#3 - Conforto

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CARLA

Estou deitada na minha cama, enterrada nos travesseiros, depois de ter expulsado minha assistente do quarto quando ela tentou me fazer comer. Eu não quero comer. Eu não quero nada. Eu só queria voltar no tempo e ter seguido por outro caminho. O caminho que meu coração queria que eu seguisse...

E ai eu escuto a voz dele. Como uma materialização dos meus pensamentos.

Arthur: tudo bem? Eu posso falar com ela?
Assistente: ela não ta muito bem, Arthur. Ta trancada no quarto, nem comer quer.
Carla: DEIXA ELE ENTRAR! - grito num impulso.
Assistente: parece que ela quer que você entre. - escuto ela dizer.

Me sento na cama, com o edredom ainda me cobrindo. Espero.

Quando ele atravessa a porta do quarto e nossos olhares se encontram, meu queixo treme e eu não consigo controlar uma lágrima sequer.

Carla: me desculpa - consigo dizer.
Arthur: ei - ele se aproxima - não chora - ele senta de frente pra mim.
Carla: eu fui muito babaca com você no telefone, me perdoa. Eu não queria, eu... - choro mais e não consigo mais falar.
Arthur: vem aqui - ele me puxa pra si e me abraça, bem apertado.

Eu choro no colo dele, choro até achar que sequei toda água do meu corpo. E ele mantém o abraço firme, em um aperto reconfortante, e o carinho que ele faz nas minhas costas e nos meus cabelos completa todo o conforto que eu precisava.

Quando consigo parar de chorar, ele fala.

Arthur: eu só queria dizer, no telefone, que um erro não define quem você é, você é uma atriz e uma mulher phoda, que construiu muita coisa em 30 anos, e vai conseguir passar por isso. - novas lagrimas enchem meus olhos e eu aperto ele em meus braços - E quando eu falei em erro, não me referi a nenhuma escolha que você tenha feito, me refiro a essa situação toda.
Carla: eu to tão confusa - me afasto pra olhar pra ele - eu não sei o que vou fazer agora. - seco as lágrimas - E eu to me sentindo tão sufocada, que acabei reagindo errado a você. - seguro a mão dele.
Arthur: você lembra quando meu avô faleceu? - assinto - lembra que você me ligou, que me acalmou, e que mesmo que tenha dado aquela confusão no seu namoro, você ainda assim não me deixou, lembra que queria ir até Conduru? E eu que não deixei, porque a Pocah tinha me contado tudo que você tava enfrentando por estar em contato comigo? Lembra disso? - assinto mais uma vez - você tava preocupada comigo.
Carla: estava - minha voz sai baixa - muito
Arthur: eu me preocupo com você assim também - ele da um meio sorriso e eu o puxo pra um abraço mais uma vez.

Carla: eu sei, desculpa mais uma vez. Eu to muito descompensada, você é um fofo, e eu só posso agradecer por você ta aqui, mesmo depois de tudo.
Arthur: to com você - ele beija minha bochecha - sei que nós temos um histórico - ele se afasta pra me olhar - mas, antes de tudo éramos bons amigos, e eu sei que terminar um relacionamento não é fácil...
Carla: espera, você acha que eu to desse jeito por causa do fim do noivado? - ele não responde, só me encara esperando - eu não to nem ai pro noivado, eu quero mais é que aquele imbecil apodreça na prisão, e se eu pudesse apagar esse passado com ele, eu apagava. Eu sinto vergonha desse relacionamento. Eu to mal por causa da minha carreira. - bufo, com a raiva me tomando novamente.
Arthur: você vai dar um jeito - ele acaricia meus braços, me acalmando - você sempre dá.
Carla: só que dessa vez não vai ser tão fácil - suspiro - e eu to mesmo com muito medo de não conseguir me reerguer depois disso.
Arthur: bom, você não ta sozinha ta? Se vale de alguma coisa, to aqui - ele sorri de lado.
Carla: vale de muita coisa - acaricio o rosto dele, enquanto sorrimos um para o outro.

Por uns instantes o silêncio se prolonga.

Arthur: você precisa de alguma coisa? Alguma coisa que eu possa fazer pra ajudar?
Carla: só em você ter vindo aqui já me ajudou demais. Mesmo.

Arthur: sua assistente disse que você não comeu.
Carla: eu não consigo comer - reclamo - nada desce.
Arthur: nem se eu pedir sushi pra gente? - ele diz como uma criança negociando. Não consigo não sorrir.
Carla: eu to enjoada com tudo isso. Não consigo. - faço um bico.
Arthur: e se eu pedir alguma coisa do Méqui? - faço careta - eu também posso fazer purê ou chips de inhame, você que manda. - aqui eu gargalho, não tem como.
Carla: ai garoto, só você pra me fazer rir numa hora dessas. - deslizo a mão em um carinho no seu braço.

Arthur: você precisa comer, Carlinha - ele diz sério, mas terno - se não comer vai passar mal, admira sua hipoglicemia não ter dado as caras ainda.
Carla: já deu, duas vezes, e eu comi uma colher de açúcar. - ele me repreende com o olhar.
Arthur: você vai comer comida de verdade agora. - diz pegando o próprio celular - o que eu peço? Você tem cinco segundos pra pensar, 1...2...
Carla: eita como ta autoritário ele - digo debochando.
Arthur: Carla! Escolhe.

Eu bufo. E penso.

Carla: pode ser sushi. - me rendo.
Arthur: sushi será então - ele sorri triunfante.

Ele faz o pedido e quando chega, minha assistente vai deixar no quarto, ela nos encontra sentados um de frente pro outro, conversando.

Assistente: Arthur, você não vai mais embora. Ela ta falando e comendo, é um milagre. - ela brinca.
Arthur: estou as ordens. - ele responde

Eu só consigo sorrir. Minha assistente nos deixa a sós novamente, nós comemos esparramados na minha cama. Parece que o mundo parou e só existe a gente, ali no meu quarto, conversando sobre tudo. Eu me sinto bem pela primeira vez desde que tudo começou.

Quando terminamos de comer, coloco um filme pra gente ver, eu deito na cama, e ele senta do meu lado, com as costas na cabeceira. Fazendo um carinho suave no meu cabelo. Eu me sinto segura, fortalecida. Até que adormeço, sem chorar dessa vez, e conseguindo respirar de novo.

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APENAS!

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