Na noite anterior, Maraisa chegou ao aeroporto um pouco em cima da hora, pois havia muito trânsito durante trajeto entre o hotel e o local. Teve que despachar a mala rapidamente, passou pela inspeção, depois pela imigração e já saiu à procura do seu portão de embarque.
O portão não era tão longe de onde ela estava. Assim que encontrou-o, sentou-se ali por perto, tirou um boné da mochila e colocou-o na cabeça na esperança de não ser reconhecida.
Aproveitou para avisar Paulinha do horário de sua chegada em Goiânia e pediu para que ela avisasse Rafael para buscá-la. Mandou, também, uma mensagem para sua mãe avisando que estava voltando para o Brasil e que chegaria no dia seguinte à tarde. Depois, desligou o celular para não ter que responder perguntas ou receber mensagens desagradáveis.Depois de quinze minutos, o embarque começou. Paulinha havia conseguido um assento na primeira classe, claro que tivera que pagar uma taxa extra, mas, naquele momento, aquilo já não importava. Ela que sempre prezava por não gastar à toa, deu graças a Deus,dessa vez, por poder pagar essa tal taxa e voltar para casa ainda naquele dia.
Acomodou-se em seu assento e, por sorte, ninguém sentou-se ao seu lado. Assim, ela poderia ficar à vontade sem precisar disfarçar o que estava sentindo. O que para ela já fazia grande diferença naquele momento.
Sua cabeça fervilhava de pensamentos diversos. Por mais que quisesse, não conseguia deixar de reviver tudo o que acontecera naquele dia. Via o rosto de Wendell dizendo que ia embora, ouvia as palavras dele, que, para ela, foram ditas da maneira mais cruel possível. Lembrava-se dos dias anteriores, da promessa dele de ficar ao lado dela e ser o apoio que ela tanto precisava. Algumas lágrimas começaram a rolar pela face dela. Mais uma vez, ela sentia-se desamparada e deprimida. Ele não tinha o direito de fazer isso com ela. Ele despertara aquela paixão há muito tempo adormecida em seu coração e, de repente, sem tantas explicações, pedira para que ela esquecesse aquele amor.
"Como fui idiota"- disse em voz alta.
Não era novidade pra ninguém que eles, apesar de se amarem, não conseguiam se acertar e, no final, um acabava machucando o outro. A diferença era que agora ela fôra machucada em um momento de extrema fragilidade. Seu desejo era não vê-lo nunca mais. Aliás, ela estava decidida a fechar-se para o amor. Não poderia correr o risco de deixar alguém magoá-la mais uma vez.
Seus pensamentos pareciam que iam sufocá-la, sua cabeça estava começando a doer e uma possível crise de ansiedade já estava sendo desenhada. Um medo de ter uma crise presa dentro de um avião apoderou-se dela e, o que era pior: ela estava completamente sozinha.
Era preciso focar em alguma outra coisa. Em vão, ela tentou ler um livro, depois colocou os fones e escolheu um filme, mas nada a distraía.
Seu coração estava acelerado e começou a sentir um pouco de falta de ar. Tentou, sem sucesso, controlar a respiração, mas ela estava cada vez mais descontrolada. Não aguentou muito tempo e apertou o botão da sua poltrona e uma comissária de bordo sorridente veio atendê-la.
-Water -esforçou-se para falar a língua estrangeira.
-Anything else?
Maraisa não entendeu a pergunta e só fez um sinal negativo com a cabeça.
Recebeu uma garrafinha de água em seguida e apressou-se em tomar seu remédio.
Depois de alguns minutos, que para ela pareceram horas, o remédio começou a fazer efeito, ela ficou mais relaxada e um pouco sonolenta. Abriu o cobertor, pegou o travesseiro e acabou adormecendo.
Acordou pouco tempo depois com o barulho dos comissários trazendo o café da manhã. Ajeitou-se para receber o café: ovos mexidos, bacon, pão, um pedaço de bolo de chocolate, iogurte, manteiga, queijo, presunto e uma xícara de café. Ela olhou tudo aquilo e não tinha vontade nenhuma de comer, mas como tinha tomado o remédio com o estômago vazio, sentia que ele estava um pouco sensível. Comeu o pão com um pedaço de queijo e tomou a xícara de café. Deixou o resto de lado à espera que eles recolhessem tudo o mais rápido possível, pois queria voltar a dormir.
