Distantes

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JUNHO, 2016

A brisa suave fazia o cabelo dela balançar. Sentada no chão da varanda, encostada em um dos pilares brancos, ela observava o horizonte, imersa nos próprios pensamentos. O sol brilhava forte, iluminando o gramado que se estendia pelo quintal do casarão e as árvores que cobriam as colinas em frente às casas brancas espalhadas ao longo da costa, até onde as areias se encontravam com o azul profundo do Mediterrâneo.

Aquela era Ibiza. A maior parte do mundo a conhecia pelos festivais de música eletrônica e festas durante o verão. Era um dos destinos mais procurados da Europa, principalmente pelos jovens que buscavam sol, bebida e diversão nas exuberantes praias e casas noturnas que pontilhavam a ilha.

Para Elisabeth, porém, Ibiza era simplesmente um lar.

A afeição dela pela ilha era algo de berço. Sua avó materna, Elena, era espanhola e adorava aquele lugar. Ela costumava passar temporadas em Ibiza com o marido, o pintor impressionista Robert Knaus. Após a morte do avô de Elisabeth em 1975, Elena decidiu estabelecer residência permanente em Ibiza com os dois filhos mais novos, Renate e Tilman, enquanto a filha mais velha, Marlene, construía a carreira de modelo no continente.

Logo depois que a família se mudou para a ilha, Marlene foi visitar sua mãe e seus irmãos, para ver como eles estavam passando naqueles primeiros meses sem Robert. Também foi naquela época que a família conheceu Niki, que era um amigo de Marlene — pelo menos foi o que ela tinha dito para eles. Claro que a mãe dela não acreditava que um homem que tinha viajado de Viena a Ibiza só para ver sua filha era apenas um amigo dela, mas ela não questionou isso.

Durante aqueles dias sob o sol espanhol, Niki não só se apaixonou ainda mais por Marlene, como também pela própria ilha. A vida em Ibiza era vivida em um ritmo diferente — tudo era mais lento, mais relaxado, mais quente, terno. Era um grande contraste com sua agenda normal, impulsionada por longas viagens, foco nos resultados e no perigo do esporte que praticava. Era como se Niki tivesse sido apresentado a um mundo totalmente novo, onde havia encontrado algo que ele normalmente evitava a todo custo, por medo de afetar seu desempenho nas corridas.

Felicidade.

Ele e Marlene se casaram alguns meses depois, em um cartório de Viena, praticamente na calada da noite. Alguns meses depois, eles compraram uma mansão na ilha. Ela tinha sido projetada no estilo balear e tinha uma vista deslumbrante da cidade principal, com suas casas brancas pontilhando a costa. Niki se refugiou lá após seu acidente em Nürburgring. Ele também fez questão que os filhos passassem os primeiros anos de cada uma de suas vidas naquele lugar, longe dos holofotes e da pressão da mídia que vinha de ter um pai famoso.

De todos os filhos de Niki, Elisabeth era a que menos tempo tinha passado na ilha, devido ao fato de que Lukas e Mathias estavam em idade escolar na época em que ela nasceu, e o pai dela insistiu que fossem educados em Viena. No entanto, isso não impediu que a caçula da família Lauda desenvolvesse um carinho especial por Ibiza e criasse suas próprias memórias lá.

A infância dela foi repleta de caminhadas na praia, brincadeiras com Tasso e Luna no gramado em frente de casa e aulas de equitação com o tio Tilly no pônei que ele tinha dado de presente para ela em seu quinto aniversário. Haviam também escapadas com o pai para mergulhos no Mediterrâneo quando deveriam estar no mercado de Santa Eulària, comprando o que fosse que Marlene tivesse pedido para eles. As lembranças mais felizes da vida de Elisabeth tinham acontecido naquele pequeno pedaço de terra, até que um homem em particular entrou em na vida dela e virou tudo de cabeça para baixo.

Pensar em Toto fez Elisabeth sentir algo estranho no peito, uma sensação à qual ela não estava mais acostumada depois de quase dois anos de namoro. Era a sensação de algo que faltava, como se alguém tivesse roubado um pedaço dela.

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