Parte 60

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Chego em casa são quase quatro horas da manhã e vou direto para o meu quarto dormir um pouco, abro a porta e a luz do abajur está acesa, e Ruggero dorme na minha cama, respiro fundo.
Troco de roupa e o chamo baixinho.
- Ruggero... Ruggero. Ele desperta e o olha ao redor.
- Que horas são?
- Quase cinco.
- Você chegou agora?
- Sim estou muito cansada, minha cirugia demorou mais do que o esperado, você se importa?
- O que?
- Ir para o seu quarto e me deixar dormir na minha cama gostosa. Ele me puxa mas eu resisto.
- Vem aqui.
- Não, vá para o seu quarto.
- Karol naquele dia...
- Não, por favor, estou muito cansada você pode só ir.
- Porque é tão difícil conversar com você? Porque simplesmente não me escuta.
- Porque eu sempre tenho que ouvir e aceitar e estou cansada disso, caralho eu também tenho sentimentos aqui, agora dar o fora da minha cama, droga cuidado com o braço. Ele sorrir triste mas não posso dar o braço a torcer agora.
Ele para na porta, parece querer falar alguma coisa mas já me deito e apago a luz.

Na manhã seguinte, escuto o chorinho de Ange e me arrasto até o quarto.
- Ela está com febre. Ele diz tocando a testa dela e procuro o termômetro.
- Onde está a porra do termometro.
- Poa. Ela disse... Ele rir.
- Não ria, aí não podemos mais falar nada na frente dela.
Coloco o termômetro e ela me chama com as mãozinhas para que a pegue no colo, beijo seu rostinho e ela deita a cabeça no meu ombro, segurando meu cabelo uma mania que ela pegou.
- Mama. Fico parada imóvel e Ruggero sorrir olhando para mim.
- Mama aba. Tento respirar normalmente pela boca e fecho os olhos e Carol aparece no canto do quarto sorrindo para mim e acena que sim.
- Você quer água meu amor? Ela faz que sim com a cabecinha e pego a garrafinha.
Ruggero levanta se aproxima de nós duas segura minha cintura e beija o cabelinho dela sem tirar os olhos de mim.
- Nos vemos mais tarde. Aceno um sim e ele sai.

Duas semanas e as coisas entre Ruggero e eu ganham um ritmo, mas ele com a vida dele, e eu com a minha.
Nos vemos todas as manhãs, as vezes a noite, e nos falamos ao telefone somente se é sobre Ange.

Falando nela entrei em uma que, não posso falar palavrão, então adotei um sistema para não falar ou vou falir.
Hoje tirei o dia para ficar com Ange e organizar o meu quarto na casa da minha mãe, tem muita coisa aqui que preciso doar.

- Sabe você deveria escrever um livro.
- Ah sim a trágica historia de um clichê. Ela rir.
- Vai, seria perfeito, você colocar para fora todas as suas emoções, tudo que está guardado aí, pode ser libertador.
- Carolina eu não quero colocar... Ela está me olhando com aquela cara de que não consigo negar nada. Merda.
- E sobre o que eu vou falar? Ela aponta o  tapete e me sento com o computador no colo.
- Sobre você.
- Não vou falar sobre mim, tem muita gente fofoqueira nesse mundo. Ela revira os olhos.
- Ser um leitor não é ser fofoqueiro, pare de chamar o povo assim.
- Foi você que me colocou nessa situação, não quero falar da minha vida.
- Então fale da nossa. Ela esta deitada na minha cama com um vestido branco e seus cabelos cumpridos, a observo por um tempo.
- Como é do outro lado?
- Você vai escrever? Suspiro.
- Ok você venceu, minhas leitoras não vão ser fofoqueiras elas precisam saber da minha vida, satisfeita?
-Muito. Não existe do outro lado, existem pessoas alegres e dispostas a ajudar.
- Que gente bem humorada.
- Você parece ranzinza.
- Eu não acredito que esta aqui comigo.
- Voce precisava de mim.
- Isso é loucura a Ange precisava de você.
- Não, ela tem você.
- E o Agus?
- Ele te mandou um abraço.
Assinto engolindo o bolo em minha garganta.
- Quando meu livro estiver pronto, você vai embora? Ela sorrir.
- Eu nunca vou embora.
- Caro.
- Pare de enrolar e escreva.
- Eu sou uma médica, porque tenho que escrever.
- Porque toda historia precisa de um final feliz. Bufo ainda não acredito em final feliz.
- Isso é clichê demais.
- Gostei escreva sobre o clichê. Faço uma careta.
- Sobre o seu clichê, acho que consigo. Ela balança a cabeça negando.
- Sobre o seu clichê.
- Eu não tenho um clichê.
- Isso você deixa que elas decidem, agora deixe de preguiça e escreva.
- Porque eu ainda te escuto.
- Porque você me ama, sou sua melhor amiga e seu... Olho pra ela.
- Não, por favor não diga isso. Ela sorrir e se aproxima segura minha mão.
- Eu sempre serei, estava no meu destino e vou sempre está aqui com você.
Nos abraçamos e pode ser loucura mas consigo sentir seus braços ao meu redor, e quando inspiro sinto seu cheiro cítrico, isso me faz sorrir.
- Agora pare de enrolar e vá escrever.

