Starcrossed

[EXTRA] Ponto de ruptura

ABRIL, 2017

Toto apertou a mandíbula, o coração batendo forte no peito. Ele tinha acabado de se sentar na poltrona dele no avião, de frente para Elisabeth. Depois do que ela tinha falado, porém, ele não tinha coragem de olhar para ela. A voz dela estava densa de raiva enquanto ela revelava seus verdadeiros sentimentos.

Toto tinha plena consciência de que tinha errado com ela. Ele soube da intenção da Mercedes de entrar com o 300 SL na Mille Miglia em janeiro, quando Ola visitou a fábrica em Brackley. Toto ficou encantado com a ideia e se ofereceu para conduzi-lo imediatamente. O carro era uma obra de arte sobre rodas e sua razão foi consumida pela ideia de pilotá-lo em uma corrida tão histórica. No entanto, assim que ele e Ola voltaram ao escritório de Toto, Toto se lembrou de uma questão muito importante.

Ele precisava falar com Elisabeth.

Os dois tinham um acordo de longa data sobre a participação de Toto em corridas de qualquer tipo, ele falaria com ela primeiro antes de concordar em participar. Foi um compromisso que eles tinham firmado após uma longa conversa após a primeira corrida da temporada no ano anterior, na Austrália.

Ambos estavam exaustos devido ao jet lag após retornar ao Reino Unido. Toto preparou uma xícara de chá de camomila e sentou-se para assistir O Poderoso Chefão — seu filme favorito — para tentar relaxar. Ele verificou a hora em seu telefone e percebeu que não tinha visto Elisabeth sair de seu escritório por algumas horas, principalmente depois que ela disse a ele que queria colocar algumas demandas em dia. Ele preparou uma segunda xícara de chá, esperando poder convencê-la a parar de trabalhar e relaxar um pouco com ele.

Enquanto carregava as duas xícaras para cima, Toto ouviu um som estranho vindo do escritório de Elisabeth. Ele abriu a porta com pressa, fazendo com que um pouco do chá espirrasse das canecas. Ele viu Elisabeth, com o rosto enterrado nas mãos, soluçando.

Ele colocou as duas canecas no chão e se ajoelhou na frente dela. Ele deu uma olhada no que estava no monitor do computador dela, finalmente entendendo por que ela estava chorando. Na tela estava o vídeo do acidente dele em Nordschleife, em 2009. O vídeo estava pausado no momento em que ele tinha se levantado e saído do carro.

Na verdade, ele não se lembrava de desafivelar o cinto, desconectar o fone de ouvido do rádio, tirar as luvas, esticar as costas e pular a barreira de pneus na beira da pista. Ele tinha sofrido uma forte concussão, então suas memórias daquele dia eram estranhas, mas a única câmera que tinha resistido ao impacto conseguiu registrar tudo. O médico do circuito o encontrou desmaiado atrás da barreira, ainda usando o capacete e o dispositivo HANS.

— Por que você tá vendo isso, Liesl? — murmurou. Ele pegou o rosto de Elisabeth nas mãos e afastou uma mecha de cabelo de seu rosto.

— Fiquei pensando no que aconteceu com o Fernando no fim de semana — respondeu Elisabeth — Fiquei olhando o vídeo do acidente dele, pensando como podia ter sido pior, como ele podia ter morrido ali, bem na nossa frente.

De fato, um acidente desagradável entre Fernando Alonso e Esteban Gutierrez aconteceu naquele fim de semana. Foi feio, mas ambos saíram andando e ilesos do incidente. Ambos estavam bem. Aquilo ainda não explicava por que ela estava assistindo ao vídeo de seu próprio acidente.

— Eles tão bem, Liesl, você viu eles no paddock. Os dois escaparam sem um arranhão.

— Comecei a pensar em como esse esporte é perigoso, Toto. Aí eu comecei a ver vídeos de outros acidentes, vendo o que aconteceu com o Senna, com o Ratzenberger, e aí cheguei no vídeo do acidente do meu pai, depois no seu — ela conseguiu dizer, antes que sua voz se quebrasse e mais lágrimas escorressem pelo rosto .