Ninguém está aqui

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Caminhei devagar, observando enquanto Yosano dava algumas risadinhas com Ranpo.

Isso sim me preocupa.

Eu os observei, e eles pareciam tão diferentes e distintos das outras pessoas, era muito indiscreto e com certeza acentuava um comportamento despreocupado. Meu pai me ensinou que para sobreviver em um mundo de aparências, se deve ser neutro e seguir a maré. Você deve agir exatamente igual aos outros, em seu meio de convívio, pois assim você com certeza passaria despercebido.

Esses dois... Dão risada alto demais, usam acessórios incomuns e também não possuem o cuidado e observar as pessoas ao seu redor.

Respirei fundo, atenta a qualquer movimento ao redor de nós. Talvez eu só tivesse me acostumado com meia dúzia de pessoas tentando me matar todos os dias.

Voltei meu olhar para eles, que pararam em frente de um café, acenando para mim.

— Vamos, miss máfia! — Ranpo gritou aos quatro ventos, fazendo alguns pedestres o olharem com desconforto.

Me apressei em chegar perto dos dois, quase procurando algum buraco para me enfiar de vergonha.

Eu estava pronta para xingar até a quinta geração futura dele, mas Yosano puxou nós dois pelo braço, nos arrastando para dentro do estabelecimentos como se fôssemos crianças.

— Ai, ai, ai, ai! — resmungou ele enquanto era arremessado em um assento.

Quanta delicadeza, Yosano.

Me soltei de seu agarre e me sentei ao lado de Ranpo, que ainda esperneava como um bebê.

Ele logo se levantou, enganchando seu braço ao dela para escolher as bebidas. Eu já tinha dito o que queria, então permaneci quieta.

Eu estava serena por fora, neutra, como de costume. Mas por dentro senti que um nó de confusão havia se instalado no meu estômago. Estava realmente preocupada com a motivação desse convite repentino. Nós não somos amigos, e eles nunca demonstraram interesse pessoal em mim. Fazer amizade? Me conhecer melhor? Eu duvido. Alguma coisa estranha está acontecendo aqui.

Não demorou muito e os dois voltaram com uma bandeja cheia de bebidas quentes e biscoitos.

Ergui uma sobrancelha.

— Não tem garçons nesse lugar? — aquiesci, confusa.

— Sim, mas resolvemos pegar nós mesmos — Yosano pousou a enorme bandeja na mesa.

O cheiro de café e biscoitos amanteigados invadiu minhas narinas, me fazendo sorrir com o aroma.

— Olha só — Ranpo sentou ao meu lado. — Alguém aqui gosta muito de café.

Me apressei em retirar meu affogato, sorrindo como uma criança. Fazia anos que eu não tomava um.

Puxei o pequeno talher, afundando naquele mar de sorvete de baunilha e café expresso, levando a minha boca. A explosão de sabores me fazendo suspirar.

— Tem biscoitos — Yosano os empurrou para mim enquanto tomava uma pequena xícara de café preto com um pedaço de chocolate branco boiando.

Ranpo tomava um copo exageradamente grande de milkshake de morango com cookies. Como ele consegue? É de manhã, comer tanto doce não deveria ser enjoativo?

— Olhe só, quantas pessoas — Yosano olhou ao redor, realmente haviam muitas pessoas aqui hoje. — Eu diria que são umas setenta.

Dei uma mordida em um dos biscoitos amanteigados, observando-a como se isso pudesse fazê-la abrir o jogo comigo.

𝐋𝐞𝐭 𝐠𝐨 - 𝐎𝐬𝐚𝐦𝐮 𝐃𝐚𝐳𝐚𝐢Onde histórias criam vida. Descubra agora