Bem por onde eu começo, esse negocio de era uma vez, é ridiculo, você ja prestou atenção nas historias de princesas, era uma vez e bla bla bla eles se casaram e viveram felizes para sempre, ponto final, ninguem conta o que vem depois, acabam ai, porque será heim?

Bem como eu poderia começar, esse é o meu clichê não tão clichê assim já que meu final...
- Porra Carolina não dá.
- Pode pagar.
- Minhas moedas acabaram Carolina.
- Não quero saber foi você que inventou, a cada palavrão um euro.
- Vou falir nessa miséria.
- Dois euros.
- Puta que pariu.
- Três.
- Chega, não vou pagar, vou ficar com minha boca suja.
- E correr o risco da Ange aprender.
- Merda.
- quatro. Levanto e abro a bolsa tirando a bolsinha de moedas.
- Sua vaca mecenaria, para que voce precisa de moedas? Ela rir e estende a mão, onde deposito quatro euros.
- Vão para o cofrinho dela. Ela diz colocando as moedas no cofrinho da Ange, mamãe comprou um porquinho e meu quarto se transformou um pouco no dela.
Volto a sentar na poltorna puxando as pernas para mim.
- O que há de errado?
- Eu não consigo escrever sobre mim, não poderia falar das células ou do coração, ou de cada costela?
- Não é uma biografia de Karol Sevilla não um livro médico. Qual a sua dificuldade?
- Falar sobre mim.
- Anos atrás você era tímida recatada e do lar.
- O que isso quer dizer? Eu ainda sou tímida, recatada e do lar. Ela rir.
- Pare de rir.
- Porque não começa por ai, depois vem a parte divertida e depois.... Faço uma careta e observo seu maxilar travar, e sei muito bem o porquê.
- Não vou falar dele, é uma parte da minha vida que quero esquecer.
- Tem razão ele não tem que aparecer, bem só na parte em que o Rugge acaba com ele, essa poderia aparecer. Reviro os olhos.
- É outro idiota que não tem que aparecer no meu livro.
- Mas se ele é o protagonista do seu livro.
- Deus me livre, isola isso Carolina.
- Não se faça de songamonga isso não combina com você. Respiro fundo.
- Você deveria dar uma chance dele se explicar.
- E para que? Eu já li esse livro vou sofrer feito cão condenada.
- Você já está sofrendo, e ele não é tão culpado assim?
- Do que está falando?
- Você tem que deixar ele falar Karol.
- Você sabe de alguma coisa e não quer me contar.
- Eu não posso, é diferente, estou aqui para ajudar você a enxergar e trazer de volta a sua essência.
- Eu enterrei aquela Karol.
- Você tem que buscá-la, só então vai consegui seguir em frente.
Engulo em seco e olho para o computador.

Um mês depois estava saindo do hospital quando encontro a loira, Clara.
- Karol.
- Como vai Clara?
- Tudo bem, vim falar com o doutor Marcos. Não perguntei mas assinto.
- Já está de saída?
- Sim.
- Vai ser complicado esse mês não é? Franzo o cenho não entendendo.
- O Rugge fora para o treinamento, espero que dê tudo certo.
Como assim fora para treinamento, não fico para dar uma resposta a ela e entro no carro.

Chego em casa e tem uma mala na sala, a luz do quarto de Ruggero está acesa e ele vem saindo no momento em que chego na porta.
- A você chegou. Cruzo os braços e espero.
- Vou ficar fora por um mês e consegui com a Glória alguém para te ajudar com Ange.
- Como é?
- Meu treinamento começa em dois dias, amanhã cedo estarei saindo.
- E você só pensou em me dizer agora?
- Não era novidade que se eu passasse no cargo, que precisaria de treinamento.
- Então você conseguiu.
- Sim, tanto que estou indo para o treinamento.
- E eu sou a última a saber legal.
- Karol não é que tem muita gente para comunicar estou falando com você.
- É mas ela já sabia.
- Ela quem?
- Deixa pra lá Ruggero, vou dormir boa viagem. Falo e vou saindo ele segura meu braço me puxando para ele, e viro o rosto, ele segura com as duas mãos meu rosto virando para ele.
- Eu tentei várias vezes conversar, te explicar e você não me deixa falar, então deixei você com seu espaço, com seu tempo, estou indo e espero que esse tempo ajude, para que ao meu retorno esteja disposta a me ouvir.
Ele aproxima o rosto, e beija meus lábios só um selinho e se afasta entrando no quarto e fechando a porta.

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