Desconfiança

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DEZEMBRO, 2015

Elisabeth entrou no banheiro da suíte em silêncio.

Ela fechou a porta silenciosamente e caminhou em direção à pia, o olhar fixo no espelho.

Na frente da bancada, ela tomou alguns segundos para estudar o próprio reflexo. A maquiagem ainda estava bonita. O delineador destacava seus olhos e o batom rosa trazia um pouco de cor ao seu rosto.

As joias que ela escolheu para a noite eram mínimas — apenas pequenos detalhes de prata que complementavam o vestido que ela tinha escolhido.

Ela tirou os brincos um de cada vez, colocando-os na bancada de mármore cinza. Então, o colar se seguiu, junto com uma pulseira que ela estava usando no pulso direito. Então, ela examinou o anel em sua mão esquerda — um presente de Natal de Toto. Bem, de Toto, Ben e Rosi, como explicava o cartão que acompanhava a caixa de couro vermelha.

Elisabeth olhou para o círculo de platina com sua água-marinha cortada em esmeralda que envolvia seu dedo. Isso trouxe um sorriso ao rosto dela. Mas foi temporário, pois ela logo se lembrou do par de olhos castanhos frios que tinha passado um longo tempo olhando para o anel apenas algumas horas atrás.

Ela respirou fundo e deslizou o acessório do dedo, colocando-o com o resto das joias na bancada.

Então, Elisabeth se virou para entrar no box enquanto seus dedos pegavam o zíper na parte de trás do vestido. Quando o zíper se abriu, o tecido cedeu ao redor de seu corpo, caindo no chão em uma poça azul a seus pés. A delicada renda preta de seu sutiã e calcinha se juntou à peça. Ela tinha escolhido aquela lingerie com o único propósito de que outra pessoa a removesse mais tarde naquela noite, mais especificamente Toto. Ela queria que as mãos dele tirassem peça por peça, acompanhadas de elogios sussurrados e beijos na pele dela.

Não era para ser — agora, tudo o que Elisabeth queria era ficar sozinha.

Ela passou pelo box de vidro do chuveiro, abriu a torneira e esperou alguns momentos para entrar na água quente. Ela fechou os olhos e tentou se concentrar nas gotas que escorriam pela pele, a sensação reconfortante se espalhando pelo corpo, relaxando a tensão em seus músculos.

No entanto, a mente dela tinha outras ideias, uma infinidade de pensamentos se sobrepondo.

"Você já o decepcionou", dizia o irmão dela.

O nó em sua garganta apertou.

"Não se negue a chance de ser feliz", ela ouviu a voz do pai.

Seu lábio inferior tremeu.

"Eu te amo", Toto sussurrou com ternura.

A primeira lágrima escorreu por sua bochecha, misturando-se com a água do chuveiro.

"Você não tem nada além de um rostinho bonito para ele olhar e um corpo para ele aliviar o estresse do trabalho", disse uma voz feminina num tom frio.

Joanna.

A mãe de Toto.

Tudo começou algumas semanas antes. Elisabeth estava com Toto na cobertura dele em Viena. Ele estava no sofá da sala, relaxando enquanto o fogo crepitava na lareira, enquanto ela trazia duas xícaras de chá para eles. Depois de pegar uma das xícaras e agradecer, Elisabeth se acomodou ao lado dele, envolta em um de seus braços, observando as chamas da lareira. O silêncio se estendeu até Toto declarar que era hora de apresentá-la à mãe e à irmã, como ele mesmo dizia, "as mulheres mais importantes da minha vida".

— Acho que Rosi não ficaria feliz em ser excluída dessa lista — disse ela, num tom brincalhão.

— O que? Claro que ela tá nessa lista — Toto respondeu, com um sorriso sincero nos lábios — Assim como você.

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