Parte 24

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Eu não acredito, sou muito azarada só pode ser.
Como meu cabelo ficou enganchado naquilo e puta que pariu só me dei conta que minha mão subia e descia o zíper, quando o senti.
E agora Carolina está rindo da minha miséria.
- Para de rir, o destino é muito filho da puta, agora ele está perto demais.
- Você sempre fugiu, e ele era seu tombo lembra? Faço que sim.
- E foi seu...
- Não quero voltar a isso, foi algo lindo e doloroso ao mesmo tempo. Ela segura minha mão e depois me abraça.
- Obrigado por esta aqui. Ela agradece.
- Eu sempre vou está, sinto muito pela tia, ainda sinto seu perfume toda vez que entro na sua casa. Seu sorriso aumenta.
- Eu sei, é meu refúgio, mas sabe sendo médica eu fiquei um pouco aliviada, somos rodeadas de morte todos os dias, vemos pessoas sumirem diante de nós e não podemos fazer muito.
Eu não queria isso para ela, e saber que ela não sofreu é um alívio.
- Mas agora chega de choro vamos ver o que você inventou aí.
Ela diz e aponta para o meu tablet.
Bem é o momento em que deixo tudo lá fora e mergulho no que mais amo fazer, ser médica.
Passamos a tarde em sala operatoria e boa parte da noite também.
Carolina veio para minha casa, fizemos brigadeiro e ela mandou uma mensagem para Agus trazer cerveja, só não esperava sair do banheiro e dar de cara com Ruggero novamente.
A cena do provador aparece bem nítida e tento me recompor soltando uma piadinha que o faz rir, e inspecionar minhas fotos.
No final estamos todos deitados assistindo um filme que não presto atenção, estou com tanto sono.
Meu celular que está no bolso da calça vibra e pego vendo um número desconhecido da Califórnia até sei quem é.
- Antony. Escuto Carolina sussurrar.
- Ele não desisti não é? Não basta machucar você ainda fica insistindo. Meu olhar encontra o seu.
- Fisicamente não foi o bastante. Seus olhos escurecem e uma carranca se forma em seu lindo rosto.
- Não se preocupe ele não vai mais tirar minha paz. Sussurro segurando sua mão.
- Ele não é doido vai perder as mãos.
- Aposto que sim.
Fechei os olhos e as lembranças desses últimos meses sem Carolina invadiram em cheio.
Antony não era o homem que eu pintei, acho que no fundo eu desejava que ele fosse assim, e não percebi o tipo de relacionamento em que estava vivendo.
Eu vivi um relacionamento tóxico e dizer isso é como uma facada, porque nenhuma mulher espera um dia passar por algo assim.
Só que você passa e nem percebe, quando se dar conta, ele já tirou tanto, que não existe mais nada de você.
Foi o que aconteceu, ele conseguiu me afastar da vida que eu escolhi levar, eu não saia mais, não me divertia mais, não tinha mais amigos, só Carolina, até da minha família ele tentou me afastar e quando fui caindo na real depois que todos ao meu redor falavam para ficar atenta, ele começou usar a força.
Começou com palavras, me ofendia profundamente toda vez que a gente discutia por algo banal.
Depois os apertos quando ele queria fazer valer a sua vontade.
E por fim ele me acertou, e ainda chorou como um menino arrependido, me pediu perdão mil vezes, tentou me comprar com coisas que eu adorava receber, para no final ainda colocar a culpa em mim.
Pois é, essa era a sua defesa, a desculpa de que ele agia assim porque eu não fazia o que ele queria, e então perdia a cabeça.
Só que um dia você cansa e acorda, e esse dia eu o expulsei da minha vida e não o quero nunca mais por meus olhos nele.

No outro dia, fiquei com minha mãe na loja e a tardinha passei no hospital para ver como ficou o paciente depois da cirugia.
O Doutor Fabio sorrir ao me ver e me chama para um café.
- Sabe Karol, seria um prazer ter você em nossa equipe médica.
- Isso é uma proposta de trabalho?
- Considere uma, sei que está evoluindo muito bem fora, mas quando quiser voltar para casa as portas estão abertas.
- Doutor precisamos de gente no pronto socorro. Ele sorrir alçando uma sobrancelha.
- Eu vou. Falo para a enfermeira.
Passo na salinha e pego um jaleco e um estetoscópio.

- O que temos?
- A doutora, um ferimento a bala, já estão preparando para a sala operatória, mas temos o delegado ele levou um tiro e preciso que dê uma olhada.
- O delegado? Ela faz que sim me indicando o local.

-O que será que você andou aprontando? Falo entrando e fechando a cortina.
- Bem se soubesse que você estava aqui teria me machucado um pouquinho mais só para receber um carinho extra.
- Ihhh não sei quem te iludiu, estou aqui por acaso, e porque médico dentro de hospital não fica parado.
Deixa eu te ajudar com isso.
Falo já me aproximando dele ao ver uma gase pressionando um ferimento.
Pego a tesoura e corto uma parte da camisa para ter acesso ao braço, na verdade foi no um pouco abaixo do ombro, removi a gase.
- Foi de raspão.
- Se você diz, mas vamos dar uma olhada.
- Tudo bem doutora aí não é um coração mas faça sua mágica.
Sorriu e pego uma lanterna com uma pinça verificando o local, é foi de raspão. Começo a limpar e aplico uma anestesia para dar pontos e logo um curativo.
- Prontinho, quer que aplique um analgésico.
- Não, estou bem, não quero ficar grogue e correr o risco de você abusar do meu corpinho.
- Que pecado, eu deveria te amarrar nessa cama então, e brincar de médico seria seu sonho consumado.
Ele morde os lábios e já sei o que está pensando.
- Você está imaginando não é? Reviro os olhos.
- Está liberado.
- Mas já, pensei que você iria fazer um carinho no meu saco.
- Porque precisa de gelo?
- Malvada.
Sorrio e a enfermeira me chama para outro paciente.

Quando termino o último curativo no paciente dou por encerrada a minha ajuda.
Pego minha bolsa e vou saindo, as portas se abrem e vejo Ruggero na entrada parado falando sozinho.
- Ainda por aqui?
- Preciso de uma carona pra casa. Ele diz.
- Existe taxi sabia? Brinco e retiro as chaves do carro da minha mãe da bolsa.
- Você não vai deixar um pobre homem ferido andar de táxi vai? Faço uma careta e pego em seu braço levando-o para o carro.
- Vamos pobre homem ferido entre no carro. Ele entra e fecho a porta.
- Então para onde eu tenho que ir? Pergunto e ele me olha confuso.
- Você me pediu uma carona, já dormiu comigo ontem, não espere que eu te leve pra casa, te dê banho e coloque você na cama para roncar nos meus ouvidos.
- Bem eu poderia fazer outra coisa nos seus ouvidos.
- Engraçadinho.
- Acho que vou aceitar o banho meu braço está fodido posso cair no banheiro.
- Não foi um convite mocinho, e ainda não me disse para onde vamos. Ligo o som do carro baixinho.
- Para casa.
- Rara e onde fica Ruggero?
- Ué vizinha você mora ali e não sabe?
Olho para ele e depois para a estrada.
- Você está na casa do seu avô?
- Ele deixou ela para mim.
- Caramba, ainda bem que estou só de férias não aguentaria... Ele me interrompe.
- Eu sei você iria querer invadir minha cama todas as noites.

- Bem ele não estava errado.
- Carolinaaa.

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