Essa festa virou um enterro

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FEVEREIRO, 2016

Sentada em seu Mercedes C-Class preto em um sinal vermelho no Innere Stadt, Elisabeth tamborilava os dedos no volante distraidamente. Desde que ela e Toto deixaram a cobertura dele para ir para Lichtental, ela se sentia um pouco estranha. Os seus lábios estavam secos e as suas mãos estavam frias.

No entanto, ela estava mental e fisicamente inquieta, e isso se refletia na maneira como ela estava agindo naquele momento.

— Liesl? — a voz de Toto a tirou de seus pensamentos — O sinal tá verde.

Ela piscou, olhando para o semáforo. Atrás dela, um motorista buzinou, certamente reclamando da demora dela em passar pelo cruzamento. Elisabeth bufou e colocou o carro na primeira marcha, depois que ela tentou acelerar sem ajustar o câmbio. Ela nem precisou desviar o olhar para saber que Toto a observava, lendo-a como um livro, tentando descobrir o que a estava incomodando.

— Você tá nervosa — ele disse.

Elisabeth lançou um olhar de soslaio para ele, forçando um sorriso.

— Claro que não, querido.

— Você tá nervosa, Liesl.

— Toto, eu tô perfeitamente bem — ela rebateu, olhando para a rua.

— Elisabeth, eu te conheço bem o suficiente para saber quando você tá bem e quando não tá — ele argumentou — E agora, você tá nervosa.

Ela bufou.

Levou apenas alguns segundos de silêncio para Toto falar novamente.

— Liesl, me fala o que tá te deixando nervosa...

— Caralho, Torger, não tô nervosa! — ela exclamou, olhando para ele novamente.

— Cuidado! — Toto gritou de volta, apontando para algo na frente dela.

Elisabeth voltou a cabeça para a estrada, pisando fundo no freio quando percebeu que estava praticamente em cima de uma faixa de pedestres, onde uma senhora atravessava devagar, segurando uma bengala. O guincho dos pneus contra o asfalto fez a idosa pular de susto. A pedestre olhou para ela, gritando uma série de palavras indelicadas. Nem mesmo seus gestos de desculpas serviram para acalmá-la.

— Porra — ela sussurrou, com o coração disparado no peito.

Toto estava certo.

Ela estava definitivamente nervosa.

— Tem certeza que tá bem, amor? — Toto perguntou a ela, tocando sua perna.

— Sim, sim. Eu tô apenas...

— Nervosa?

— Sim — Elisabeth finalmente admitiu, engatando a primeira marcha e acelerando novamente. O silêncio se estendeu dentro do carro.

— É por causa do Mathias, não é? — Toto perguntou.

A menção do nome de seu irmão a fez cerrar os dentes e apertar o volante, os nós dos dedos ficando brancos. Ela não o via desde o fatídico Natal na casa dos pais. Ela nunca mais queria vê-lo, especialmente depois dos comentários rudes que ele tinha feito durante o jantar. No entanto, lá estava ela, em uma tarde de sábado, parada no trânsito a caminho do apartamento dele, perto de Sobieskiplatz. No entanto, era por um motivo especial. Afinal, Elisabeth ia visitar o sobrinho, o aniversariante e o garotinho que ela mais amava no mundo inteiro. Lenny.

Ela não esperava o convite para a pequena comemoração que Mathias e Claire iriam fazer, principalmente depois de tudo que seu irmão tinha visto, dito e feito contra ela e Toto.

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