Logo depois de comer, arrependeu-se, pois nem bem os alimentos chegaram ao seu estômago e ela sentiu-se enjoada. Sabia que aquele enjoo tinha a ver com as frustrações daquele dia. A ansiedade sempre atacava seu estômago. Daí vinha o enjoo. Era como se esse órgão absorvesse tudo de ruim que acontecia com ela.
Finalmente, recolheram o resto do café e ela pôde ajeitar-se para dormir novamente. Conseguiu cochilar por algumas horas. Fôra um sono leve e com sonhos esquisitos.
Despertou definitivamente quando começaram a servir o almoço. Maraisa escolheu peixe em vez de carne e suco de laranja para acompanhar.
Sentia um pouco de fome, então comeu o peixe com batatas, um pouco de salada, mas deixou a sobremesa de lado.Não demorou muito e seu estômago começou a dar sinais. Primeiro, foi um leve enjoo, que foi intensificando-se e ela não tinha sequer um remédio para enjoo junto com ela. Acabara esquecendo a caixa de Vonau no hotel com Maiara. Segurou tanto quanto pôde, até que levantou-se e foi em direção ao banheiro. Teve que esperar um pouco, pois ele estava ocupado e ela teve a clara sensação de que vomitaria ali mesmo. Por sorte, a pessoa saiu e ela entrou apressada. Colocou pra fora tudo o que tinha acabado de comer. Era como se tivesse colocando pra fora toda tristeza, angústia e frustração que Wendell lhe causara no dia anterior.
Voltou para seu assento sentindo-se um pouco melhor e dormiu até a chegada em São Paulo. Ela teria uma conexão para Goiânia dentro de duas hora. Desceu rápido, pois o tempo era relativamente curto. Pegou suas malas, fez o novo check-in e foi direto para o portão de embarque.
Quando chegou, as pessoas já estavam começando a embarcar. Disfarçou-se ali no meio delas e embarcou. Só então foi que resolveu ligar o celular para dar uma olhada.
Havia várias mensagens da sua gêmea, da sua mãe, do Fabrício e uma do Wendell.
Ela mandou um áudio para sua metade e um para sua mãe dizendo que estava em São Paulo já dentro do avião e logo estaria a caminho de Goiânia.
Apagou as mensagens de Wendell e do Fabrício sem ler nenhuma delas e bloqueou os dois.
O voo para Goiânia fôra rápido e tranquilo.
Ao chegar, deparou-se com Rafael a sua espera. Não conteve a felicidade de ver um rosto conhecido:
-Oi, Rafael! - disse ela abraçando-o.-Oi, Carla! Tudo bem?
Ela não respondeu a pergunta.O trajeto entre o aeroporto e a fazenda durou quase uma hora. Ela estava ansiosa para chegar em um lugar que a fazia sentir-se segura.
Rafael estacionou e Almira já estava ali, na varanda, esperando pela filha. Maraisa desceu apressada e correu para os braços da mãe:
-Mãe...-Ô, minha princesa, que que aconteceu que você resolveu voltar sem sua irmã?
Maraisa tinha certeza de que Maiara já havia contado tudo para a mãe, mas resolveu fingir que não sabia, pois tinha que colocar pra fora tudo aquilo, senão ia sufocar.
-Foi o Wendell. Nós nos reencontramos, voltamos e, por uma crise boba de ciúme, ele me largou de novo.
Não pôde segurar as lágrimas que insistiam em escapar dos seus olhos.
-Não fica assim, não, meu amor. Você ainda vai ser muito feliz- disse a mãe dando um beijo na bochecha dela.
-Só você e a Maiara acreditam nisso, mãe.
As duas entraram e Maraisa foi tomar um banho e escovar os dentes. Em seguida, trancou-se no quarto.
Almira bateu à porta:
-Não vai comer nada, Maraisa?-Não, mãe, preciso descansar um pouco.
Almira nem insistiu porque já vira aquele filme mais de uma vez. Seria uma vida para fazer com que a filha voltasse a se alimentar direito novamente.
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Depois da Tempestade
FanfictionMaraisa, uma cantora famosa e já consagrada fazendo dupla com sua irmã Maiara, após um acontecimento trágico, resolve abandonar os palcos e refugiar-se na Fazenda Rosada...