#23 - Preocupação

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CARLA

...

Que horas são?

...

Que barulho é esse?

...
...

Meus pensamentos estão nublados. Acordo ouvindo um choro, de um bebê. É o meu bebê. Minha filha.

Tapo os ouvidos com o travesseiro. Eu não vou levantar. Minha cirurgia dói... meu coração dói... meu corpo todo dói.

O choro parou. O Arthur foi buscar o bebê. Faz dias que não vejo o Arthur, não, eu vi ele sim. A gente tava deitados de conchinha, ele dizendo que me ama, que vai cuidar de mim, que tudo vai ficar bem... não. Foi um sonho, Carla. O Arthur não ta aqui.

Lembro da briga. Lembro da ex dele. Ele foi embora, ele me deixou, ele ta com a ex.

Meus olhos enchem de lágrimas. Eu as vezes esqueço o que aconteceu, nem sei quanto tempo faz, mas ele nao ta mais aqui.

O choro recomeça, o choro de bebê. E eu fico deitada chorando também.

A porta do quarto abre, o choro de bebê fica mais alto.

Mara: Carlinha, trouxe a Maria Clara pra mamar.

Maria Clara.

Ergo o olhar pra minha mãe. Ela tem um pacotinho rosa no colo, um pacotinho que grita e se contorce todo. Desvio o olhar, fecho os olhos, não respondo.

Mara: Carla? Você precisa amamentar essa criança.

Dói tanto amamentar... eu ja to sentindo tanta dor. Eu quero morrer.

Fecho os olhos com mais força e puxo a coberta pra cima do rosto.

A porta do quarto fecha e o choro de bebê fica longe.

A culpa me invade. Minha filha ta com fome, eu sou uma péssima mae, eu sou uma péssima pessoa. Que tipo de gente ver a filha chorando de fome e não faz nada? Eu mereço sofrer, mereço morrer. A psicóloga disse que vamos trabalhar pra que eu fique bem, mas não acho que ela tenha razão. Não tem como eu ficar bem.

Choro cada vez mais, não tenho força de ir atras da minha filha, não tenho força pra nada. Queria conseguir dormir, dormir e não acordar mais.

ARTHUR

Eu fiquei desesperado quando a Mara desligou, saber que a minha mulher está passando por algo tão terrível, me fez até mesmo esquecer que eu estou magoado com ela. Nada mais importa agora, eu só quero que ela fique bem, só quero que ela volte a ser a Carla, a minha Carla. Ela sonhou tanto com a nossa filha, quis tanto ser mãe, não é justo que uma doença tão ruim, quanto a depressão é,  tire isso dela.

Corri pra casa dela, cheguei e a Mara atendeu a porta.

Arthur: cadê ela? - nem nos cumprimentamos direito e ela me olha com uma cara de poucos amigos.
Mara: tá no quarto - responde de forma ríspida, ela estava com minha filha no colo.
Arthur: posso pegar minha filha? - questiono com receio de sua resposta.
Mara: toma!

Me entrega a Clara e sai, eu a olho, ela dormia tranquilamente,  seu rostinho bem desenhado igual o da mãe dela, a boquinha perfeita, ela é  tão perfeita, tão linda, tão minha. Quanta saudade eu senti de ter ela aqui, nos meus braços encaixadinha em mim, ela se espreguiça e me olha, sorrio vendo sua pupila dilatar ao me ver. Eu sou louco por essa bebê.

Arthur: eu te amo tanto minha filha, senti tanta saudade de você,  o papai quase ficou maluco esses dias, não sei se você entendeu, não sei nem se você sentiu minha falta, se sabe que eu não estava aqui, mas eu quero deixar claro que eu não pretendo mais ir a lugar algum, você é minha filha, não importa o que as pessoas falem, você é  meu bem mais precioso, eu não te largo nunca mais. Te amo - beijo sua testa e ela sorri, não sei se entendeu, mas eu fico todo bobo.

Caminho com ela até seu quarto, coloco ela em seu bercinho e fico a admirando por alguns minutos ainda, antes de sair em direção ao quarto de sua mãe. Minhas mãos soam, meu coração está acelerado, não sei o que falar, não sei o que fazer, minha mulher precisa de mim, mas eu não sei como ajudar. Entro, ela está encolhida embaixo das cobertas e eu escuto um soluço baixinho. Ando devagar até ficar de frente pra ela, seu rosto não estava coberto, tinha lágrimas, muitas lágrimas, ela me olha uma, duas, várias vezes e desvia o olhar, parece estar em outro lugar e aquilo corta meu coração.

Arthur: oi vida - me abaixo e fico de sua altura, seu olhar se conecta ao meu - eu vim ver você! - ela continua me observando, até que em um segundo ela se descobre e se joga em meus braços e me abraça forte e eu a aperto - eu senti tanta saudade do teu cheiro, do teu abraço, eu te amo amor - ela se solta do meu abraço segura meu rosto em suas mãos e me beija, devagar, suas lágrimas se misturam ao beijo, que ela termina com selinhos - como você tá?
Carla: e-eu ta-tava com saudade! - fala com a voz embargada - achei que você tinha ido embora, achei que eu tinha perdido você,  por que você não veio antes? Por que você se foi? Eu sei que ela é muito melhor que eu, com certeza ela seria uma mãe melhor, eu sei, mas eu não queria que você a escolhesse, eu queria... - não deixo ela terminar.

Arthur: vida, calma. Eu tô aqui, eu não tenho vontade de ir a lugar nenhum, não tem ninguém nesse mundo que seja melhor que você pra mim. - sorrio pra ela e ela ainda me olha confusa. Escutamos um choro estridente, a pequena deve estar com fome.
Carla: me perdoa Arthur, me perdoa. - ela fica repetindo isso e passa as mãos constantemente nos cabelos, eu já estou ficando nervoso com isso, mas não posso demonstrar.

Arthur: perdoar de que amor? Agora não é o momento pra falar sobre outra coisa que não seja a gente, eu te amo, você me ama, nos temos uma filha - quando cito nossa filha seu olhar enche de lágrimas - ela é tão linda amor, você já percebeu que a boquinha dela é igual a sua? Que ela tem as sobrancelhas clarinhas e cabelo loirinho? Ela é  uma cópia linda de você  - ela chora e eu a abraço, deixo que ela chore, até que percebo ela mais calma.

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