Não sou um bebê

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JUNHO, 2018

Deitada na cama, a mão de Elisabeth acariciava de leve o pequeno ponto elevado logo abaixo do umbigo. Ainda era cedo demais para que qualquer sinal da gravidez estivesse evidente, ainda mais considerando que ela não era muito magra. Porém, ela já conseguia perceber a diferença, especialmente na hora de fechar as calças.

— Parece que alguém finalmente resolveu aparecer.

Virando o rosto para o lado, ela encontrou Toto olhando fixamente para a barriga dela, um sorriso largo no rosto.

— Você acha? — Elisabeth perguntou, enquanto ele se acomodava na cama ao lado dela. Pousando a mão sobre o abdômen dela, o polegar dele roçava no tecido da camisola numa carícia delicada.

— Acho — Toto respondeu — O que significa que o nosso aprikose tá crescendo muito bem na sua barriga.

— O aplicativo disse que ele tá do tamanho de uma pera agora — ela murmurou, colocando a mão sobre a dele.

— Ele vai ser sempre o nosso aprikose , e você sabe disso. O nosso aprikose lindo e precioso.

Dando um sorriso, Elisabeth aproximou o rosto do de Toto, dando um beijo delicado nos lábios dele. Ela adorava aqueles momentos, em que os dois estavam sozinhos, saboreando a intimidade e a emoção de dividirem um segredo único e especial. Porém, a alegria se transformou em confusão quando ela se afastou ligeiramente dele e encontrou uma expressão preocupada.

— Você tá bem? — ela perguntou baixinho, levando uma mão até a bochecha dele.

— Sim, tá tudo bem — Toto respondeu, forçando um sorrisinho.

— Não, eu sei que não tá. Me fala, o que aconteceu?

Com a expressão se fechando quase automaticamente, ele suspirou pesadamente.

— É a Rosa.

A preocupação tomou conta do peito de Elisabeth de forma quase automática. Todos aqueles anos de convivência fizeram com que ela desenvolvesse um carinho genuíno pelos enteados dela. E era esse carinho que tornava a ideia de não ter percebido algo de errado antes com a menina que fez com que ela sentisse uma pontada de culpa.

Porém, ao recebê-los na cobertura para o final de semana que passariam juntos, Elisabeth não percebeu nada de diferente com eles, muito pelo contrário. Ambos pareciam animados em estarem ali, dando abraços e beijos no rosto dela, perguntando como ela estava e se tinha melhorado do mal estar.

— Aconteceu alguma coisa com ela?

— A Stephanie disse que ela tá estranha — ele explicou — Mais quieta do que o normal, sabe?

— Ela perguntou o motivo?

— Sim, mas a Rosi desconversou, disse que não é nada. Mas ela tem certeza de que aconteceu alguma coisa e que ela tá escondendo isso da gente.

— Você tentou conversar com ela? Talvez...

— Até tentei, mas ela esbravejou que eu só tava perguntando porque a mãe dela mandou e que ela não queria falar sobre aquilo — Toto disse, bufando — E eu tô preocupado, Liesl. O que pode ter acontecido que ela não quer falar pra gente? Por que ela tá tão resistente a falar sobre isso?

— Bem, pode ser algo que ela pense que seja bobo e não queira compartilhar pra não nos incomodar, por assim dizer — ela respondeu — Quando eu tinha a idade dela e tava passando por aqueles... Problemas na escola, eu não quis falar pros meus pais porque eu achava aquilo bobo demais.

— Bullying não é algo bobo, Liesl. E você sabe que devia ter falado pros seus pais na primeira oportunidade sobre isso.

— Eu sei, querido, mas, eu não queria incomodar os meus pais com os meus dramas adolescentes...

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