MAIO, 2017
Elisabeth estava sentada no assento do jato, com os olhos fixos na tela do laptop, exibindo gráficos com a variação mensal do faturamento da Mercedes-Benz Grand Prix Ltd, bem como o lucro bruto dos últimos cinco anos. Os números já estavam ficando embaralhados na visão dele, mas ela não queria fechar o notebook e ficar sozinha com seus pensamentos.
Isso apenas a faria se sentir mais sozinha, especialmente por conta dos pensamentos que a levavam à última vez em que ela esteve ali.
Após a discussão com Toto, Elisabeth se resignou ao silêncio. Ela não tinha mais nada a dizer além do estritamente necessário. Tudo o que ela falava para ele era relacionado ao trabalho e com o mínimo de palavras possível. Ele tinha deixado claro que não se importava com a opinião dela. Ele havia classificado suas preocupações e medos como sendo parte de seu "ego de menina mimada" e que ele não se importava com eles.
— Eu também não me importo — Elisabeth lembrou-se de ter sussurrado, enquanto olhava para o teto do quarto de hóspedes, as lágrimas escorrendo pelas têmporas enquanto soluçava.
"Mentira", pensou ela, se recostando na poltrona e suspirando.
É claro que Elisabeth se importava com o que Toto pensava. Se não, porque ela sempre fazia questão de pedir a opinião dele? Ela sempre queria saber o que ele pensava sobre vários assuntos diferentes, fosse sobre um fornecedor da fábrica, ou se ela deveria colocar mais sal no frango que estava preparando para o jantar. A única coisa que ela esperava era que Toto também considerasse suas opiniões ao tomar decisões. Não deveria ter sido algo difícil de fazer, pelo menos em teoria.
Na prática, Toto parecia completamente incapaz de considerar o que pensava sobre algumas coisas. Ele a conhecia como a palma da mão, então quase sempre ele estava certo sobre a opinião dela, mas Elisabeth ainda queria que ele perguntasse a ela sobre certas coisas. Ela não queria sentir que sua opinião era completamente insignificante, como sentiu na noite depois que eles voltaram para casa. Ela estava ruminando sobre isso enquanto escolhia uma cápsula de espresso para colocar na máquina de café.
— Bom dia, Liesl — Toto disse atrás dela, fazendo algo dentro de seu peito apertar. Ela olhou por cima do ombro — Dormiu bem?
Ela se limitou a um som afirmativo, com medo de que sua própria voz a traísse. "Mentira", Elisabeth se repreendeu. Claro que ela não tinha dormido bem.
— Você vai pra fábrica agora de manhã?
— Sim — Elisabeth conseguiu dizer, enquanto pegava uma cápsula dourada e guardava o restante no armário.
— Achei que você iria de tarde comigo.
— Mudei de ideia — disse ela, enquanto abria outro armário em busca de uma xícara.
— Você nunca vai pra fábrica nas manhãs depois das corridas — Toto comentou, fazendo Elisabeth franzir os lábios. Ela nunca tinha ficado tão frustrada com o conhecimento que ele tinha dela do que naquele momento. Ela escolheu permanecer em silêncio e tentou se convencer de que era para seu próprio bem.
Mas Toto não fez o mesmo. Ele insistiu. Ele ironizou. Ele tentou a todo custo obter respostas dela enquanto a cafeteira sibilava e enchia a xícara dela, até que a frustração de Elisabeth transbordou.
— E como você pode tá falando sério quando me pede pra acreditar que se esqueceu de me dizer que vai ficar fora sabe-se lá quanto tempo pra participar de uma corrida?
— Foi exatamente isso que aconteceu, Elisabeth, e eu tô falando sério! — ele exclamou. Ela balançou a cabeça enquanto pegava a xícara da máquina. Mentalmente, ela chegou a uma conclusão dolorosa.
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Starcrossed
FanfictionQuase 30 anos após o seu último titulo mundial de Fórmula 1, o pai de Elisabeth Lauda decide investir na Mercedes, uma equipe que passa por dificuldades para se firmar após o seu retorno para a categoria mais nobre do automobilismo. Ela resolve se j...