Capítulo 18 - Emma

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Os dias passaram e Lynch ainda não cobrou a minha dívida. Não paro de pensar nisso, para ele tudo é um jogo divertido, para mim é um filme de terror.

- Mamãe- Mila me chama.

- Sim, querida.

- Quando eu vou ganhar uma irmãzinha?

Engasgo com o próprio ar. Que reposta dar para Mila? Tomei uma injeção anticoncepcional antes do casamento, claro que Lynch não sabe disso. No momento que ele descobrir isso, pois mais cedo ou mais tarde vai descobrir, terei um problemão. Sei que o principal objetivo desse casamento é dar um herdeiro homem para ser o próximo dom.

- Logo minha pequena.

Estou mentindo para uma criança agora, se dependese de mim nunca teria um filho com ele.

- Não vejo a hora de ter uma maninha para brincar- fala sorridente.

- Isso é uma conversa de adultos- mudo de assunto- O que acha de me ajudar a fazer um mousse de morango com chocolate?

Suborno ela com comida.

- Sim, sim, sim- pula no meu colo.

Levo Mila para a cozinha, ela adora me ajudar a cozinhar, até comprei um avental para ela. Matilda pega os ingredientes, e nos ajuda também. O preparo vira uma bagunça, Mila se lambuzou toda. Ela é uma criança adorável... gosto muito dela.

A noite chegou, e Lynch veio para casa muito estranho. Ele está com um carranca fora do normal, e mal tocou na comida. Melhor manter distância desse mau-humor todo.

Após jantar venho para a cozinha conversar com Matilda, ela se tornou uma boa amiga.

- Quero café, Matilda- reclamo.

- Está muito tarde para café, vai atrapalhar seu sono- ela parecia uma irmã mais velha- Tome esse chá.

- Chá é coisa de velho- brinco.

- Vai fazer bem para seu sono, irá dormir como um anjinho- dá de ombro.

- Já sou um anjinho.

- Eu sei... menos com o senhor Bernard- provoca.

- Se falar do Lynch aí que vai terminar com minha noite de sono.

- Como se vocês não dormissem na mesma cama.

- Não precisa jogar na minha cara- falo indignada.

- Meio difícil ignorar os comentários da senhora Emma aparecer cheia de marcas de chupões.

Fico tão vermelha que quero sumir.

- Não precisa ficar envergonhada- continua- Isso é normal entre um casal.

Do nada Mila entra na cozinha chorando, pego ela no colo tentando acalma-la.

- Ma-mamãe...

- O que houve Mila?- Matilda também tenta a acalmar.

- Má-mamãe... o papai... o papai...- mal entendo o que ela falou.

À muito custo consigo fazer Mila se acalmar, só depois de um chá de camomila e muito carinho. Dei um banho relaxante nela, e coloquei na cama, ela ainda soluça um pouco.

Deito com ela, fazendo carinho em seu cabelo. Queria muito saber o que aconteceu, mas não quero a fazer chorar novamente, sei que envolve o Lynch.

Quando Mila finalmente caí no sono, vou até o escritório tirar essa história a limpo. Ao entrar no cômodo, o cheiro forte de charuto invade minhas narinas. Lynch está sentado em sua cadeira, olhando alguns papéis, com um charuto entre seus dedos. Seus cabelos estão bagunçados e está sem gravata, isso é incomum , ele sempre está impecavelmente arrumado.

- Estou ocupado. Fale o que deseja?

- O que aconteceu com Mila e você?- me aproximo e o cheiro do charuto vai ficando mais forte.

- Tenho coisas mais importantes para fazer...

- A sua filha estava aos prantos- me altero- Demorou um tempo danado para a fazer parar de chorar.

- Mila está fazendo cena- ele apaga o charuto- Apenas gritei com ela e a repreendi, tenho muito afazeres e não tenho tempo para essas bobagens.

- Bobagens? Ela é sua filha, sente sua falta.

- Faço o melhor que posso.

Mila era uma criança extremamente carente, tanto que em pouco tempo começou a me chamar de mãe.

- Ser pai vai além de dar coisas materiais, tem que dar amor e carinho.

- Como você saberia?- Lynch fala irritado- Que pai você teve, Emma? Pelo que sei...o seu PAI... enganou a Inês, fodeu ela é depois descartou como um pedaço de lixo. Alguma vez na vida você viu ele?- faz uma pausa- Deixa que eu respondo, NÃO, ele nunca se preocupou com você... Então não venha questionar o que faço na criação da minha filha.

Tudo o que Lynch falou era verdade, não tinha como argumentar contra, mas se ele pensava que isso me atingia estava enganado, já ouvi coisa pior. A minha ausência de uma figura paterna não anulava que gritar com uma criança que quer atenção é errado.

- Desgraçado, arrogante...- resmungo.

Melhor sair daqui e deixar Lynch com seu mau-humor. Estou quase alcançando a porta quando ele me agarra, me carregando e jogando no sofá.

- Me larga seu crápula...

- Seu dever como esposa é abrir as pernas para mim quando quiser- ele me prende com seu corpo- Preciso relaxar... nada melhor que minha adorável esposa fazer seu papel...

- Eu te odeio... te odeio...

- Você não seria a primeira- prende minhas mãos.

Meu corpo começa a tremer tomado pelo pavor...

Não...

Não...

Lynch saí de cima de mim, saiu correndo sem nem olhar para trás. Entro no quarto, vou para o banheiro, meu corpo não para de tremer. Caiu no chão, me recuso a chorar, não mais. Respiro fundo tentando me acalmar. Levanto passo uma água no rosto, pego alguns comprimidos e tomo todos de uma vez só.

Sei que ainda vai demorar algum tempo para eles fazerem efeito.

Pego Lua e Meia-noite e vou para o quarto de Mila. Não quero dormir na mesma cama que Lynch. Torço para ele não vir atrás de mim.

Deito ao lado de Mila. Ainda sinto leves calafrios pelo corpo, me encolho na cama. Que hilário, eu que sou adulta e estou me escondendo do lado de uma criança.

Levanto indo para a varanda. Preciso de ar, me sinto sufocada. O ar gelado invade meus pulmões.

Eu te odeio Lynch.

Te odeio.

Sento no chão e observo a lua, algumas lágrimas teimosas insistem em cair. Passo os dedos pela tatuagem de lua no pulso... Chega Emma. Estico o braço olhando as duas tatuagens que me trazem recordações horríveis.

Você prometeu não chorar mais.

Enterrou tudo no passado.

Levanto um pouco mais calma e volto para a cama. Mila se acomoda em meus braços. Adormeço sentindo o calor dela.

Pecado dos Pais ( Tríade das Máfias - Livro 3)Onde histórias criam vida. Descubra agora