Você Precisa Reagir

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Depois de algumas sessões de terapia, Maraisa, finalmente, foi convencida pela terapeuta a tomar as vitaminas e o anti-depressivo. No entanto, deixou os ansiolíticos para serem usados em último caso.

Assim que começou a tomar o remédio, não se sentiu bem, os efeitos colaterais a incomodavam. Tinha vertigem, dor de cabeça e, às vezes, enjoo, mas a terapeuta insistiu para que ela persistisse por algum tempo, pois logo sentiria a melhora.

Ela começou a comer um pouco melhor, mas, mesmo tomando o anti-depressivo, sentia-se triste e não dormia muito bem.

As sessões continuavam três vezes por semana e Maraisa foi sentindo-se um pouco mais confiante em relação aos progressos.

Ela sentia-se em uma verdadeira montanha russa: alguns dias apresentava um pequena melhora, em outros, sentia toda aquela dor novamente e chorava descontroladamente.
Às vezes, ela conseguia distrair-se lendo ou vendo filme, em outras ocasiões, trancava-se no quarto e não saía da cama o dia inteiro.

Já fazia quatro meses que ela começara as sessões. A terapeuta sempre deixava claro e explicava para ela em qual estágio do luto ela encontrava em cada momento.

Maraisa já passara o estágio da negação, da raiva, barganha e estava, no momento, no mais difícil deles: a depressão.

A terapeuta fez uma reunião com a família porque, nessa fase, Maraisa precisaria, mais do que nunca, da presença e ajuda de todos. Explicou que durante esse estágio, Maraisa já acumulava sentimentos profundos de tristeza acompanhados de solidão e saudade. Estas emoções a debilitavam profundamente em aspecto físico e emocional. E enfatizou que a presença ativa das pessoas mais próximas seria essencial para evitar que o luto se tornasse uma depressão silenciosa.

No final da reunião, ela frisou que Maraisa deveria executar atividades para o bem pessoal e estar perto de pessoas que despertassem sentimentos positivos, assim esta fase passaria com menos carga e, logo, ela se aproximaria do próximo e último estágio: a aceitação.

Toda a família começou a envolver-se mais ativamente no tratamento dela.

Maiara, sempre que não tinha shows, ia para a fazenda fazer companhia para a irmã e chamava-a para andar a cavalo, nem sempre sua metade aceitava, mas Maiara não saía de perto da sua gêmea. Contava todos os detalhes de cada show: a reação do público na hora que ela cantava "Medo Bobo", os inúmeros cartazes com o nome da irmã, os gritos dos fãs dizendo que amavam Maraisa. Às vezes, Maiara colocava vídeos desses momentos para tentar animar a sua metade. Maraisa tentava mostrar interesse para não magoar a ruiva, mas nada daquilo realmente a interessava.

Marília era outra presença constante. Sempre que compunha algo novo ia mostrar para Maraisa e, mesmo que a morena não prestasse muita atenção, cantava para ela, mostrava as notas musicais, perguntava se ela havia gostado da nova música. Maraisa apenas assentia com a cabeça, meio distante do que a amiga dizia.

César levava a filha para dar voltas na fazenda e ver o gado. Conversava com ela sobre os animais e tentava animá-la.

Almira sempre cozinhava os pratos preferidos da filha e dava muito amor e carinho para Maraisa.

César Filho chamava a irmã para cantorias e contava histórias engraçadas para ela.

Maraisa esforçava-se para dar atenção a todos, mas, muitas vezes, ela estava ali só de corpo presente.

A terapeuta havia convencido Maraisa e envolver-se mais com as pessoas e era o que ela estava tentando fazer.

Lari também começou a frequentar a fazenda e tentava fazer graça para Maraisa rir. Enchia o saco dela porque ela não podia beber, já que tomava anti-depressivo.

Ela sempre dizia:
-Se você tomasse um copo de cachaça, já estaria melhor.

Maraisa tentava sorrir sem vontade.

E os dias foram passando...
Uma segunda-feira aconteceu de Maraisa ficar totalmente sozinha. Fora a primeira vez em cinco meses que ela viu-se sem ninguém por perto.

Maiara tinha sessão de fotos, Marília foi levar Léozinho ao médico, Almira saíra para comprar algumas frutas e César levara o carro de Maraisa para revisão.

A morena aproveitou esse raro momento de solidão e ligou para Rafael:
-Oi, Rafael, tudo bem?

-Tudo, patroa. E a patroa, tá bem?

-Vou indo. Você pode me pegar na fazenda?

-Posso, sim. Onde a patroa vai?

-Eu vou até a casa que eu morava com o Fabrício. Vou buscar minhas roupas. Faz tempo que a Maria me avisou que elas já estão nas malas.

-Vai sozinha, patroa.

-Vou, sim.

-Logo estarei aí.

-Obrigada, Rafael.

Maraisa desligou o celular e sentiu um frio na nuca. Uma sensação de medo apossou-se do corpo dela. Suas mãos suavam e ela começou a ficar trêmula. Seu estômago ficou revirado. Ela tinha dificuldade de respirar e começou a entrar em desespero. Era um início de uma crise de pânico. A lembrança do quartinho do filho veio como um flash na sua cabeça: o bercinho, os ursinhos de pelúcia, o cheirinho dele...

Não sabia como encontraria a casa, se Fabrício já se desfizera de tudo ou não. Ela havia mandado a ordem parque Maria doasse todas as coisas do pequeno, se a ordem havia sido cumprida, era outra história.

Teve vontade de ligar para Rafael e desistir.
"Você precisa resolver isso. Essa pendência pode estar te atrapalhando. Você tem que ser forte, Maraisa"- pensou ela.

Foi até o banheiro, passou água pelo rosto e na nuca, tentando controlar toda aquela ansiedade. Respirou fundo, tomou seu remédio, trocou de roupa e ficou esperando pelo motorista.

Depois da Tempestade Onde histórias criam vida. Descubra agora