Chego em casa depois de apenas um telefonema para minha família falando que passaria o restante do fim de semana lá e sou prontamente recebido pelos meus pais na porta. Eles me abraçam e me convidam para comer algo, mas nego explicando que já havia comido. Insistiram que comêssemos uma sobremesa juntos, o que eu seria incapaz de negar. Todos nos unimos na sala para comermos o doce e conversarmos juntos como sempre fazíamos quando nos reuníamos, mas não tardou muito para todos se cansarem e irem pra seus quartos dormir.
Tomo um banho, visto meus pijamas e me jogo na minha cama confortável e familiar. Mas, independente do ambiente ser o mais agradável possível, eu não consigo ficar sem pensar nele com meu coração apertado. Viro de um lado por outro na cama e decido afastar os pensamentos para começar a relaxar e finalmente dormir, no entanto, noto ser uma tarefa impossível pra mim. Me levanto, finalmente me dando por vencido, e desço para o quintal. Me deito naquele mesmo sofá branco que ficava do lado de fora da casa, onde Changbin e eu compartilhamos uma madrugada sem dormir certa vez. Me cubro com a manta que fica jogada em cima do sofá e meus olhos começam a marejar ao lembrar daquele dia. Tanta coisa aconteceu desde aquele dia. Eu sentia falta daquele dia. Eu sentia falta dele.
Desde que terminamos, ele me ligou algumas vezes e mandou algumas mensagens, mas eu não o respondi ou se quer li o que ele escreveu. Ainda estava muito chateado e me sentia como se tivesse sido deixado pra trás.
– Eu bem notei! – me desperto dos pensamentos ao ouvir a voz de minha mãe passando pela porta da casa – Quando você chegou em casa hoje, eu vi nos seus olhos que você estava precisando de um colo. – minha mãe se senta ao meu lado e me puxa para seu abraço me fazendo sorrir.
Encosto a cabeça nela e sinto suas mãos em me cabelo, me fazendo fechar os olhos enquanto relaxo.
– O que tá apertando seu coração, meu bem? – ela pergunta doce.
– Eu não sei se me sinto confortável em falar. – disse baixo, ainda com meus olhos fechados.
– Não se sente confortável em falar do assunto ou em falar sobre isso comigo? – ela me deixa em silêncio por um momento – Não se esqueça que eu sou sua amiga e pode me contar o que quiser!
– Mamãe... – digo e respiro fundo enquanto reuno coragem pra dizer – Eu tô gostando de alguém!
– Hm, e isso não devia ser bom?
– É complicado!
– Por que?
– Porque... a gente se gosta, mas... Essa pessoa mentiu pra mim. Acho que as intenções foram boas, mas eu...
– Se sente feito de idiota?
– Sim!
– Eu conheço essa pessoa? – ela pergunta me fazendo ficar em silêncio de novo.
– Mãe... você entenderia se... É que eu...
– Amor, se você estiver falando de um menino, pode falar! – ela me corta, me fazendo olhar pra ela – Tá tudo bem! – ela diz com um sorriso.
Apenas sorrio de volta pra ela enquanto choro. Ela me puxa de volta para um abraço apertado tentando me acalmar.
– Eu te amo, querido! Independente de quem você goste, do que você sonhe, do que você faça, eu sempre vou te amar! – ela beija minha cabeça.
– Eu também te amo, mamãe! Obrigado!
– Mas e então, quem é o rapaz?
– Se lembra de Changbin? – questiono a olhando.
– Oh, o amigo de Chan que trabalha com você na loja? – ela pergunta surpresa.
– Sim! – digo sorrindo.
– Me lembro, sim! Parece um bom garoto! Ele mentiu pra você?
– Sim! Nós estavamos juntos e eu estava muito feliz porque gosto muito muito dele. Mas ele tem uma família complicada...
– Eu bem sei! A mãe de Chan me contou!
– Pois é. E eles estão forçando ele a fazer coisas contra a vontade dele e ameaçando ele caso ele não faça. Então ele está cedendo um pouco pra conseguir se livrar da situação, mas ele não me contou nada. Ele escondeu tudo, mentiu pra mim, porque não queria que eu me envolvesse... Mas, eu odeio mentiras, mãe. E eu sou o... Eu era o namorado dele. Ele não deveria mentir assim!
