Promessa

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MARÇO, 2016

Elisabeth estava inquieta.

Ela estava sentada em uma das cadeiras estofadas azul-escuras em frente a uma mesa branca comprida, balançando o pé, o sapato escorregando do calcanhar. Os olhos dela estavam fixos em seus dedos enquanto ela mexia em uma caneta que a esperava quando ela chegou, junto com um bloco de notas e uma garrafa de água. Elisabeth girou o plástico azul e examinou o logotipo dourado entre as palavras "Amira" e "Air".

"Finalmente, vamos encerrar as coisas hoje", ela pensou, com a sombra de um sorriso surgindo no rosto.

As negociações para a fusão começaram em junho de 2014. Todo o processo foi longo, cansativo e repleto de obstáculos. Ela pensou em desistir e ir embora às vezes — parecia que não valeria a pena, dados os problemas com a frota de jatos executivos da empresa e os problemas organizacionais da empresa sediada em Schwechat.

Mas ela conseguiu, e Elisabeth estava agora sentada em uma sufocante sala de reuniões nos arredores de Viena, esperando para assinar um dos contratos mais importantes que ela já tinha negociado, graças ao incentivo de dois homens que insistiram para que ela persistisse.

O primeiro desses homens era o pai, Niki. Ele era um ex-piloto de Fórmula 1, tricampeão mundial. Ele odiava a ideia de perder, e odiava ainda mais a ideia de desistir de algo. Era um valor que ele incutiu em Elisabeth e nos dois irmãos dela desde cedo. Às vezes, porém, o tiro saia pela culatra — ele acabava, em diversas situações, tendo que lidar com três crianças extremamente competitivas que também eram avessas à ideia de desistir.

Ela estava agradecida agora, no entanto, pelas lições valiosas de sua infância — a perseverança diante dos desafios da fusão da Amira Air permitiu que ela passasse por isso. Mesmo quando ela não via outra saída a não ser desistir das negociações, ela se lembrava das palavras do pai para ela. "Desistir não é coisa que um Lauda faz", Elisabeth o ouvia dizer na sua mente, com um sorriso encorajador e um brilho de confiança nos olhos azuis.

Niki era movido por desafios, motivado por eles. E ela também.

O segundo homem era Toto Wolff. Ele era tão competitivo quanto Niki. Ele certamente não tinha a mesma carreira que o pai dela tinha tido, mas sob seus ternos e camisas monogramadas batia o coração de um piloto. Um piloto que odiava desistir e odiava perder tanto quanto Niki. Mas havia algo diferente em sua perseverança do que a teimosia obstinada do pai dela, algo que Elisabeth admirava. Era a maneira como ele exibia uma força mental incrível diante da adversidade, e ela tinha aprendido muito sobre aquilo enquanto trabalhava e convivia com ele.

Nos dias mais difíceis, quando ela achava que o vento contra ela era forte demais para continuar, Toto sempre estava ao seu lado para erguê-la, bater a poeira metafórica das roupas dela e dizer que confiava na capacidade dela de fechar o negócio nesta fusão. Elisabeth jamais esqueceria o sorriso no rosto dele quando ela disse para ele que, finalmente, a proposta havia sido aceita e a Amira Air passaria a ser de Niki.

— Eu sempre soube que você conseguiria, meu amor — ele disse, enquanto beijava sua testa e a abraçava com força. Apenas a lembrança daquele momento trouxe um sorriso ao rosto dela.

— Elisabeth? — uma voz masculina perguntou à sua direita.

Ela virou o rosto para ver Jannik Schneider, um dos executivos da Amira, olhando para ela. Ele era experiente e bem-humorado, e essencial para que aquele negócio se concretizasse. Ela definitivamente sentiria falta das reuniões deles, sempre repletas de copos de cappuccino e risadas.

— Sim?

— Tá tudo bem?

— Sim, sim — ela disse, balançando a cabeça — Só tava distraída, pensando...

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