraisa ligou para Marília e pediu para a que a amiga fosse até sua casa.

Depois de meia hora, a amiga chegou. Maraisa a esperava na sala. A loira tocou a campainha e a morena foi atender:
-Oi, Marília! Obrigada por ter vindo! - disse a morena abraçando a loira.

-Que é isso, amiga?! Tamo junto! Eu já iria passar daqui mais tarde hoje. Como é que você tá?

-Tô na mesma. Tem um vazio aqui dentro. Não vejo sentido em mais nada. Uma tristeza que não tem fim.

-Maraisa, saiba que eu estou aqui com você. Pode contar comigo.

Maraisa segurou as mãos da amiga, conduzia-a até o quarto de hóspedes e fechou a porta.
Sentou-se na cama e Marília sentou-se ao seu lado.
Maraisa parecia hesitar, Marília percebeu seu nervosismo:
-Maraisa, pode falar. Você sabe que pode me falar qualquer coisa.

-Amiga, eu aproveitei que a Maiara saiu porque não quero que ela saiba por enquanto.

-Você está me deixando preocupada. O que que foi?

-Eu vou deixar os palcos, Marília. Só não sei como dizer isso para minha irmã.

-Mas cantar é sua vida, amiga. Você se sente realizada nos palcos.

-Mas eu não tenho mais vontade de fazer shows. Na verdade, eu não tenho vontade de fazer nada.

-Ô, minha amiga, vem cá-disse a loira puxando a morena para um abraço.

-Eu tenho medo de falar minha decisão para a Maiara e acabar com o sonho dela. Mas sei que, como primeira voz, ela pode continuar a carreira normalmente.

-Acho que sua irmã vai ficar bem chateada, mas vai acabar entendendo.

Maraisa suspirou:
-Tem mais uma coisa...

-Pode falar, amiga.

-Eu decidi ir embora dessa casa. Tudo aqui me lembra meu filho. Eu não tenho mais condições de ficar. Eu vou deixar o Fabrício, mas não quero dizer nada para ele. Queria ir sem dar explicações. Você sabe que não sou boa com essas coisas.

-Amiga, você precisa conversar com ele. Dizer o que está sentindo. Ele merece uma explicação.

-Eu não quero conversar. Vou esperar um dia que ele não esteja em casa e vou embora só levando o essencial.

-Maraisa, a vida não é assim...

-Amiga, eu quero ir morar na fazenda. Quero ficar mais isolada. Talvez lá eu possa me sentir um pouco melhor.

-Mas o Fabrício tem que saber da sua decisão. Afinal, vocês ainda são um casal. Você não gosta mais dele? Acabou o amor?

-Amiga, eu não sei. Eu olho para ele e lembro de tudo que aconteceu. É inevitável. Sei que a culpa não é dele, mas não consigo conviver mais com isso. Eu preciso de um tempo sozinha.

-Maraisa, sei que vou te dar conselho e você vai acabar fazendo tudo do seu jeito. Só toma cuidado para não se arrepender depois.

-Lila, só fica do meu lado, por favor.

-Eu tô do seu lado, amiga. Sempre estarei. Pode contar comigo com o que precisar.

-Obrigada, amiga.

-Maraisa, tenho que ir porque minha mãe vai sair e eu preciso ficar com o Léo.

-Obrigada por tudo, amiga. Dá um beijo no Léo e na Ruth.

-Serão dados.

Maraisa desceu as escadas acompanhando a amiga. Quando chegaram na porta, Maiara estava chegando:
-Lila, que bom que você está aqui! -disse a ruiva abrindo um sorriso.

-Oi, minha nanica! Já estou indo embora.

-Já? Agora que cheguei?! - disse a ruiva fazendo bico.

-Eu volto amanhã, tá bom? -disse a loira dando um beijo na ruiva e um na morena.

-Tchau, amiga! - disseram as duas juntinhas.

Maraisa já ia subindo as escadas, quando Maiara chamou-a:
-Irmã, a gente precisa conversar.

-Que foi, Maiara?

-Vamos subir e a gente conversa.

Entraram no quarto de hóspedes e Maraisa jogou-se na cama. Maiara deitou-se ao lado dela e começou a fazer carinho nos cabelos da irmã:
-Irmã, o pessoal do escritório disse que estamos paradas há algum tempo e que tem vários contratantes reclamando. Eles já haviam vendido vários shows...

Maraisa não respondeu.

-Tem shows marcados-continuou a ruiva- a gente precisa cumprir a agenda.

Maraisa olhou para a irmã com um olhar de tristeza:
-Maiara...-ela hesitou.

-Que foi, Maraisa? Tá tudo bem?

-Eu...eu não vou mais fazer shows- disse a morena com os olhos fixos no chão.

Maiara parecia não acreditar nas palavras da irmã:
-Não entendi...

-Eu não posso mais estar nos palcos. Eu não tenho mais nada para oferecer ao público. Eu não quero estar sob holofotes. Não quero ter minha vida exposta. Quero viver uma vida mais normal possível.

-Mas, irmã, nosso sonho era cantar por todo Brasil. Deus me deu o privilégio de cantar e cantar com você.

-Desculpa, Maiara. Essa é a minha decisão...

-O que eu vou fazer sem você, Maraisa?

-Irmã, você tem uma voz única e maravilhosa. Você não precisa de mim.

-Nunca mais repita isso, Maraisa. Eu preciso de você. Você é minha metade. Nossas vozes são gêmeas. Não me vejo sozinha em um palco. Não imagino como é cantar sem ouvir sua voz no ponto-agora era a ruiva que chorava.

Maraisa aproximou-se da irmã:
-Eu preciso cuidar de mim. Preciso que essa ferida aberta seja cicatrizada. E isso não vai acontecer se eu fingir que está tudo bem e voltar para vida que eu tinha antes. Eu preciso colocar meus sentimentos no lugar. Quem sabe com o tempo, eu mude de ideia.

-Você precisa procurar um médico e também fazer terapia, irmã. Vai te ajudar bastante.

-Eu vou ao médico, se isso for deixar vocês mais tranquilos.

-Irmã, não é por nós que você tem que ir. É pelo seu bem.

-Eu sei que todos querem meu bem, Maiara. Eu sei...mas ninguém pode me dar o que eu quero. Estou me apegando a Deus e esperando que Ele venha me socorrer.

-Ele virá, irmã. Ele virá...

-Maiara, marca uma reunião com o pessoal do escritório. Eu quero falar com eles.

Depois da Tempestade Onde histórias criam vida. Descubra agora