Starcrossed

Coragem

MAIO, 2014

Elisabeth olhou para a embalagem de batom na mão dela, hesitando por alguns segundos antes de abri-la. Ao remover a tampa preta com uma estrela gravada no topo e girar a base dourada, ela viu o produto aparecer, num tom de vermelho vibrante. Era uma cor que ela não estava acostumada a usar nos lábios. Bem, até aquela noite.

Foi uma compra por impulso, feita algumas horas antes, numa perfumaria perto do Hôtel de Paris, onde ela estava hospedada para a corrida daquele fim de semana. Ela tinha percebido, quando estava olhando os produtos da sua bolsa de maquiagem, que ela não tinha nada em uma cor que chamasse a atenção — toda a maquiagem que ela tinha era numa paleta mais neutra, quase apagada. Geralmente, ela preferia que a maquiagem dela se parecesse o mais natural possível, sem exageros.

Porém, naquela noite, Elisabeth estava determinada a chamar a atenção — atenção de uma pessoa em específico.

Antes, ter algo além de uma relação de negócios com Toto estava fora de questão. No entanto, depois da conversa com Niki no avião a caminho do Bahrein, foi como se um interruptor tivesse virado na sua mente. A memória daquele dia em Brackley, do beijo naquela sala de conferências vazia, estava constantemente na cabeça dela. Antes, parecia proibido, mas agora, parecia uma possibilidade.

"Não se negue a chance de ser feliz", ela ouviu as palavras do pai na mente dela enquanto pressionava o batom contra os lábios, deixando uma trilha de vermelho vibrante para trás.

Com alguns toques leves do dedo contra os lábios, Elisabeth se examinou no espelho, sorrindo para o próprio reflexo. A cor era definitivamente perfeita para ela, como a vendedora tinha dito. Combinado com o delineado esfumado que ela estava usando, o resultado final estava incrível.

Ela colocou o batom de volta na bolsa e foi até a cama dela, onde o vestido que ela iria usar para o jantar estava estendido. Era uma silhueta simples — preto, justo e sem mangas. Ela tinha escolhido justamente por ele destacar os seios dela. Enquanto ela vestia a peça e puxava o tecido pelo corpo, Elisabeth percebeu que, talvez, não tinha sido a melhor ideia quando ela sentiu o zíper travar no meio do trilho.

— Merda — ela murmurou, indo até o espelho novamente para ver onde ele tinha ficado preso. Encontrando o puxador com os dedos, ela tentou puxar com cuidado, tentando levá-lo até o final, sem sucesso. Após alguns puxões menos gentis, para o alívio dela, ela sentiu o zíper fechar.

Elisabeth se virou para olhar o próprio reflexo, se analisando com cuidado dos pés à cabeça. Ela admirou a forma como o vestido contornava o corpo dela e começou a pensar se deveria ou não usar um colar. Ela pegou um que ela sempre usava — uma corrente fina de ouro com um pingente circular — e o segurou na frente dela, analisando-o. Ela ficou lá por alguns segundos antes de prender o fecho na parte de trás do pescoço.

"Quase pronta", ela pensou, andando até um canto da suíte e calçando o seu fiel par de saltos pretos. O clique dos sapatos contra o chão era um som reconfortante enquanto ela cruzava o quarto, em direção a cama, para pegar a bolsa dela. Elisabeth checou rapidamente se tudo que ela precisava estava ali, antes de sorrir, ao confirmar a hora no celular. Era a hora de descer para encontrar o pai dela para o jantar.

A caminhada até o hall de entrada suntuoso do Hôtel de Paris foi silencioso — ela não viu nenhum rosto conhecido no caminho. Quando ela saiu do elevador, ela foi até o centro do lobby, onde viu o pai de pé ao lado de um vaso gigante que estava colocado no foyer. Niki parecia um pouquinho impaciente, andando de um lado para o outro e olhando para o relógio no seu pulso insistentemente, como se ele fosse acelerar o tempo daquela forma. Porém, quando ele viu a filha, a expressão dele mudou para um sorriso irônico.