SETEMBRO, 2012
— Pai, a gente vai se atrasar! — Elisabeth exclamou, olhando preocupada para o relógio do celular, os números seis e 35 brilhando na tela de bloqueio.
Mentalmente, ela lembrou os detalhes do convite enviado pela assistente de Dieter Zetsche, presidente do conselho de diretores da Daimler. A mensagem dizia que o jantar seria às sete horas, na sexta-feira à noite, no restaurante Edvard. Isso significava que eles precisavam estar no coração de Viena em menos de meia hora.
— Para de me apressar — o pai dela resmungou, a voz abafada pela distância entre a sala de estar do apartamento e o quarto.
— Você não pode simplesmente deixar as pessoas esperando, pai — ela argumentou, colocando o telefone na bolsa preta. Porém, algo a dizia que ela já tinha perdido aquela discussão. O pai dela era muito teimoso para ceder um centímetro que fosse.
— Posso sim, Elisabeth — ele respondeu.
Ela respirou fundo, tentando manter a calma.
— Pai, é o seu primeiro jantar como diretor não-executivo da Mercedes.
Então, finalmente, o pai dela apareceu, usando um blazer escuro sobre um suéter cor de creme. Nas mãos, ele segurava um dos seus famosos bonés vermelhos, este com a logo branca da Novomatic, a nova parceira pessoal dele, na frente.
— Com ou sem? — ele perguntou, colocando o acessório na cabeça, cobrindo os ralos fios brancos.
— Com. Sempre — ela disse, sorrindo.
Ver o pai sem o boné vermelho sempre fez Elisabeth se sentir estranha. Não era por conta das cicatrizes que o acessório escondia com estilo e uma certa irreverência, mas simplesmente por aquela ser a marca registrada dele desde que ela se entendia por gente. Até mesmo na pré-escola, todos podiam saber quais eram os desenhos dela simplesmente buscando por aquele que mostrava uma mulher de cabelos castanhos acompanhada de dois garotos e uma garotinha, bem como um cão marrom, todos amontoados ao redor de um homem de boné vermelho.
Para ela, aquele acessório era uma característica irrevogável de Niki Lauda. E nem mesmo a mais formal das ocasiões mudaria isso.
O pai dela sorriu.
— Vamos lá, Elisabeth.
— Finalmente, senhor Lauda! — ela disse, rindo. Elisabeth se dirigiu até o hall de entrada do apartamento, onde Niki pegou as chaves do carro — Nós temos menos de meia hora pra chegar no restaurante.
Sem responder a filha, ele continuou o caminho até a garagem, onde o seu amado Jaguar verde estava esperando por eles. Se acomodando no banco do passageiro e colocando o cinto de segurança, Elisabeth não pode deixar de se sentir um pouquinho inquieta sobre toda aquela situação, por mais que não fosse nenhuma novidade para ela.
Nascida numa família austríaca tradicional com raízes industriais, ela sempre teve orgulho de ter herdado o gosto pelos negócios do avô, ao contrário dos irmãos, que eram duas almas rebeldes como o pai deles. Porém, com a aptidão para a mesa de negociação, bem como um diploma da prestigiosa Universidade de Viena, Elisabeth logo se tornou a grande parceira de Niki nas empreitadas dele no mundo da aviação civil.
Porém, havia limites que ela nunca ousava cruzar. Um deles era o mundo da Fórmula 1. Aquele, somente o pai dela podia cuidar, como ele mesmo dizia para ela com um brilho travesso nos olhos azuis. E considerando que, desde a infância, ela tinha deixado a velocidade para Mathias e Lukas, Elisabeth estava até feliz em permanecer longe daquela bagunça.
Bem, até aquele momento.
Niki parou em um sinal vermelho, tamborilando os dedos levemente no volante. Ela tomou aquele momento para buscar pelo telefone na bolsa e verificar o horário. Quando a tela acendeu, Elisabeth viu que faltavam 15 minutos para o encontro com os executivos da Mercedes Benz Grand Prix Ltd.
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Starcrossed
FanfictionQuase 30 anos após o seu último titulo mundial de Fórmula 1, o pai de Elisabeth Lauda decide investir na Mercedes, uma equipe que passa por dificuldades para se firmar após o seu retorno para a categoria mais nobre do automobilismo. Ela resolve se j...