Confiança

777 65 29
                                    

NOVEMBRO, 2013

Elisabeth bateu a porta do carro preto com uma força completamente desproporcional ao que era necessário para fechá-la, mas proporcional a raiva que ela sentia. O som causado pelo impacto chamou a atenção de dois empregados, que estavam parados na frente do prédio curvilíneo, os olhos se arregalando à medida que ela se aproximava.

— Bom dia, Elisabeth — um deles a cumprimentou com um sorriso no rosto.

— Bom dia — ela respondeu secamente, sem ao menos olhar pra ele. Os passos dela eram pesados enquanto entrava no lobby da sede da equipe em Brackley, focada em uma única missão.

Confrontar Toto Wolff.

Elisabeth tinha recebido um email de Bradley Lord, o diretor de comunicações da equipe, na noite anterior. A mensagem continha o link para um artigo — uma entrevista exclusiva da revista Motorsport com Ross Brawn, que tinha acabado de se despedir da equipe depois de uma temporada turbulenta. A saída dele tinha sido bem discreta, portanto, havia uma certa surpresa em vê-lo dando uma entrevista para a imprensa.

A relação pessoal dela com Brawn era cordial, mas era impossível não perceber que havia algo estranho no ar quando ele estava junto com Niki e Toto. A harmonia que existia entre os três naquele primeiro jantar em Vienna tinha sumido por completo. Na visão dela, a razão para aquela animosidade entre eles era o simples fato de que haviam muitas pessoas querendo mandar na mesma equipe. E a entrevista dele confirmou as suspeitas de Elisabeth.

Porém, ela não esperava que as revelações dele fossem tão duras.

— O que aconteceu na Mercedes foi que fui forçado a trabalhar com pessoas nas quais eu não podia confiar — ela murmurou, lendo a manchete da matéria, largando a xícara de chá de camomila que ela estava tomando completamente incrédula.

O resto da entrevista fez com que o estômago dela revirasse, com Brawn alegando estar desapontado com a abordagem que Toto e Niki tinham em relação ao negócio. Porém, o que fez com que ela dirigisse quase duas horas, do apartamento dela no Soho até Brackley, foi a declaração de Ross sobre a contratação de Paddy Lowe como o diretor executivo mais cedo naquele ano. De acordo com Ross, Toto colocou toda a responsabilidade da decisão em Niki.

— Mentiroso — ela rosnou, apertando os punhos.

Ela estava presente no jantar em que a questão foi discutida. Tinha sido ideia de Toto o convite para Lowe se juntar a Mercedes a partir de 2014. O pai dela era contra a ideia, dizendo que seria melhor conversar com Ross sobre aquilo antes de assinar qualquer coisa com Paddy.

"Como ele pode ser tão baixo?", ela pensou, travando o maxilar.

Com o clique dos sapatos de salto pretos ecoando pelo piso cinza, Elisabeth entrou no prédio em silêncio, o rosto numa máscara carrancuda. A mão direita apertava com força a alça da bolsa preta que estava colocada sobre o ombro dela. A estante de troféus estranhamente vazia e o W03 expostos no foyer eram apenas borrões na visão periférica dela enquanto ela caminhava em direção ao elevador.

— Bom dia, senhorita Lauda — ela parou quando ouviu Alina, a recepcionista, a cumprimentar calorosamente. Quando Elisabeth virou na direção dela, ela concluiu que a expressão dela devia ser assustadora, já que fez o sorriso no rosto da mulher desaparecer abruptamente.

— Wolff tá aqui hoje? — a voz dela saiu fria como gelo.

— Sim, senhorita Lauda — ela respondeu, timidamente.

— Ótimo — ela murmurou, continuando na direção do elevador em silêncio, o clique dos saltos seguindo ela.

As portas de metal se abriram e Elisabeth entrou, pressionando o botão que levava ao terceiro andar. Assim que as portas prateadas se fecharam, ela se virou para o espelho no fundo do elevador, examinando o próprio reflexo. Vestindo um casaco preto com um cachecol vermelho enrolado no pescoço, ela parecia elegante. No entanto, a irritação dela era clara na sua postura e na sua expressão.

StarcrossedOnde histórias criam vida. Descubra agora