Insegurança

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Alguns minutos depois, Maraisa concordou em voltar para o quarto. Ainda sentia muita náusea, mas não tinha nada dentro do estômago. Deitada, pelo menos, ela sentiria menos fraqueza.

Maiara colocou Maraisa na cama e foi ver se estava tudo certo para os exames do dia seguinte.

Almira já havia ligado para a equipe do Homecare e tinha agendado os exames para o outro dia bem cedinho.

Maiara lembrou-se de que havia prometido ligar para Marília. Pegou o celular e resolveu fazer uma chamada de vídeo para a amiga.

-Ô, nanica! Já ia te ligar. Estou preocupada com a Maraisa.

-Marília, foi uma confusão aqui. Maraisa ainda tá muito mal. O médico veio e disse que ela pode estar com uma coisa rara que não lembro o nome. Ela vai ter que fazer alguns exames amanhã.

-Nossa, Maiara, manda um beijo para ela.

-Mandarei. Vou desligar porque estou muito cansada, Lila. Beijo.

Maiara desligou o celular e subiu para tomar um banho.

No quarto ao lado, Maraisa tentava pegar no sono. Fabrício entrou devagar e deitou-se ao lado dela.
-Posso dormir com a minha mulher? - questionou ele dando um beijo na testa dela.

-Pode- ela respondeu sem muito entusiasmo.

Ela sentia vontade de ficar sozinha. Queria um tempo para ela, mas não podia negar aquele pedido do companheiro.

-Você está melhor, meu amor?

-Não.

-Se você quiser a gente pode conversar.

-Fabrício, juro, não é nada com você. Eu só estou me sentindo muito mal. Eu nem consegui parar para pensar no que tudo isso significa. Eu vou ter um filho. Eu nem sei se quero um filho. Eu não tive tempo de pensar porque essa droga de enjoo não passa- ela foi ficando nervosa.

-Você está dizendo que não quer esse filho?

-Não, eu não disse isso. EU DISSE QUE NÃO SEI!

-Mas é nosso filho!!

-Fabrício, por favor, não me pressione. Não hoje. Prometo que a gente vai conversar, mas eu não estou em condições de fazer isso agora. Vamos só dormir?

Ele assentiu com a cabeça.

Maraisa virou para o outro lado. Sua cabeça estava cheia: um bebê não planejado, uma possível condição rara que a fazia ter enjoos contínuos, as mudanças que tudo aquilo traria para sua vida. Não conseguia dormir.

Alguns minutos depois, Fabrício já roncava na cama.

Tudo parecia incomodá-la, até mesmo a presença dele ali e ela não sabia o porquê. Gostava dele, aprendera a amá-lo, mas a notícia da gravidez, seguida desses mal-estares a estavam deixando instável, insegura e irritada.

Aproveitou que ele dormia profundamente e resolveu procurar sua metade.
Como Maiara deixava a porta aberta, ela apenas entrou, deitou-se ao lado da sua gêmea e procurou pelas mãos dela.

Maiara acordou assustada.
-Irmã, aconteceu alguma coisa? Cê tá bem? Tá com enjoo? Cadê o Fabrício?

-Calma, Maiara. Não aconteceu nada e o Fabrício está dormindo. Sim, estou bastante enjoada e também confusa.

-Quer conversar?

-Na verdade, não. Só quero ficar quietinha.

Maiara chegou mais pertinho da irmã e deu lhe um beijo na testa.

-Você sabe que eu te amo e estarei com você para sempre, né? -disse Maiara.

-Também te amo, irmã.

Maraisa suspirou fundo. Virou-se de lado. Não conseguia pegar no sono.

-Maiara, você acha que eu serei uma boa mãe?

-Você será a melhor mãe de todas. A mamãe mais linda do mundo, a mais carinhosa-disse enchendo a sua gêmea de beijos.

Maraisa escondeu o rosto para fugir um pouco dos beijos da irmã.
-Não se mexa muito, por favor, Maiara.

-Desculpa, irmã. Esqueci que você está "doentinha". A minha doentinha mais linda- disse beijando a irmã e quase subindo por cima dela.

-Maiara, sério! Eu adoro seus carinhos, mas você não está ajudando. Meu estômago está revirado-disse colocando as mãos sobre a barriga.

-Irmã, já pensou quando você estiver com aquele barrigão? Vai ficar tão linda!

-Não, Maiara, não pensei! Agora, vamos dormir.

Maiara concordou e em poucos minutos, ela já havia adormecido.

Maraisa continuava sem sono. Sua boca estava amarga e seca. Sentia um mal-estar horrível e um enjoo que parecia não ter fim. Sentiu vontade de chorar e foi o que ela fez. Chorou, chorou muito. Sentia-se perdida e estranha, era como se alguém tivesse pegado a sua vida e chacoalhado e tudo estava fora do lugar.

Com o choro, veio a dor de cabeça. Sua boca estava mais seca ainda. Resolveu acordar a irmã.
-Maiara, estou com sede.

-Ahn? - disse ela meio sonolenta.

-Eu queria água, mas não queria ir sozinha até a cozinha porque tenho medo de me sentir mal por causa dessa fraqueza. Você vai comigo?

-Claro, irmã.

As duas desceram as escadas devagar.

Na cozinha, Maiara encheu um copo de água e deu à Maraisa.

Ela bebeu rapidamente. Seu corpo pedia por líquido desesperadamente, mas seu estômago continuava rejeitando tudo que entrava. Em segundos, Maraisa jogara fora a água que bebera.

Maiara olhando o desespero da irmã a abraçou.

-Calma, Maraisa, tudo isso vai passar!

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