Você Continua Meiga e Muito Linda

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Maraisa saiu do quarto sentindo-se muito nervosa, insegura e com um pouco de medo. Pavor ela diria. Chamou o elevador e encostou-se na parede. Sentia o chão sumir debaixo dos seus pés, estava com um pouco vertigem e sentia seu estômago dar nós. Respirou fundo e lentamente para tentar controlar todo aquele excesso de emoções e sentimentos. Era preciso manter a calma.

Finalmente, o elevador parou no andar em que ela estava. Subiu e apertou o botão. Começou a suar frio. Logo estaria na recepção e ele já estava lá esperando por ela. Sentiu um impulso forte de voltar para o quarto, mas bem nesse momento o elevador parou no térreo.

Tomou coragem e desceu, deu alguns passos e avistou Wendell. Ele estava de costas, usava uma calça jeans, uma camiseta preta e um boné preto. Foi andando devagar em direção a ele, quando, de repente, ele virou-se:
-Não vi que você já tinha chegado! -disse ele com o melhor dos sorrisos fazendo menção de dar-lhe um beijo na bochecha.

-Eu...eu acabei de chegar- disse ela esquivando-se do beijo.

-Vamos, então?

-Vamos.

Eles caminharam em direção à saída. O carro encontrava-se bem perto dali no estacionamento. Quando chegaram ao carro, Wendell apressou-se para abrir a porta para Maraisa. Ela entrou agradecendo-o fazendo um sinal com a cabeça.
Ele deu a volta, entrou no carro, colocou uma música e deu partida.
O perfume dele preencheu todo o ambiente.
Perfume que ela amava e tantas vezes o presenteara.

Maraisa sentia-se um pouco desconfortável  e incomodada; Wendell, percebendo a situação, começou a puxar assunto:
-Então, até quando vocês ficam por aqui?

-Até domingo.

-Uma semaninha de folga, hein?

-Pois é...

-Está muito frio o ar?

-Está bom assim. Pode deixar.

-Quer que eu troque a música?

-Não precisa.

Ele dirigia e, de vez em quando, lançava olhares furtivos para ela. Ela, por sua vez, fingia que não estava prestando atenção nele. Olhava para o teto , pela janela e, às vezes, fechava os olhos.

Por mais que ela tentasse disfarçar, ele percebera que ela estava visivelmente perturbada com aquela situação:
-Maraisa, não precisa ficar nervosa...

-Quem disse que eu tô?

-E precisa falar? Fica tranquila! Relaxa. Sou eu.

Era exatamente esse o problema: era ele. O homem que ela tanto amara, com quem fizera tantos planos de construir uma vida, casar-se, ter filhos e envelhecerem juntos. Agora ele era apenas um fantasma do seu passado que estava assombrando o seu presente.

Ela deu um sorriso meio sem graça.

Após alguns minutos, Wendell estacionou o carro em frente a sua casa:
-Espero que você não se importe de vir até minha casa. Orlando está sempre cheia de brasileiros e aqui podemos ter mais privacidade. Não quero que você corra o risco de ser fotografada comigo e que surjam boatos que possam afetar ainda mais a sua vida.

-Tá tudo bem-disse ela descendo do carro.

Wendell abriu a porta de sua bela residência e os dois entraram. Passaram pela sala e ele a conduziu até a área de lazer.
Ele havia mandado preparar uma mesa com alguns petiscos e bebida para os dois.

Passou rapidamente por trás da mesa e puxou a cadeira para ela:
-Sente-se, por favor.

Ela sentou-se e procurou focar o olhar e sua atenção em qualquer outro lugar que não fosse ele.

Ele deu a volta na mesa, abriu um vinho e começou a encher uma taça.
Maraisa apressou-se, antes que ele lhe entregasse a taça, avisou:
-Eu não vou beber, desculpa.

-Parou de beber?

-Wendell, tanta coisa mudou na minha vida...

