Parte 45

181 17 100
                                    


Me manter em pé quando o caixão desceu foi difícil, se não fosse por Ruggero eu nem sei o que faria.
Acho que encontro forças em Ange e me apoio nele para conseguir me manter em pé.
Eu sei como é essa dor, já passei por ela, e só tem um remédio, o tempo.
Ele cura todas as dores, hoje sinto saudades do meu pai, da tia Lari e sei que um dia vou sentir apenas saudades de Carolina e Agustín mas enquanto esse tempo não passa.
A dor me consome, e estou tentando, juro que estou, empurra-la o mais fundo possível, para poder seguir em frente por ela, a pequena de olhos redondos cor de chocolate iguais ao da minha amiga.

Eu não previ isso, mas quando dei por mim já estávamos nos beijando.
Ele me ajudou com Ange, colocou ela para dormir e quando arrumamos em seu berço, tudo ficou em silêncio, parecíamos fazer promessas para a pequena velando seu sono, e ao sentir seu toque foi como voltar a anos atrás, quando tudo ainda era mais fácil, quando nós tínhamos nossos amigos, e quando nos entregamos inteiramente um ao outro.
Mas Felipe apareceu, e nosso beijo foi interrompido quebrando o encanto.

- Oi.
- Como você está? Que idiota claro que não está bem. Sorrio fraco e o chamo para minha casa, já que minha mãe passou por mim e vai ficar com Ange para Ruggero dormir.
- Eu não vou ficar, só passei para ver como estava, mas se você precisar de mim eu estou aqui, tenho plantão agora mas volto quando sair.
- Não precisa se preocupar eu vou ficar bem. Ele assente e me puxa para seus braços.

Entro em casa e resolvo tomar um banho e tentar descansar também.
E até consigo, quando acordo já é noite.

Quando acordar vem até aqui. Mamãe.

Ok vamos dar uma olhada na pequena.
Troco de roupa e arrumo o cabelo, quando saiu olho para a casa ao lado e resolvo ir até ele, precisamos falar do...
É do beijo.
Abro a grade que está só encostada e empurro a porta.
- Ruggero você... Desculpe não sabia que tinha visitas. Me viro louca para sair o mais rápido possível dali.
Ele tinha uma loira sentada em seu colo abraçada a ele.
- Karol espere. Ele chama mas já desci os degraus e atravesso a pista, mamãe me entrega a pequena e diz que já preparou a próxima mamadeira.
Então entro em seu quarto e fico ali na poltrona balançando.
As horas passam e resolvo por Ange no berço e deitar na cama.

Ela parece um reloginho a cada tres horas desperta com os pulmões a todo vapor para comer.
Levanto rápido e pego ela em meus braços e corro para a cozinha.
- Deixa que eu seguro ela pra você.
- Que susto, não sabia que estava aqui.
- Eu... Eu fiquei para ver se precisava de alguma coisa.
- Não, estamos bem.
Coloco ela no carrinho e começo a preparar a mamadeira.
- Você poderia deixar eu te ajudar.
Ele tenta pegando a mamadeira e puxo de volta.
- Eu não preciso de ajuda, você pode vir amanhã de manhã ficar com ela.
Pego Ange do carrinho e entro no quarto fechando a porta, sento na poltrona e ponho ela para mamar, fecho os olhos tentando controlar todos os meus nervos.
Ela volta a dormir e ponho em seu berço.

Ruggero não me deve nada, não temos nada, não posso descontar uma frustração que só existe em mim.
Na manhã seguinte aproveito que mamãe apareceu e corro em casa para tomar um banho, eu preciso ir até o hospital pegar as coisas de Carolina.

Não foi fácil esvaziar seu armário, guardar seu jaleco foi doloroso e ainda tinha o cheiro do seu perfume.

- Karol eu quero ser médica quando crescer e você?
- Eu também Caro é o meu sonho.
- Então vamos fazer uma promessa.
- Qual?
- Nunca vamos nos separar, vamos estudar juntas e seremos as melhores médicas de todo o mundo.
- Eu prometo.

- É doutora Carolina você não podia me deixar. Meu telefone toca e vejo o nome de Ruggero na tela não atendo, e ele volta a ligar e logo uma mensagem.
- Quer parar de me ignorar e responder a porra do telefone, meu pai tem algo importante para falar te esperamos na casa... Na casa deles.
Guardo tudo na caixa que trouxe, e saiu do hospital com todos que me abraçam ao passar por mim.

