Capítulo 36

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Compareço na casa de minha irmã, o que de certa forma é melhor do que ir para casa de meus pais e a espero na sua sala de estar enquanto ela termina de se arrumar. De dentro de seu quarto a ouço gritar:

– Lembra da história que deve contar?

– Eu estava fazendo intercâmbio, estou fazendo curso de ciências políticas nos Estados Unidos, sou o melhor da turma, blá blá. – grito de volta.

– Faça ser crível! – ela diz com tom de autoridade aparecendo na porta de seu quarto, mas logo voltando pra dentro.

– Eu não sei como posso fazer isso, eu não entendo nada sobre isso!

– Não interessa! No final você pode mudar de assunto falando algo sobre os desafios de fazer faculdade no exterior, falar como você sofre xenofobia pra tocar o coração deles, fazer um discurso motivador e pronto.

– Entendi! – digo respirando impaciente – Vou ser sincero com você, porque acho que posso!

– O que você está aprontando? – ela diz aparecendo na porta novamente.

– Nada! Eu só quero dizer que vou ficar um tempo por lá e quando eu for embora, simplesmente vou sair de fininho, sem avisar papai e mamãe.

– Justo! – ela deu de ombros me surpreendendo.

– Achei que iria reclamar! – murmuro.

– Changbin, eu não vejo necessidade de você ir a esses eventos. Isso é coisa dos nossos pais, porque sinceramente eles ainda esperam que você faça o que eles querem, acham que você apenas está em uma fase rebelde.

– A maior fase rebelde que eu já ouvi falar!

– Pois é, eu já estou fazendo o que eles querem, não vejo porque eles só não largam do seu pé!

– Eles bem que podiam adotar um cachorro e me esquecer!

– Tá brincando? Eles querem que tudo na vida deles tenha utilidade. Se forem arranjar um cachorro vai ser pra dar um emprego pra ele! – ela comenta me fazendo dar um riso nasalado, o que a fez sorrir também.

Nos olhamos por um momento até que ela anda até mim e se senta ao meu lado no sofá para dizer:

– Lembra que eu não sou sua inimiga! Eu sei que eles sempre nos compararam, nos colocaram um contra o outro e você se afastar deles significava você se afastar de mim também. – ela segura minha mão – Mas eu não acho certo o que eles fazem com a gente. Eu me rendi a isso e aprendi a viver assim, mas não acho que você precise fazer o mesmo.

– Obrigado! – digo baixo apertando sua mão.

– Vamos?

– Vamos!

Juntos nos levantamos e vamos para a garagem de seu prédio para que fossemos em seu carro. A viagem foi em sua maior parte silenciosa, mas minha irmã insistiu em alguns momentos em me dar algumas dicas sobre como me portar ou o que dizer em certas situações que ela achava que poderiam acontecer. Escuto tudo, mas não a respondo em nenhum momento. Me sinto tão nervoso em estar encontrando meus pais novamente depois de tanto tempo, que nem sei como agir.

Quando chegamos, ainda próximos da entrada, como se nos aguardasse, encontramos nossos pais. Minha mãe corre para me abraçar e beijar minha bochecha, ao que eu não reajo. Meu pai apenas me olha distante como se mais tarde estivesse aguardando para me dar uma bronca por ser malcriado. Mal sabe ele que quando ele menos imaginar, eu já estarei longe novamente. Entramos na festa e em pouco tempo já sou forçado a socializar com algumas pessoas velhas que não faço ideia de quem são. Na maior parte das vezes deixo com que meus familiares falem e fico apenas fingindo prestar atenção na conversa ou dou alguns sorrisos simpáticos para eles. De vez em quando perguntas eram dirigidas a mim, mas eu apenas respondia tudo como minha irmã havia me pedido para responder e logo eles faziam a conversa tomar outro rumo.

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