Depois da Tempestade

Quando a Noite Vem

Wendell dirigia impacientemente até sua casa. Dessa vez, o caminho parecia mais longo do que realmente era. Queria chegar o quanto antes e resolver de vez aquele problema com o tal site de fofoca. Não conseguia prestar atenção no trânsito e, por mais de uma vez, quase avançou um sinal vermelho.

Fez todo o trajeto em menos de vinte minutos. Deixou seu carro na garagem e entrou em casa mostrando alguma inquietação.

Procurou o nome do tal jornalista em seus contatos e fez uma ligação:
-Alô-disse a voz do outro lado.

-Alô! Quem fala é Wendell Vieira. Empresário e namorado da Maraisa. Eu gostaria de trocar umas palavrinhas com você.

-Se for por causa da notícia, queria te esclarecer que...

Wendell o interrompeu irritado:
-É claro que é por causa daquela notícia maldosa. Você não tem noção do quão mal você faz às pessoas, cara! -Wendell deu um soco na mesa.

-Eu...eu estava fazendo o meu trabalho.

-Trabalho? Machucar os outros é seu trabalho. Você leu a legenda que você colocou na foto? Se deu ao trabalho de pensar que aquilo machucaria demais uma pessoa que já está machucada? Você gosta de bater em quem já está no chão, né? Um dia vai achar o seu.

-Desculpa, eu...

-Eu quero sim um pedido de desculpas, mas em forma de notícia, tá me ouvindo? Anota aí o que você vai escrever e quero que saia ainda hoje no seu sitezinho e no seu Instagram. Entendeu? -a voz dele era firme, quase que grosseira.

-Entendi, sim. Pode falar- a voz do jornalista mostrava certo receio.

-Você vai colocar assim: "Maraisa vem lutando contra uma depressão severa, depois da morte do seu filho, e, conta, agora, com a companhia e a ajuda de um antigo amor". Me entendeu?

-Sim.

-Depois você vai escrever a matéria falando dos momentos terríveis que ela vem passando, inclusive das várias crises de ansiedade que ela tem e, no final, você vai dizer que você deseja que ela se recupere logo e seja feliz com seu namorado. Entendeu??

-Entendido.

-Eu quero ver a matéria ainda hoje. No máximo, até amanhã.

-Eu escreverei. Fica tranquilo.

-Espero que você não nos dê mais problemas.

-Eu não publicarei mais nada.

-Espero que não mesmo- disse Wendell desligando o celular irritado.

Muito nervoso, ele largou o celular na sala e foi até o quarto tomar um banho, pois seu corpo cheirava maionese.

Saiu do banho usando um roupão e deitou-se na cama. Ligou a TV a procura de algo que o interessasse, mas seu pensamento estava longe. Não conseguia parar de pensar na sua baixinha. Saber que ela tinha passado por uma crise de ansiedade por causa de fofocas fazia com que ele tivesse impulso de bater no jornalista. Tinha passado parte da tarde disfarçando, tentando animar sua amada, mas a verdade era que ele estava muito nervoso com aquela situação. Se aquilo se repetisse, ele não responderia por si.

De repente, procurou seu celular e não o encontrou. Lembrou-se de que havia deixado-o na sala. Levantou-se e foi buscá-lo, pois queria ter notícias dela. Fazia tão pouco tempo que tinha deixado-a no hotel, mas já estava morrendo de preocupação e saudade. Vasculhou seu celular em busca de algum sinal de vida de Maraisa, mas ela não tinha mandado nada. Ficou intrigado sem saber o motivo de ela não ter mandado mensagem e nem ligado. Depois, tentou acalmar-se. Poderia ser que ela estivesse dormindo, mas ela dormira praticamente o dia todo; será que já tinha adormecido novamente?

Hesitou um pouco, até que mandou uma mensagem:

Pensando muito em você...

Esperou alguns minutos e nada de resposta. Aquilo estava deixando-o angustiado. Mandou outra mensagem:

Está tudo bem, amor? Manda notícias.

Nada de resposta. Ligou para o celular dela e ela não atendeu.

Já estava a ponto de pegar o carro e ir até o hotel para saber dela, quando lembrou-se de que ela atirara o celular contra a parede danificando totalmente o aparelho. Claro que ela não responderia, estava sem celular. Respirou um pouco aliviado por saber o motivo do sumiço de sua amada, mas sua saudade só aumentava.

Digitou e apagou, várias vezes, uma mensagem para Maiara perguntando sobre a gêmea dela.

Olhou o horário e chegou à conclusão de que as duas já deviam estar dormindo. Resolveu deixá-las tranquilas e tentar dormir também para estar bem disposto no dia seguinte e cuidar bem da sua pequena.

Rolou um pouco na cama, mas não demorou muito e ele acabou dormindo.

Enquanto isso, Maraisa rolava na cama sem conseguir pegar no sono. Apesar de ter passado o resto da tarde distraída com a companhia de Wendell e sentir-se bem, durante a noite aquela angústia voltara a apertar seu peito. Desejou com todas as forças que ele estivesse ali com ela para que ela pudesse esconder-se nos braços dele e descansar. Ultimamente, era o lugar onde ela mais sentia-se bem e segura.

Pensou em acordar sua irmã para não sentir-se tão sozinha, mas teve pena da ruiva, que dormia tão tranquilamente. Afinal, ninguém era obrigado a passar a noite em claro com ela.

Teve vontade de ligar para Wendell, mas, quando pegou seu celular, viu que ele não estava funcionando. "Droga"-pensou ela.

Já sabia que aquela noite seria mais uma das intermináveis noites de angústia, desespero e solidão que ela já tivera.

Virou-se de um lado, virou-se do outro e começou a ficar muito inquieta. Sentou-se na cama e ficou ali por alguns minutos; depois levantou-se e foi até a grande porta do outro lado do quarto que dava para uma sacada. Abriu-a e saiu para tomar um pouco de ar fresco.

O céu estava lindo, todo estrelado e a lua estava clara e enorme. Ela suspirou com saudade. Saudade do seu filho e saudade do homem que estava sendo para ela um porto seguro. Tinha saudade de ser feliz.

Estava ali olhando para o céu, quando sentiu uma mão no seu ombro. Virou-se rápido:
-Wendell?

-Não, irmã, sou eu -disse Maiara sonolenta.

-Ah, oi, metade.

-O que você está fazendo aqui essa hora acordada?

-Não consigo dormir. Fiquei rolando na cama. Estou angustiada, com saudade do meu filho. Sentindo falta do Wendell.

Maiara debruçou-se no ombro da irmã:
-Estou aqui com você, meu anjo- disse a ruiva carinhosamente.

-Eu sei, metade, eu sei.

-Tá linda a noite, né, Maraisa?

-Tá, sim...

-O que eu posso fazer para te ajudar a melhorar?

-Nada, irmã. Infelizmente, nada. Vamos entrar-disse a morena meio cabisbaixa.

A ruiva entrou primeiro e a morena ficou fechando a porta.

Maiara deitou-se e abraçou a irmã.

-O Wendell vai te fazer feliz.

-Espero que sim...

-Maraisa, eu queria ficar acordada com você, mas não consigo...

-Não tem problema. Dorme, irmã.

Maiara virou-se de lado, e, logo, acabou adormecendo.

Maraisa, ao contrário da irmã, ficou acordada com todos aqueles pensamentos girando na mente.