Estaciono o carro e pego a caixa entrando na casa deles.
Os pais de Agus estão ali.
- Boa tarde. Cumprimento e logo vejo Ruggero chegando na sala.
- O que está acontecendo?
- Nós viemos buscar a nossa neta.
- Como?
- O pai de Carolina não tem condições de crescer minha neta, nós temos e vamos levá-la.
- Espere aí um segundo, Ange não vai sair daqui para lugar nenhum.
- Eu entendo que você é madrinha dela, mas não é parente de sangue, ela tem que ficar com a gente, somos seus avós é uma parte do meu Agus.
- Boa tarde senhores, vejo que estão todos aqui.
Apoio a caixa e minha expressão não está nada boa, eu sei que não tenho tanto tempo livre, mas não posso deixar que eles fiquem com ela.
- Sentem-se tenho algo a contar.

Antes do nascimento de Angélica, Agustín me procurou com Carolina.
Franzo o cenho.
- Eles queriam deixar algo para a bebê.
- Como assim? Eles não sabiam que isso iria acontecer. Falo.
- Eles não sabiam, mas depois da cirugia. Ele olha para mim.
- Carolina como toda mãe, sentia medo se algo acontecesse a ela ou a Agus ou aos dois e a pequena ficasse sem alguém de referência.
- Mas que absurdo ela tem a nós. A mãe de Agustín interrompe e reviro os olhos.
- Senhora eu sei que ela tem os avós, mas como já disse Ange não sai daqui.
- Sinto muito mocinha mas você não é ninguém para decidir alguma coisa aqui, a neta é minha, meu filho não está eu que assumo.
- Vamos se acalmar e deixar meu pai falar.
- Sinto muito Lúcia, mas a guarda da pequena Angélica é da Karol e do Ruggero.
- O que? Arregalo os olhos e Ruggero está do mesmo jeito.
- Isso é um absurdo.
- Foi uma decisão dos pais deixarem com os padrinhos. Ele entrega uma espécie de testamento e a documentação da guarda.
- Isso é...
- Surreal. Ruggero completa.
- Eu não posso aceitar isso, nós vamos entrar com um pedido de guarda, não é querido?
- Sim é nossa neta.
- Não tiro o direito de vocês, mas essa era a vontade do seu filho vocês não deveriam respeitar. O pai de Ruggero fala.
- Bruno nós prezamos muito a nossa amizade, mas não vamos ficar sem nossa neta. Ela fica em pé e vai saindo e o marido a acompanha. Balanço a cabeça negando.
- Nem morta eu deixaria Ange ir com eles.
- Agora vamos a vocês dois, existe a possibilidade dela contestar isso aqui, mas por ser a vontade do Agustín e da própria Carolina dificilmente eles vão consegui, mas eles incluíram cláusulas específicas, justamente para não deixar qualquer brecha.
Olho para o papel mas não consigo ler, já começo a ficar nervosa.
- Que cláusulas são essas?
- Eles deixaram uma herança para Angélica, mas ela só terá acesso quando completar dezoito anos, de agora em diante tudo depende de vocês dois.
- Isso não é problema. Falo.
- De maneira alguma. Ruggero concorda.
- Essa casa está no nome de Angélica e eles pedem que ela cresça em sua casa, onde a recordação dos pais é maior.
- Sem problemas. Ruggero acena também.
- A ultima e a mais importante, vocês tem que morar na mesma casa.
- Como?
- O que?
- Para que esse pedido seja reconhecido, vocês deveriam viver na mesma casa ou seja aqui.
- Eu não quero morar com ele/ ela. Falamos juntos e nos encaramos.
- Vocês vão ter que entrar em um acordo, ou moram na mesma casa, ou a Ange pode ser entregue aos avós, ou até mesmo um orfanato.
- Orfanato? Meu Deus. Levanto com a mão na cabeça e volto a olhar o papel, agora lendo com cuidado cada cláusula, e no final tem a assinatura dos dois.
Abaixo o papel e vejo a foto deles.
- Que porra vocês inventaram.







Meu Clichê Onde histórias criam vida. Descubra agora