[EXTRA] A raiva sempre deixa um buraco

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NOVEMBRO, 2016

Babcia, você vai tá ocupada nesta sexta-feira? Por volta das sete?

— Acho que não, Bene — Joanna respondeu, caminhando até o calendário de parede pendurado em sua cozinha. O neto tinha ligado para ela quando ela terminava de jantar. Ela enfiou o telefone entre o pescoço e o ombro enquanto virava a página de outubro para novembro. Já era hora, de qualquer maneira. Não havia nada rabiscado para sexta-feira, no dia quatro. "Como já pode ser novembro?", ela se perguntou — Parece que tô livre. Por que a pergunta?

— Bem, o pai e a Elisabeth vão fazer um jantar de aniversário pra mim, porque os dois tão no México agora. O pai não queria que saíssemos como costumamos fazer porque aqueles repórteres ainda tão por aí.

Joanna suspirou. Ela não via o filho desde o dia seguinte ao jantar com ele e a namorada. Ela havia dito algumas coisas pra mulher das quais ela se arrependia. Ela estava apenas tentando proteger o filho de ter o coração partido, na verdade. Tanto que, quando ele apareceu com uma namorada que ela não se lembrava de ele ter mencionado namoro, ela disse à pobre mulher algumas coisas muito desagradáveis.

Toto foi ao apartamento de Joanna no dia seguinte e deu uma bronca nela. Ela inicialmente manteve as palavras que havia dito, mas quando Toto disse que não queria falar com ela até que se acalmasse o suficiente, ela começou a pensar sobre o que tinha dito, ruminando sobre elas, lembrando-se de como a raiva tinha subido pela nuca em pequenas alfinetadas enquanto ela falava com a pobre mulher — Elisabeth era o nome dela, Elisabeth Lauda.

Em retrospecto, isso a fez se sentir péssima. Ela não sabia quase nada sobre a mulher antes de chegar a uma conclusão, pensando que ela era apenas mais uma na longa fila de mulheres bonitas e superficiais que estavam atrás do dinheiro e da notoriedade que estar com o filho dela lhes daria. Não era como se Toto tivesse crescido rico. Longe disso — a riqueza dele tinha sido construída por ele mesmo, mas isso apenas significava que ele não tinha crescido sendo capaz de julgar o tipo de intenções que as pessoas tinham ao estabelecer relacionamentos com ele.

Era o que Joanna pensava.

Mas Elisabeth não precisava do dinheiro ou da notoriedade dele. Ela tinha uma carreira bem-sucedida própria, além de ser filha de um herói nacional da Áustria. Ela tinha passado mais tempo tentando evitar os holofotes do que procurando por eles, como ela veio a concluir.

O que parecia pior, porém, era não ter notícias do filho há meses e saber que ela merecia o silêncio dele. Ela tinha que descobrir as novidades da vida dele através da outra filha, Lili, ou pior — através dos tabloides. O relacionamento com Elisabeth acabou se tornando público e, segundo Lili, não tinha sido fácil para nenhum dos dois.

Toda vez que Joanna olhava para o telefone, ela tinha que lutar contra o desejo de ligar para Toto, para saber como ele estava, para se desculpar, para oferecer seu apoio — afinal, parecia que Elisabeth estava definitivamente falando sério sobre ele. Mas ela aprendeu a lição e respeitou os desejos do filho. Ela esperaria.

— Não sei se é uma boa ideia, Bene. Eu ficaria feliz em te levar pra jantar esta semana, se você quiser, apenas nós dois...

— Mas — Benedict parecia igualmente esperançoso e desapontado — Eu realmente queria fazer algo com toda a família, já que não podemos sair juntos como de costume. Minha mãe também vem. Até a tia Lili e o tio Gerard vão tá lá. Por favor, Babcia?

Joanna olhou para o quadrado vazio do dia 4 de novembro em seu calendário. Ela nem sempre tinha sido a melhor mãe para os filhos — ela admitia isso, agora, mas sempre tentou ao máximo garantir que era uma boa avó para os três netos. Isso não compensaria suas deficiências como mãe, mas ela não poderia mudar o passado. Seu relacionamento com os netos era algo sobre o qual ela tinha controle naquele momento.

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