-Por isso te chamei aqui. Quero saber de você. Eu queria ter te ligado, quando tudo aconteceu, mas não achei que seria apropriado. Você estava praticamente casada. Faz pouco tempo que eu soube que você estava sozinha e eu esperava uma oportunidade de te ver. Quando o Jorge me avisou que você estava vindo pra cá, eu fiquei muito feliz.

-Eu não tenho nada a ver com essa história do Jorge. Quem aprontou comigo foi a Maiara. Se fosse por mim, você não saberia que nós estávamos aqui.

-Você tem tanta mágoa assim de mim?-questionou ele passando a mão pelo queixo.

-Não me leve a mal, aconteceu muita coisa na minha vida e encontrar você agora não estava nos meus planos.

-Eu sinto muito pelo seu filho-disse ele segurando as mãos dela.

Nesse momento, ela começou a chorar:
-Ai, eu não queria chorar...

Ele chegou mais perto dela, abriu os braços e ofereceu seu ombro. Ela aconchegou-se naquele abraço:
-Dói demais você perder um pedaço seu. É uma dor horrível. Eu não sei se consigo viver com isso-disse ela em meio às lágrimas que insistiam em rolar.

Ele acariciava o cabelo dela:
-Pode contar comigo. Estou aqui. Pode chorar, pode gritar, se quiser. Sou eu, Maraisa.

Por um momento, ele deixou-se ficar ali segura naqueles braços fortes.
-Maraisa, eu sei que a dor que você está sentindo é terrível. Sei que nada, nem ninguém pode apagar o que aconteceu. Eu só queria te dizer que estou do seu lado. Afinal, tivemos uma linda história juntos.

-Obrigada, Wendell.

-Eu gosto de você de verdade. Sei que nossa história não terminou muito bem, mas você sempre está e estará no meu coração.

Ela ficou em silêncio.

-Quero que você seja feliz de verdade-continuou ele.

Ela esboçou um leve sorriso, saindo quase que automaticamente do abraço dele.

Ele ficou um tempo olhando para ela e, por fim, falou:
-Você continua meiga e muito linda.

Ela ficou envergonhada e seu rosto ficou corado. Sentiu que todo o sangue do corpo concentrava-se nas maçãs do seu rosto:
-Cuidado, Wendell. Eu já me machuquei demais. Não brinca comigo.

-Quem disse que estou brincando?

Ela sentia que seu coração ia sair pela boca.

-Você sabe o quão fomos felizes e que somos perfeitos um para o outro- ele foi aproximando-se dela.

-Água...eu queria água-disse ela afastando-se dele.

-Vou buscar água para você.

Maraisa sentiu um alívio vendo Wendell afastar-se. Não sabia distinguir o que estava sentindo: se era medo, insegurança, angústia, tentação ou...seria amor.

Encontrar com ele a sós havia despertado os mais diversos sentimentos dentro dela. Sentimentos que ela ainda não sabia se eram bem-vindos ou não.

Ele voltou trazendo algumas garrafinhas de água mineral. Ela pegou uma garrafinha e tomou tudo de uma vez.

-Nossa, você estava mesmo com sede, hein?

-Está fazendo muito calor...

Ele abriu uma garrafa de água e tomou um gole:
-Come alguma coisa-disse ele gentilmente.

-Obrigada.

Ela estava tão nervosa que tinha medo de comer e passar mal.

-Posso chegar mais perto? -perguntou ele com um sorriso irresistível.

-Pode-disse ela abaixando os olhos.

Wendell puxou sua cadeira ainda mais perto dela. Passou a acariciar os cabelos dela e segurou em suas mãos:
-Que mãos geladas!

Ela ia responder que era culpa do remédio, mas não deu tempo, Wendell chegou até seus lábios e lhe deu um beijo que, no começo, ela pensou em não retribuir, mas deixou-se levar pelo momento e o beijo veio fácil e gostoso.

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