CAPÍTULO 03

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SAM


   Um dos dias mais importantes da minha vida nos últimos tempos começou simplesmente sendo um desastre total. Eu me vesti cedo, coloquei em uma pasta todos os papéis que eles poderiam pedir (certificados de cursos; documentos pessoais; comprovação de residência...), Mas o trânsito de merda fez com que eu chegasse umas duas horas atrasado!!

     Parece que essa cidade inteira tinha um único objetivo em comum: me impedir de chegar a tempo e foder com minha vida.

     Quando finalmente cheguei no enorme arranha-céu com janelas de vidro por todos os lados, a secretária fez o favor de ser bem grossa e um pouquinho irritante, mas a convenci a interceder por mim e falar com o tal gerente (pelo menos eu pressupus que faria a entrevista com o gerente).

     — Okay, garoto. Ele está te esperando na cobertura. — a moça diz para mim, assim que desliga o telefone, quase me fazendo saltitar de alegria e alívio.

    — Obrigado!! — viro-me na direção dos elevadores e tento apressar o passo, mas esses sapatos estão me matando. Limpo o suor da testa e tento me acalmar, embora seja uma tentativa inútil, já que estou praticamente surtando aqui.

     O elevador é tão silencioso e fluido que é como se ainda tivesse parado no mesmo lugar, apesar dos números piscando no painel ao lado da porta indiquem que estamos subindo, e bem rápido, por sinal.

     Quando as portas se abrem, um corredor largo se abre diante de mim, com quadros caros enfeitando as paredes minimalistas. Há algumas pessoas andando para e para cá vestindo roupas caras e segurando papéis (assim como no primeiro andar), mas meu olhar recai sobre a porta de vidro escuro e polido que está fechada, essa provavelmente é a que estou procurando.

    Meu nervosismo vai nas alturas e minhas mãos começam a tremer, mas ergo o queixo e vou até lá, antes de dá uma batidinha.

      — Entre. — uma voz rouca, grave e surpreendente arrogante diz, me fazendo engolir em seco e fazendo um calafrio subir pela minha espinha. Respiro fundo duas vezes e abro a porta, dando um passo para dentro logo em seguida.

     O escritório é enorme e possui uma parede apenas de vidro, dando vista para toda a cidade, mas meu olhar foca na mesa grande no centro da sala, onde há um homem sentado e me encarando sem ao menos piscar.

    O peso daquele olhar me faz engolir em seco e o meu pulso acelerar. O cara deve pesar uns cem quilos de puro músculo e ter no mínimo uns dois metros de altura. O terno preto feito sob medida abraça perfeitamente aquele peitoral musculoso e os seus bíceps, tríceps e todos os músculos terminados em "íceps" que devem existir.

     A sua pele é morena; o queixo quadrado; o maxilar trincado é coberto por uma barba bem aparada; os seus cabelos são curtos e negros e possuem alguns fios brancos, o que indica que ele deve ter mais que uns 37 anos; as sobrancelhas são arqueadas e aqueles lábios carnudos são... É impossível descrever em palavras como eles são.

    Tenho quase certeza que ele me mandou sentar na cadeira de frente para ele, mas estou tão atordoado que faço isso às cegas, torcendo para não tropeçar nos meus próprios pés.

    Assim que sento na cadeira acolchoada e macia, escondo as mãos trêmulas por debaixo da mesa, sentindo o seu olhar afiado e eletrizante enfiar tremores pelo meu corpo. O cara muda de posição na cadeira, como se estivesse um pouco desconfortável, antes de pigarrear.

    — Qual seu nome? — aquela voz Grave e rouca pergunta, enquanto ele apoia os cotovelos na mesa. No seu pulso há um relógio grande, que só pela aparência, deve custar um par de rins.

     — S-santiago. Mas todo mundo me chama de Sam, S-senhor. — Gaguejo, amaldiçoando-me internamente logo em seguida. Que tipo de empresa séria trataria as pessoas pelo apelido?? Eu sou burro, burro, burro!!

     — Santiago. — ele repete devagar, como se gravasse cada sílaba. San-ti-ago. — quantos anos você tem?

    — Dezenove, senhor. — tento sustentar o olhar, mas a força que aqueles olhos castanho escuros transmitem me faz abaixar o rosto imediatamente.

     — você estuda, Santiago? — o homem muda de posição na cadeira novamente, tencionado o maxilar.

     — N-não, senhor. Mas tenho diversos cursos e especializações. — explico, esperando que isso cubra a minha falta de um ensino superior concreto. Eu já estudei informática, francês, programação e diversas outras coisas.

     — Ótimo, porquê eu precisaria de você em tempo integral, caso aceite o estágio. — ele diz, fazendo o meu cérebro travar no "caso aceite o estágio".

     — I-isso que é dizer que eu consegui? — quase choro de alívio, sentindo o meu coração palpitar sem parar.

    — Sim.

    — Obrigado, senhor!! — exclamo, sentindo a alegria transbordar pelos meus olhos, mas limpo rapidamente a umidade com a manga da camisa. Esse estágio significa muito para mim, e eu poderei finalmente conseguir uma estabilidade para minha vida.

    — Você vai trabalhar comigo de agora em diante. Começaremos agora mesmo. — ele diz, cruzando os braços sobre o peitoral largo.

    — D-desculpe senhor... Mas qual o seu nome? — pergunto, lembrando-me que ele ainda não o disse, e eu não queria se indelicado fazendo perguntas desnecessárias logo no começo.

    — Theodoro Caccini. — ele levanta da cadeira e estende a mão para mim.

    Theodoro Caccini...? Isso quer dizer que ele é O DONO DA EMPRESA?! AÍ MEU DEUS!!

     — Agora porque não vai buscar um café para mim? Desnatado e sem açúcar. Depois irei providenciar que alguém te mostre a empresa. — Theodoro diz.

     Ainda estou atordoado em saber que esse cara é o dono de tudo isso (E PORQUE IREI TRABALHAR COM ELE DAQUI PRA FRENTE), Mas estendo a mão e agarro a sua, rezando para ele não perceber que estou tremendo.

     — Certo, senhor Theodoro. — digo, sentido a sua mão enorme envolver a minha por completo.

    — Théo. Me chame de Théo. — ele explica, antes de voltar a se sentar, ainda me encarando. Eu confirmo com a cabeça e lhe dou um pequeno sorriso, antes de dá meia-volta e praticamente tropeçar para fora do escritório para providenciar o seu café.

    

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