Cicatrizes

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Isso só pode ser um pesadelo.

Bebi mais um gole de conhaque, tentando me acalmar.

O que era pra ser uma festa agradável, virou um palco para o Dazai? Só pode ser brincadeira.

Kunikida estava estático, ao meu lado, com a mesma expressão irritadiça que eu.

Todos os funcionários da agência estavam ao seu redor, enquanto Dazai sorria até demais ao contar de suas aventuras ao lado do loiro, que por sua vez, só observava a festa com desinteresse.

Kunikida não estava sendo ingrato, nada disso. Ele recebeu todos os presentes (e o bolo) com um sorriso no rosto, fazendo questão de agradecer pessoa por pessoa.

Acontece que ele não era uma pessoa festeira, e depois de duas horas no ambiente, ele já sentia a necessidade de voltar para o trabalho.

Eu o observei, divertida.

Passei apenas duas horas com ele, ou melhor, alguns minutos. Alguns minutos de conversa foram suficientes para que eu compreendesse como ele funciona.

Como ele estava ao meu lado, me atrevi a observá-lo com mais detalhes. Seu cabelo era de um loiro escuro, que mentalmente me referi como "loiro acinzentado". Seus olhos tinham o mesmo tom sério de sempre, mas gostei de imaginar que eles poderiam brilhar quando ele sorria com sinceridade.

É um homem um tanto atraente, admito. É mesmo uma pena que ele seja tão exigente em relação às mulheres.

Depois de tanto observar Dazai com uma expressão de desprezo ele enfim se cansou.

Pôs seu copo na mesa, olhando nos meus olhos sem tentar ser discreto.

— O que foi? — pergunto sem pensar.

Ele me olha de cima a baixo, me deixando levemente constrangida.

— Você está me observando há pelo menos 7 minutos. O que você quer de mim?

Minha boca abre sozinha, surpresa pela sinceridade dele.

Eu dou uma risadinha baixa, o lançando um olhar divertido.

— Estava vendo por quantos minutos você conseguia manter sua carranca, eu acho.

Ele revira os olhos, fazendo uma careta.

— Essa é a minha expressão normal — deu de ombros. — Sinto muito se parece uma "carranca".

Eu coloquei meu copo próximo ao dele, sentindo uma satisfação pessoal por ter conseguido iniciar uma conversa com o mesmo.

— Estava só brincando com você — entrelacei meus dedos sobre meu peito, com um ar de inocência. — Se alguém aqui tem uma carranca, é o presidente.

Nossos olharem recaem sobre o mesmo, que estava pacificamente bebendo seu chá, alheio ao que acontecia ao seu redor.

E então, o inesperado aconteceu.

Uma risada rouca irrompeu de seus lábios, chamando a atenção de todos no cômodo, inclusive a do presidente.

Kunikida sequer deu uma risada alta, mas o simples fato de vê-lo quebrar o gelo foi surpreendente até pra mim.

— Eu concordo com você — ele falou baixinho, se curvando na minha direção.

Só então eu percebi...

Por Deus, Kunikida é mais alto que o Dazai.

Dazai tinha um hábito de se curvar na minha direção para me provocar, ou fazer alguma piadinha. Mas Kunikida praticamente se abaixou só para falar algo.

𝐋𝐞𝐭 𝐠𝐨 - 𝐎𝐬𝐚𝐦𝐮 𝐃𝐚𝐳𝐚𝐢Onde histórias criam vida. Descubra agora