Dejà-vu

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OUTUBRO, 2015

 O clima na garagem era de puro êxtase.

Os mecânicos andavam de um lado para o outro, com sorrisos largos no rosto e garrafas de champanhe nas mãos. Os engenheiros davam tapinhas nas costas uns dos outros ao passar, num gesto de companheirismo. Nas telas de televisão montadas nas paredes, as imagens alternavam entre replays do carro prateado com o número 44 dando sua volta de honra no circuito de Sochi e a cerimônia do pódio que acabara de acontecer, com Lewis, Sebastian e Sergio encharcando Andy Cowell com champanhe.

Observando os procedimentos com um sorriso, Elisabeth teve a estranha sensação de já ter estado aqui antes. Os sorrisos, as lágrimas, a agitação para reunir todos para a foto da vitória — tudo era muito familiar para ela. Mas, havia algo mais no ar também.

Apreensão.

Na última volta, após Valtteri Bottas e Kimi Räikkönen ultrapassarem Sérgio Perez, houve uma luta acirrada dos dois finlandeses pelo terceiro lugar. No entanto, o campeão de 2007 colidiu com o piloto da Williams. Enquanto Valtteri teve que se retirar da corrida devido aos danos da colisão, Kimi conseguiu levar sua Ferrari à bandeira quadriculada, ficando com o quinto lugar.

A combinação de resultados entre o finlandês e seu companheiro de equipe, Sebastian Vettel, juntamente com a saída precoce de Nico, impediram a equipe de comemorar o bicampeonato mundial de construtores na Rússia. No entanto, o pai de Elisabeth apontou o movimento imprudente de Kimi quase de imediato.

— Ele fez de propósito — Niki disse, taxativamente.

Ela arqueou uma sobrancelha enquanto olhava para ele.

— Do que você tá falando, pai?

— Räikkönen. Ele jogou o carro contra o Bottas. Ele deveria receber uma punição.

— Mas que punição? — Elisabeth perguntou, enquanto Lewis passava pela bandeira quadriculada na tela à sua frente.

— Um acréscimo de tempo ao tempo final da corrida — ele resmungou, vendo Sebastian e Sergio cruzarem a linha de chegada.

— Um acréscimo de tempo pode significar nosso título de Construtores — Toto disse, pegando seu celular enquanto pulava da cadeira. Mesmo antes de Lewis entrar no parc fermé, ele estava saindo pelos fundos da garagem. Ela ficou confusa enquanto observava o chefe da equipe sair com o pai dela nos calcanhares.

"Por que ainda não voltaram?", ela se perguntou, depois de alguns minutos. Elisabeth franziu os lábios enquanto observava a multidão ansiosa de mecânicos e engenheiros, que já seguravam estrelas prateadas gigantes e garrafas de champanhe nas mãos. Eles estavam apenas esperando para descobrir quais vitórias comemorariam naquele dia.

— Elisabeth — uma das estagiárias da equipe de marketing parou na frente dela com uma pilha de camisetas verde-água, ainda embrulhadas em plástico transparente — Quer uma camiseta?

Ela olhou para a blusa branca e as lembranças do ano anterior vieram a mente dela, quando foi encharcada de champanhe e se sentiu seminua em meio às comemorações do título, diante de dezenas de fotógrafos.

"Se não fosse o Toto", ela pensou , sorrindo.

— Sim, eu quero.

Ela recebeu uma das camisas e Elisabeth deu um sorriso agradecido para a garota, que continuou com sua missão de vestir o resto da equipe. Ela abriu o pacote e rapidamente olhou para a serigrafia branca, que apresentava as palavras "Race Winners", "F1 W05 Hybrid" e "2015" destacadas. Ela deslizou a camiseta sobre a blusa branca.

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