#3 - Doente

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CARLA

Consegui passar por esse dia sem mais surpresas, não o encontrei novamente, mas vasculhei seu Instagram, não resisti. Ele foi a uma balada, claro. Nada novo sob o sol. Porque a surpresa, Carla?

Penso revirando os olhos.

A Maria Clara ja estava em seu bercinho dormindo e eu joguei o celular de lado e decidi dormir também.

Há três dias do aniversário de 1 aninho da minha filha minha cabeça está a mil. Mesmo não sendo uma festona estilo Kardashians, eu fico estressada e preocupada. Vai ser um evento simples, só para a família, os padrinhos e os amigos mais próximos. Algo bem intimista, mas quero que seja perfeito, e por isso minha cabeça está uma loucura tentando acertar os últimos detalhes.

Minha mãe buscou a Maria pra ficar na casa dela enquanto eu precisava trabalhar e resolver as pendências do aniversário. E fora isso, ainda teria que lidar com tudo que meu coração está me fazendo passar, o encontro com o Arthur mexeu comigo de uma forma que eu achei que nunca mais mexeria, e eu tenho tentado me convencer de que o melhor é ignorar toda e qualquer sensação, eu até me convenço, só não consigo agir pra isso.

Não ajudou em nada o fato de ter encontrado com ele no elevador mais cedo. 1 semana que ele mora aqui e ainda não tínhamos nos encontrado, e agora ja foram dois encontros em curtíssimo espaço de tempo.

Não ajudou em nada também ter escutado a conversa dele. Quando entrei no elevador ele estava ao telefone, e eu ouvi perfeitamente quando ele falou "pode ser hoje, gata da minha vida" . Meu estômago embrulhou na hora, mas botei um sorriso amarelo no rosto e me obriguei a ficar ao seu lado.

Tinha mais uma pessoa no elevador, e por isso não conversamos muito, ele tratou de desligar rapidamente o telefone e me perguntou pela Maria Clara, eu disse que ela estava com minha mãe e ele confessou ter visto que o aniversário de 1 aninho dela foi no dia que nos encontramos, lamentou não ter a parabenizado, e eu confesso que fui um pouco grossa quando respondi que provavelmente ela não se magoou.

Fui irônica, eu sei. Mas, ele estava marcando encontro no telefone! O que eu tenho a ver com isso? Nada! Mas é que... AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA! EU VOU ENLOUQUECER!

Jogo a almofada do meu sofá contra a parede e resolvo parar de pensar nisso tudo. Vou terminar de resolver o que tenho pra resolver e depois vou até a casa da minha mãe buscar a Maria Clara.

Ja em casa, de banho tomado, tentando colocar minha filha pra dormir, e conseguindo ignorar os pensamentos sobre meu vizinho. A Maria Clara começa.

MC: tadê Atú? - ela ergue as mãozinha em sinal de dúvida
Carla: o que? - não é possível
MC: nenem qué Atú - ela bate palmas
Carla: nenem quer mamãe, vamos dormir!
MC: Atú - ela faz bico
Carla: o Arthú ta ocupado filha, ele não pode vim aqui, depois você ver ele.

Ela choraminga, mas logo a distraio com um desenho na tv e por fim ela pega no sono. Quando ela dorme começo a me enfurecer por lembrar do encontro que ele marcou hoje, fico mais raiva ainda por ele ter aparecido de surpresa na minha vida de novo e por eu não conseguir me preparar, sinto raiva também por a Maria Clara parecer gostar tanto dele, mas nada supera a raiva que sinto de mim por deixar ele mexer tanto comigo dessa forma.

É enfurecida assim que adormeço. Acordo com o choro estridente da minha filha, vou até ela atônita e percebo que ela está queimando em febre. Me desespero, mas não posso me deixar vencer.

A pego no colo, procuro o termômetro e meço sua febre, 38.5. Dou a ela um remédio que já foi previamente receitado pela sua pediatra. Olho no relógio: 4:11 da manhã, não vou ligar pra minha mãe. Espero a febre baixar, mas não baixa. Ela continua chorando e de repente começa a vomitar. Ja estou completamente desesperada. Troco de roupa e chamo um uber para o hospital, não tenho condições de dirigir.

