Um começo adequado

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NOVEMBRO, 2014

Elisabeth estacionou a Mercedes preta em uma das ruas paralelas à Stephansplatz. As ruas estavam silenciosas a essa hora da noite, em contraste com a agitação dos turistas que lotavam a praça ao redor da catedral de arquitetura gótica durante o dia, bem no centro histórico da cidade.

Ela pegou a bolsa no banco do passageiro e deu uma última olhada em sua maquiagem no espelho retrovisor. Cílios alongados com rímel, um leve toque de blush nas bochechas e um brilho sutil nos lábios. "Perfeito para um primeiro encontro", ela pensou, passando a mão nos cabelos — com os quais ela tinha lutado por uma hora para fazer um penteado interessante antes de decidir por deixá-los soltos — uma última vez antes de sair do carro.

A ideia de um primeiro encontro com Toto surgiu em uma das noites que passaram juntos. Os dois estavam nus, deitados na cama da suíte dela em São Paulo, recuperando o fôlego depois de mais um orgasmo incrível que ambos tinham tido. A cabeça de Elisabeth estava apoiada no ombro dele, as pontas dos dedos traçando figuras invisíveis sobre o peito dele, os olhos fixos no seu rosto.

— Qual é a sua ideia? — ela perguntou. Ele olhou para ela.

— Como sabe que tive uma ideia?

— Toda vez que você começa a pensar em algo, você olha pra um ponto no meio do nada. E aí, quando você tem uma ideia, você sorri — ela respondeu.

Toto a encarou por alguns segundos, antes de sorrir.

— Eu tava pensando em te convidar pra um encontro.

Elisabeth ergueu a cabeça, confusa.

— Você não acha que é um pouco tarde pra isso?

— O que você quer dizer com isso?

Ela se sentou na cama e gesticulou para os corpos nus.

— Bem... A gente meio que pulou algumas etapas, não acha?

— E não há nada que nos impeça de retomá-las, não acha? — ele disse, acariciando a base da coluna dela com os dedos. O sorriso que ele deu para ela fez as pernas dela virarem gelatina.

"Como eu pude resistir a você, Toto Wolff?", pensou Elisabeth, caminhando pela ruela que levava até a praça. O vento frio que soprava no centro da cidade a fez apertar mais o casaco preto em volta do corpo. Acelerando o passo, ela sentia o nariz arder com o ar frio a cada inspiração, chegando na entrada do prédio com as narinas completamente irritadas.

Parada em frente à porta de madeira escura, Elisabeth digitou o número do apartamento dele no teclado numérico do painel do interfone. Ele tocou algumas vezes antes de uma voz familiar atender.

— Sim?

— É a Elisabeth. Você poderia abrir? Tá frio aqui fora.

— Claro, Liesl — Toto respondeu, a voz com um tom bem humorado.

Ela colocou a mão na maçaneta, abrindo a porta assim que ouviu o zumbido da fechadura, bem como um clique. Fechando-a rapidamente para escapar do ar frio, Elisabeth caminhou pelo elegante saguão em direção ao elevador com uma certa ansiedade se acumulando dentro do peito. Ela entrou no elevador cor de cobre depois de apertar o botão que levava para a cobertura, e, quase automaticamente, a memória dela a fez recordar daquela véspera de Ano Novo, quase dois anos antes.

Muita coisa havia mudado desde aquela noite. Ela viajou pelo mundo, passou a apreciar o automobilismo e se tornou parte da história — não apenas da Fórmula 1, mas também de uma marca de renome mundial. Porém, o destino parecia ditar que, mesmo com tantas mudanças, ela voltasse ao mesmo lugar onde tudo tinha começado. No entanto, Elisabeth não era mais apenas uma convidada em uma festa, mas agora significava algo para o dono do lugar.

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