CAPÍTULO 01

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SAM

    — Alô? — não passa das 7:30 da manhã quando atendo uma chamada de um número desconhecido. Cubro a boca com a mão para evitar que a pessoa do outro lado escute o meu bocejo, já que estava dormindo como pedra até um segundo atrás.

   —  Santiago Saunders? — uma voz masculina que soa meio entediada pergunta.

   — Sou eu. — respondo, esfregando os olhos e sentando rapidamente na minha cama, ainda vestindo apenas uma samba canção xadrez.

   — Você foi selecionado para uma entrevista de estágio nas empresas Caccini. Se tiver interesse na vaga, esteja amanhã às 12:00 horas na Sede...

   — O-o que?! — Salto da cama num movimento destrambelhado, quase caindo de bunda no chão do quarto. ESTÁGIO EM UMA DAS MAIORES EMPRESAS DA CALIFÓRNIA?! AI MEU DEUS!!

   — ....na sede da empresa. Vista uma roupa formal. — a voz meio robótica e desinteressada continua, antes que a pessoa do outro lado simplesmente encerre a ligação.

   EU FINALMENTE CONSEGUI UM ESTÁGIO?! Meu coração palpita sem parar e demoro alguns minutos para eu conseguir me acalmar.

Os raios de sol entram pela janela entreaberta do meu pequeno apartamento e bate no meu rosto, mas isso sequer me incomoda enquanto eu procuro rapidamente o número da minha mãe e ligo para ela.

   — MÃE!! CONSEGUI UM ESTÁGIO!! —  grito no segundo seguinte depois que ela atende a ligação. Eu pulo de volta na minha cama como uma criancinha, sem conseguir acreditar ainda. Depois de séculos espalhando currículos por tudo que é canto...

   — sério, querido? Onde? — ela pergunta, não muito interessada. Mas isso não é o suficiente para abalar a minha alegria.

   — na Caccini!!

   — e quando você começa??

   — B-bom... Ainda vai ter uma entrevista amanhã, mas vai dá tudo certo!! — o meu sorriso morre um pouco, mas ter uma entrevista é muito melhor do que ter zero chances, certo??

   — Entendi, Santiago. Eu estou ocupada agora, mas se você precisar de alguma coisa, pode mandar mensagem, que quando eu puder, irei responder, okay? — ela diz. Consigo escutar os sussurros do seu novo marido no fundo da ligação, embora seja impossível entender o que ele diz.

   — tudo bem, mãe. Depois conversamos. Tcha.. — ela encerra a ligação antes que eu consiga terminar de falar, não que isso me deixe surpreso.

   Solto um suspiro e cubro o meu corpo com o cobertor quentinho novamente, sentindo o cheiro de amaciante que emana dele.

   Encaro o teto do quarto e observo as incontáveis manchas escuras no forro de gesso. O apartamento não é lá dos melhores, mas é o que consigo passar com minhas economias, e com certeza é muito melhor do que morar debaixo do mesmo teto que aquele cara que minha mãe chama de esposo.

   Se eu conseguir o estágio, talvez possa me mudar para um apartamento melhor em uns três ou quatro meses. Finalmente vou ter uma estabilidade financeira e não vou precisar ficar pedindo para minha mãe quando precisar e ouvindo suas indiretas bem diretas.

   Respiro fundo e fecho os olhos novamente, querendo dormir por mais uma hora, mesmo que as paredes sejam finas e nesse horário eu já consiga escutar praticamente cada passo que as pessoas que moram no apartamento ao lado dão.


◾🛑◾

   A tarde, depois de revirar o meu guarda-roupas no mínimo umas 5 vezes, percebo que não tenho nada "formal" (pelo menos não no nível de formalidade exigido por essas empresas grandes e famosas).

   Abro a gaveta onde guardo meu dinheiro e conto quanto ainda tenho aqui.

   Ainda tenho guardado 1100 dólares, mas não posso gastar tanto porque o meu aluguel é 200. Então eu posso pagar o aluguel por mais uns quatro meses e comprar comida se economizar bastante.

   Pego duas notas de 100 e guardo o resto. Pode ser até um tiro no escuro gastar o pouco que tenho para comprar roupas, mas não custa nada tentar, certo? E além disso, se eu não aparecer vestido devidamente, aí sim que não terei chance alguma.

   Por sorte, eu conheço um brechó que vende roupas baratas não muito longe daqui, então visto um jeans surrado, um moletom tie-dye e um sapatênis velho, antes de sair do apartamento e descer as escadas em passos largos e rápidos (o elevador não está funcionando).

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   Uma hora depois, eu finalmente chego ao casarão um pouco velho onde fica o brechó. Eu poderia ter economizado tempo vindo de metrô, mas isso significaria ter que gastar, algo de que estou fugindo como o diabo corre da Cruz.

   Subo os degraus desgastados que levam até às portas duplas e entro no enorme salão, onde há araras cheias de cabides com roupas para todos os lados.

   — Olá! — A senhorinha simpática que sempre me atende caminha na minha direção com um sorriso no rosto.

   — Oii. — respondo, enfiando as mãos nos bolsos do moletom colorido e esperando ela chegar até mim.

   — O que o garoto está procurando hoje?

   — estou procurando uma calça e camisa social. — explico. Acho que blazer não vai ser necessário, e além disso, é caro pra caralho.

   A senhorinha confirma com a cabeça e sinaliza para que eu a siga até um dos cantos da enorme sala, onde ficam as roupas masculinas mais formais.

   — Temos todas essas aqui. Se você precisar de ajuda, é só chamar, certo?

   — certo. Obrigado. — murmuro, antes de começar a ver as camisas sociais peça por peça. O segredo para encontrar alguma coisa muito boa em brechós é garimpar muito bem.

   Passo os minutos seguintes selecionando as três melhores, para então escolher uma branca que deve servir perfeitamente para mim. Eu não sou muito chegado nesse lance de moda e cores que combinam, mas eu gostei dessa, então será ela que irei levar.

   A calça já é algo mais complicado, mas depois do que parece ser uma eternidade, encontro uma cinza escura, que deve ficar um pouco folgada na cintura, mas nada que um cinto não resolva.

    Por fim, resolvo escolher uma gravata também, antes de ir pagar tudo no caixa.

   Foram 120 dólares a menos, mas pelo menos terei o que vestir amanhã.

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