– Eu entendo, querido! – ela diz calmamente – É errado mentir mesmo, mas pelo que ouvi, a vida dele não é muito fácil! Eu nem imagino como é pra um filho não ter o amor dos pais e ainda por cima ser ameaçado por eles.
– Eu sei, mas...
– Querido, não estou tirando sua razão de ficar chateado. Ele deveria ter compartilhado com você sim tudo o que estava acontecendo. Mas ele nos conheceu. Ele viu como somos uma família completa e como você é amado, assim como Chan também é. Sem contar que, além de nós, você também tem os Bang como segunda família. Não pensou como deve ser vergonhoso pra ele falar sobre como a família dele é? Ou até como ele pode pensar que pode soar estranho pra você as coisas que eles fazem? – minha mãe diz me deixando em silêncio – Uma vez os Bang me contaram sobre Changbin ter fugido de casa e ter se escondido na casa deles porque os pais queriam mandá-lo pra um internato em outro país, apenas porque se cansaram dele.
– Porque se cansaram dele?
– Sim! Chan falava pra mãe que pelos motivos mais futeis eles queriam fazer grandes mudanças na vida do menino, como mandar ele embora. Diversas vezes ele veio se esconder aqui! Que tipo de pais fazem isso?
A pergunta da minha mãe pairou no ar.
– O pior de tudo é que você sabe mais sobre esse assunto do que eu. Ele nunca falou e sempre evita falar.
– E ele já falou o porquê?
– Disse que esse assunto é a última coisa que ele quer pensar quando está comigo!
– Talvez porque você faça ele se sentir amado do jeito que ele nunca foi! Eu te conheço, filhote! Se você gosta mesmo desse menino, deve dar pra ele todo carinho do mundo! – ela diz fazendo minhas bochechas esquentarem.
– Eu gosto muito dele!
– Ele precisa cuidar desse assunto, talvez arranjar um terapeuta pra que isso não afete as outras relações que tem na vida dele, pra que ele não se torne dependente de nenhum carinho. E seria bom que vocês conversassem sobre confiança, porque acho que ele perdeu a sua!
– Sim! – digo baixo.
– Mas eu não consigo ver maldade nele. Quero dizer, o vi apenas uma vez, mas dava pra notar nos olhos dele como ele se sentia deslocado. Quando soube de sua história fiquei tão triste!
– Você acha que devo perdoá-lo?
– Só se você conseguir. O perdão precisa ser sincero!
– Talvez eu precise de tempo pra conseguir!
– E é justo! Coloque a cabeça no lugar e quando achar que consegue, o perdoe! – ela diz e um silêncio se faz novamente – Mas agora, que tal um chocolate quente com canela pra esquentar? – ela me balança levemente me fazendo sorrir.
– Eu aceito! – digo pra ela e juntos nos levantamos pra voltar pra dentro de casa.
Fazemos e tomamos o chocolate quente juntos enquanto conversamos sobre outras coisas da minha vida que não andei compartilhando muito, como a faculdade, o grupo de dança e o festival, além de como anda o trabalho na loja. Quando terminamos, resolvemos dar uma nova chance ao sono e subimos para nossos quartos. Minha mãe beija minha testa e me deseja bons sonhos antes de fechar sua porta e me deixar pensando em como devo ser grato todos os dias por ter a família que tenho.
Entro no meu quarto e me deito na minha cama um pouco mais relaxado, mas ainda inquieto. Olho pro lado e vejo meu celular na mesa de cabeceira. Estendo minha mão pra ele e decido que talvez seja a hora de finalmente dar uma chance ao que ele tem a dizer.
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Músicas de Amor na Loja da Rua de Baixo | Changlix
FanfictionChangbin e Felix, dois jovens na faculdade, se conhecem melhor quando começam a trabalhar juntos na loja de discos de seu melhor amigo. Eles têm todos os motivos para não se darem bem, mas as músicas de amor que tocam na loja, fazem com que eles olh...