No caminho deixo uma mensagem para a pediatra dela, agora já são 5h da manhã, ligo pra minha mãe, ela me atende sonolenta e quando conto o que aconteceu ela me tranquiliza e diz que me encontra no hospital.

Quando chego sou prontamente atendida, minha bebê foi colocada no soro, e só quando ela foi examinada e medicada pela sua pediatra, percebo que eu estava chorando e que meu rosto está banhado em lágrimas.

A médica informou que ela está com a reação ao nascimento dos dentes, é normal, mas eu fiz bem em vim para cá. Ela quer que ela passe o dia em observação, ficará no soro, e tomando medicamento na veia por causa do vômito e da febre.

E assim eu decido adiar a festa dela, quero que minha filha fique bem, quero que ela se recupere, não tenho mais cabeça pra festa e não quero estressa-la. Minha mãe se encarrega de entrar em contato com todos e adiar o momento para o próximo final de semana.

O dia passa de forma lenta, mas na parte da tarde já consigo ver a melhora da minha Maria, ela já está brincando, apesar de ainda estar enjoadinha, mas suas bochechas já estão mais coradas e eu consigo respirar mais aliviada.

No início da noite a médica passa para lhe dar alta, e nós vamos pra casa. Estou exausta, mas muito aliviada por ver minha bebezinha melhorando. Ela está cansadinha, mas isso se da pelo dia no hospital. Minha mãe passou o dia conosco e agora nos deixa na minha casa, ela queria que eu ficasse na casa dela, mas preferi vir para a minha, e garanti que se algo acontecer eu entro em contato.

Desço do carro com a Maria aconchegada em meu colo, ela está com o rostinho enterrado no meu pescoço e ressona tranquilamente. Não vejo a hora de chegar em casa e poder deitar com ela e finalmente descansar.

Chamo o elevador e fico esperando, quando ele finalmente chega e as portar abrem, dou de cara com a última pessoa que eu queria ver.

Arthur: Carla!  - ele cumprimenta - ta tudo bem? - ele se aproxima
Carla: oi, ta sim - não faço questão de ser simpática
Arthur: sério? Quer ajuda? - ele pergunta me vendo com a Maria adormecida no colo e com a bolsa com as coisas dela
Carla: não, Arthur. Obrigada - reparo em sua roupa, ele está lindo, provavelmente indo encontrar a gata da vida dele nas baladas - pode ir pra onde quer que você esteja indo - digo suspirando e entrando no elevador.

Ele impede que a porta feche e me encara.

Arthur: ei, o que aconteceu? - o olhar que ele me lança faz com que eu me arrependa de estar sendo tão chata.
Carla: nada, desculpa. Eu passei o dia com ela no hospital, só to cansada...
Arthur: o que aconteceu com ela? - ele parece genuinamente preocupado e entra no elevador, as portas se fechando atras dele e ele aperta o botão do meu andar.
Carla: reação ao nascimento dos dentes. Teve febre e vomitou, eu fiquei desesperada, era de madrugada e eu levei ela pra lá, ela ficou internada, mas agora ta bem.
Arthur: você podia ter me chamado - ele para de falar abruptamente - quer dizer, se você quiser, eu posso te ajudar quando você quiser.

Respiro fundo. Eu não quero cair nessa, não posso. Ele sendo tão fofo vai acabar comigo, e no final ele vai sair com as gatas dele.

Carla: obrigada, mesmo. - sorrio - mas estamos bem. Só preciso descansar.

Chegamos ao meu andar, as portas abrem e eu saio, deixando ele dentro do elevador. Ele não diz mais nada, as portas fecham e eu caminho apressada até meu apartamento, querendo me trancar na segurança da minha casa pra chorar tudo que ta entalado na minha garganta.

E eu achei que não tinha mais nada pra chorar por essa história.

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Nem tudo são flores né galera, e a Maria dormindo não pôde fazer muito pela gente dessa vez.

Comentem muito que eu volto! O próximo capítulo vem cheio de fofura, é um spoiler que eu posso dar haha

Vou Revelar 2 - One ShotsOnde histórias criam vida. Descubra agora