Starcrossed

O que você não faria por amor

AGOSTO, 2016

Sentada dentro da Mercedes C-Class preta estacionado na frente do prédio dos pais em Alsergrund, Elisabeth já estava olhando para a estrela prateada embutida no volante por mais de cinco minutos. Ela estava sentada em completo silêncio, respirando fundo e tentando afastar o nó na garganta e as lágrimas que não paravam de brotar nos olhos dela.

Era como se, toda vez que ela tocasse na maçaneta do carro para abrir a porta, alguma lembrança das últimas 48 horas da vida dela enchesse a mente dela, como um soco no estômago. Ela não tinha ideia de onde elas estavam vindo.

Depois que Toto acidentalmente postou fotos dos dois, não havia mais sentido em fugir. Era real, oficial e público. O mistério tinha sido resolvido. Elisabeth Lauda era a mais nova conquista do investidor, empresário e notório playboy Toto Wolff. Tinha sido reportado daquela forma na capa do OE24, um dos principais tabloides de fofocas da Áustria. As palavras foram impressas junto com uma imagem dos dois juntos no jantar de gala da IWC alguns meses antes.

Ainda pior do que ver o próprio rosto estampado na capa de uma revista em um mercado perto da Stephensplatz, foi ver a maneira como as pessoas ao seu redor reagiam ao ler o artigo. Uma mãe e uma filha no caixa ao lado estavam lendo a revista enquanto estavam na fila para pagar as compras delas. 

Suas expressões de descrença ao verem que a mulher glamourosa da capa, que usava um vestido preto e um batom vermelho era a mesma das páginas internas da revista — curvada sobre uma doca em um biquíni preto, entregando um sorvete para uma garota num parque — bem como a mulher que estava ao lado delas, com o cabelo preso num coque bagunçado e usando um moletom enorme eram assustadoras, para dizer o mínimo. Mas ainda pior eram os comentários que faziam em voz alta, quando Elisabeth tinha certeza de que não estavam vendo ela escutar a conversa delas.

— Como um homem tão bem-sucedido como ele tá com essa garotinha estúpida? — disse a mulher, mostrando a imagem para a filha. A garota assentiu e riu.

Quando voltou para a cobertura, Elisabeth colocou as sacolas em cima da ilha da cozinha e se recostou na bancada de pedra, respirando fundo. Era como se ela tivesse voltado para a escola, revivendo o inferno pelo qual os colegas a fizeram passar. Só que desta vez em uma escala ainda maior.

— Liesl? — Toto disse, parado na porta da cozinha.

— Sim — ela disse, abrindo uma das sacolas e tirando os produtos de dentro. Seus olhos estavam cheios de lágrimas.

— Tá tudo bem?

Elisabeth respirou fundo, sem ousar olhar para trás. Ela não queria que Toto a visse chorando.

— Sim — ela disse baixinho, o aperto na garganta estrangulando sua voz.

— Aconteceu alguma coisa no mercado?

A lembrança da risada da garota fez com que uma lágrima escorresse por sua bochecha. Elisabeth passou a mão pelo rosto, enxugando-o.

— Não, não aconteceu nada.

Ela ouviu passos atrás dela e, de repente, um par de mãos pousou em sua cintura, fazendo-a girar no próprio eixo, encontrando os olhos escuros de Toto. O lábio inferior dela começou a tremer e, alguns segundos depois, ela desabou nos braços dele, as lágrimas molhando a camiseta cinza que ele usava.

Aquilo tudo era demais para ela.

O som de algo vibrando trouxe Elisabeth de volta à realidade. Ela procurou por seu telefone, encontrando-o no console à sua direita. A tela estava ligada, com o nome de Toto brilhando em letras grandes, junto com uma foto que ela tinha tirado dele de forma discreta enquanto ele lia algo perto da lareira. Ela sorriu ao atender a ligação.