Capítulo 30 - Emma

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- Enquanto eu estiver aqui, ninguém mais vai te machucar- sinto um beijo em minha mão- Eu prometo.

Como fez todas as noites, Lynch vem me olhar dormindo, ele me pede desculpas e diz coisas estranhas, do tipo que falou agora. Como em todas as noites, finjo que estou dormindo.

Ouço a porta bater, ele até mesmo está dormindo em outro quarto. Por mais que todos me peçam para reagir, não tenho vontade de sair da cama, muito menos de falar. Só queria dormir e não acordar mais.

Assim vai passando os dias.

- Vamos senhora- Matilda puxa as cobertas- Eu vou te ajudar a tomar banho.

Matilda me ajuda a tomar banho, eu pareço um robô que executa tarefas simples. Após isso coloca um roupa confortável e penteia meus cabelos.

- Se a senhora quiser comer algo especial é só pedir- tenta conversar- A senhora anda muito pálida e tem comido tão pouco, tem que se alimentar melhor.

Sei que Matilda sempre foi boa para mim, mas não tenho vontade de falar, nem sei se as palavras vão sair.

********

- Emma- Betina toca meus cabelos- Olha eu trouxe macarrones, estão deliciosos. Trouxe para a minha formiguinha- ela soluça- Por favor, fala alguma coisa- viro meu rosto para olha-la, ela está mesmo chorando- Você tem que melhorar, sinto falta da minha cunhadinha linda. Fica tranquila que estamos cuidando da Mila.

*********

- Oi querida- dessa vez é a voz de Donatella- Você está meio pálida, tem que comer melhor, faz um esforço. Quando você estiver disposta vamos sair passear, só nos quatro, eu, você, Betina e Mila, vamos fazer algo só para as meninas da família.

********

- Vou ter que aplicar um soro- Louis fala- Você está muito fraca, não tem comido direito- sinto a agulha espetar meu braço- Emma, sei que não te conheço muito bem, nem sei direito pelo que você passou... Mas, vamos enfrentar isso juntos, todos sentem a sua falta, todos querem o teu bem, com ajuda médica vamos te ajudar a enfrentar esses monstros...

*******

- Oi cerejinha- beija minha mão- Eu comprei um filhote de gato para você- vejo o pequeno animalzinho no meu colo, ele é lindo- Como sei que... que... olha eu não sei o que fazer, achei que outro gato podia te animar- dá um longo suspiro- Eu daria tudo para escutar você me chamando de velho de novo. Sei que sou a última pessoa que pode te pedir algo, a Mila sente tua falta, e eu sei que você também gosta dela... eu sou um babaca mesmo. Quando você melhorar, e eu sei que vai, vou ser um marido melhor, tem minha palavra de dom.

*********

- O senhor Bernard trouxe flores para colocar no seu quarto- sinto o perfume agradável das rosas brancas que Matilda coloca no vaso do meu lado- Ele também trouxe chocolates que a senhora gosta, vou deixar aqui do lado, caso tenha vontade de comer.

Lynch quase todos os dias trazia flores, o quarto estava mais parecendo um jardim, já tinha pra coleção, rosas, tulipas, lírios e flores do campo. Sem falar os chocolates e doces que todo dia Matilda falava que ele tinha trazido. E claro, o gatinho.

Nem o chocolate me animava mais.

********

- Mamãe...- ouço o choro é Mila batendo na porta- Abre a porta, mamãe... - eu quero abrir mais não consigo- Por favor...- escuto o choro mais alto.

Logo ouço a voz de Lynch, ele diz que estou doente e por isso ela não pode me ver.

Eu fico assistindo minha vida passando, como se fosse um filme, levanto para ir no banheiro e até me alimento as vezes, mas parece tudo tão difícil, parece que não tenho vontade própria. Na maioria das vezes se não tem alguém me instruindo, eu não faço nada.

Eu só queria descansar, estou cansada dessa vida, estava bem sozinha por que tiveram que me trazer para essa vida da máfia novamente.

Acordo no meio da noite, só sei que é noite porque está escuro, não tenho noção de quantos dias já passaram. Estou com sede, desço para a cozinha tomar água. Na volta encontro Lynch, ele está suado, parece que estava malhando.

Ele me fala um monte de coisas, sinceramente eu não prestei muito atenção. Não quero ficar perto dele.

Mais um dia se passa, o sol está tão bonito lá fora. Passaram vários dias desde do meu surto, sei disso porque os cortes nas minhas mãos estão cicratizando. E dos pequenos flashes de memórias das pessoas falando comigo.

Quer saber?

Eu jurei que não ia mais sentir pena de mim mesma.

Eu odeio mostrar esse lado frágil.

Que pessoa lamentável que sou, jogada numa cama como um defunto esperando pra ser enterrado.

Levanto da cama, meu corpo dói, por incrível que pareça ficar muito tempo deitada te deixa toda dolorida. Chega desse meu estado deplorável.

Vou para o banheiro. Me olho no espelho, estou muito pálida e com olheiras bem profundas. Tomo um banho bem demorado, lavo meu cabelo e deixo o chuveiro levar minhas últimas lágrimas.

Depois de secar meu cabelo e pentear, escolho uma roupa confortável, um sapato baixo. Volto para a frente do espelho e passo um creme no rosto e um batom para dar um pouco de cor nos lábios.

- Hora de reagir dona Emma- falo para meu reflexo no espelho.

É até meio estranho escutar minha voz após tantos dias. Desço as escadas, indo para a cozinha.

Os empregados quando me vêem ficam chocados, parece que viram um fantasma. Régis chega derrubar o copo das mãos.

- Se-senhora Emma...- Matilda gagueja.

Foi ela que praticamente me obrigou a tomar banho e me ajudava a vestir.

- Estou com fome- minha voz saí bem rouco- Queria comer algum doce.

Quando falo, um misto de surpresa e alegria se forma na cara dos empregados. Matilda então, fica com os olhos aguados, algumas lágrimas chegam a escorrer.

- Claro senhora- me responde.

Sem muita demora, uma mesa linda é posta para mim, todos ficam me bajulando e mimando.

- Obrigado por ter cuidado de mim- falo quando fico sozinha com Tilda.

- A senhora não sabe como foi difícil esses dias- ela começa a chorar- Sei que deve ser difícil ainda, mas se precisar conversar ou de um ombro amigo ou colo estou aqui- ela beija minha cabeça- Ver a senhora descer aquela escada depois de tantos dias, e finalmente falar me deu um alegria que a senhora nem imagina.

- Se quer me agradar passe a me chamar de Emma- dou uma garfada no bolo de morango- Está delicioso.

- Eu não posso.

- Claro que pode- rebato.

Sei que ela tinha um protocolo a cumprir, mas depois do cuidados que ela teve comigo nos últimos dias, não queria mais a ouvir me chamando de senhora.

- Claro se...Emma- abre um sorriso- Seu Bernard, dona Betina e dona Donatella vão ficar muito felizes...

- Por enquanto, não fale nada, eu quero ver a Mila primeiro- queria dedicar um tempo para a minha pequena- Pode pedir para buscar ela.

- Vou providenciar- Matilda se retira.

Ainda lembro muito claramente de Mila batendo e chorando na minha porta. Eu não tive uma mãe presente. Conheço como é se sentir abandonada. Todo o amor que eu tiver vou dar para a Mila.

Pecado dos Pais ( Tríade das Máfias - Livro 3)Onde histórias criam vida. Descubra agora