O doce beijo do inverno

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O vento frio da manhã dançou pela minha pele, fazendo meu corpo desnudo se encolher entre os lençóis.

Arrastei-me até a cabeceira da cama, relaxada demais para abrir os olhos.

Tateei meu lado esquerdo, sabendo que estava sozinha naquele momento. Não estava surpresa com isso.

No meio da noite senti Dazai se levantar e o observei enquanto caminhava de um lado para o outro no quarto, até finalmente se sentar na varanda. Ele estava inquieto e isso me preocupava.

Finalmente me sentei na cama, esfregando os olhos e esperando minha péssima visão normalizar um pouco.

Havia algo estranho sobre como meu corpo ficava desnorteado pela manhã, como se meus braços e pernas demorassem bem mais para acordar do que o meu cérebro.

O vento soprou pela varanda novamente, gelado e cruel. O tempo estava fechado e mesmo assim a varanda permaneceu entreaberta. Quase me imaginei matando Dazai por não tê-la fechado.

Abracei meu corpo, me enrolando nas cobertas e caminhando até a varanda para fechá-la.

Eu realmente sou uma grande apreciadora do frio e dos dias nublados, mas o calor do meu corpo não era capaz de competir com essa brisa. Não sem a ajuda de um agasalho.

Observei algumas folhas rodopiando pelo ar, deixando suas árvores.

Era algo estranhamente bonito para mim. Assim como árvores secas, sem folha alguma. Eu simplesmente não consigo explicar a beleza que vejo nisso, e mesmo que explicasse, os outros não seriam capazes de entender.

Olhei de relance para a rua, vendo uma gentil senhora carregando uma caixa com adornos natalinos. Sorri com a inocência da ação.

Passou tão rápido... Já estávamos em dezembro agora.

Voltei até a cama, dando voltas ao redor dos móveis na esperança de achar minha camisola.

Sem sucesso.

Suspirei, partindo para o guarda-roupa do meu arremessador de vestidos alheios.

Deixei o cobertor escorregar pelos meus ombros, passando meus dedos pela madeira que notei ser igual em todos os móveis.

Ébano.

Mesas, cadeiras, cômodas, portas... Tudo feito de ébano. Uma madeira escura, com sua própria beleza. Aqui, em Yokohama, móveis de ébano custavam uma fortuna.

Abri o elegante guarda-roupa, já dando de cara com diversos ternos e roupas exageradamente chiques. Ele disse que abandonou seus costumes antigos de gastar muito. Acho que nem ele mesmo acredita em suas próprias palavras.

Remexi até encontrar um suéter verde, meticulosamente bordado por lã.

Eu o estiquei, observando seu tamanho.

Parecia ser um pouco grande até para ele.

O tecido era tão ridiculamente macio que tive vontade de esfregá-lo no meu rosto para sentir a maciez em minhas bochechas.

Respirei fundo para pôr meus pensamentos em ordem antes de partir para um banho quente, mas tudo que consegui com essa ação foi sentir uma lufada do perfume de seu suéter.

O cheiro dele.

Saí do banheiro desesperada por um secador, mas, como eu não tinha nenhum e eu duvidava que ele tivesse, esfreguei a toalha violentamente em minha cabeça. Parei em frente ao largo espelho que estava ao lado de sua cama, onde eu podia me ver de corpo inteiro.

O suéter quase chegava aos meus joelhos, a gola fofa fazendo cócegas em meu pescoço e minhas bochechas coradas pelo calor do banho.

Eu estava em casa. Me sentia em casa.

𝐋𝐞𝐭 𝐠𝐨 - 𝐎𝐬𝐚𝐦𝐮 𝐃𝐚𝐳𝐚𝐢Onde histórias criam vida. Descubra agora