Tão difícil

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"Isso é tudo porque eu não posso ser ela?
Cometeu seus erros e me machucou"

Eu não fui sempre assim. Ainda podia me lembrar como se fosse ontem, eu tinha apenas 11 anos quando minha vida virou de cabeça para baixo.

Os primeiros meses no Japão foram os mais difíceis para mim e meus irmãos, mas não demorou muito para nos acostumarmos com as línguas e costumes locais, até fizemos alguns amigos.

Eu naturalmente não conseguia socializar, era muito tímida e tinha poucos amigos por conta disso. Em algum momento, eu percebi que estava gostando de um garoto da mesma turma que eu. Ele era incrível; era bonito, inteligente, popular... Vivia rodeado de garotas e sempre era muito legal com todo mundo, ele até sorriu para mim uma vez!

Então depois de semanas planejando o que fazer, eu decidi escrever uma carta com meus sentimentos e entregar para ele. Deixei a carta sobre a sua mesa durante um intervalo, e quando chegou na sala, ele leu. Eu estava nervosa demais, e me lembro de como ele me olhou com desdém enquanto se dirigiu até a frente da sala e leu tudo em voz alta.

Aquelas malditas vozes ecoavam na minha cabeça, risadas e comentários maldosos que eu não esperava principalmente dos meus amigos.

Eu não estava tão chateada pelo fato de ter sido rejeitada, mas sim por ter sido zoada por pessoas em quem eu confiava e considerava meus amigos. No final do dia eu já estava exausta, só queria ir para casa e chorar tanto quanto pudesse, mas algumas garotas me pararam. Eu não as conhecia, mas sabia que eram as garotas com as quais o garoto que eu gostava vivia andando. Elas tinham sorrisos maldosos e uma tesoura.

Como uma criança fraca e indefesa, me lembro de como elas facilmente me derrubaram no chão. Duas delas seguraram meus braços enquanto a outra usou a tesoura para cortar meus cabelos. Eles que antes eram longos em um corte reto, agora estavam curtos e com mechas de tamanhos desiguais. Com o tempo, as pontas acabaram virando para fora, mudando totalmente o aspecto do cabelo.

- Você achou mesmo que ele iria querer uma menina como você? Com esse cabelo de cor esquisita e esse sotaque engraçado? - Uma delas comentou.

A partir daquele dia, eu me tornei outra pessoa. Izana foi atrás do garoto, eu nunca soube o que houve com ele, mas meu irmão garantiu que "ele teve uma lição da qual nunca irá esquecer".

Inconscientemente eu me tornei uma pessoa fria, apática e indiferente. Naturalmente, isso fez com que em pouco tempo muitas pessoas começassem a me odiar, e bem, eu não as julgaria. Eu realmente não me importava, afinal acreditava que não seria mais capaz de amar ninguém que não fosse meus irmãos.

Mas um dia... Ele apareceu.

Ran Haitani. O irmão mais velho da dupla carismática de Roppongi. Eu o conheci por acaso, quando nos esbarramos em um evento em Yokohama. Logo de início, aquele olhar arrogante e aquele sorriso ladino me chamaram atenção. Ran era como uma caixa de presente: bonito e atraente, com muitas surpresas.

Mesmo sendo tão narcisista e egocêntrico, ele sempre foi legal comigo. Nós saíamos juntos frequentemente, conversávamos e fazíamos várias coisas juntos, como melhores amigos. Quando eu estava com ele, me sentia feliz, com borboletas no estômago, pela primeira vez eu estava sentindo que alguém me entendia e não me julgava por ser diferente.

Algum tempo depois nós começamos a ficar. Nós dormimos juntos frequentemente, Izana odiava isso então nós sempre ficávamos escondido, ou eu dormia em sua casa, não me importava em levar uma bronca do meu irmão por estar com uma pessoa que me fazia bem. E não demorou muito para eu perceber que estava apaixonada pelo Haitani mais velho.

No entanto, eu já havia desenvolvido um bloqueio. Anos se passaram e eu simplesmente não consegui dizer o que sentia por Ran, então apenas desfrutava da sua companhia frequente.

E um dia... Ele apareceu com ela. Ela era linda. Aqueles cabelos longos e escuros, aqueles olhos âmbar, aquela pele clara sem nenhuma imperfeição...

Desde que ela apareceu em sua vida, ele não demonstrou qualquer interesse por mim. Nem por outras garotas. Eu voltei a ficar insegura comigo mesma e passei a me perguntar diariamente o que ela tinha e eu não. Era porque ela era branca? Era por que ela não tinha um sotaque estrangeiro? Era porque ela não procurava constantemente por atenção e aprovação e aceitava migalhas como eu?

Eu realmente tinha esperança que ela fosse apenas mais um dos brinquedos do Haitani, mas quando eu vi ele a beijando, dando apelidos carinhosos... Quando eu vi a forma como ele a olhava, como seus olhos brilhavam e um sorriso aparecia instantaneamente em seu rosto quando estava com ela, eu tive uma certeza; a certeza de que eu havia perdido a minha chance. Ran amava outra garota e não havia nada que eu pudesse fazer a respeito.

Então eu simplesmente enlouqueci. Não podia aceitar aquilo, ele não podia amar ninguém além de mim, mesmo que ele nunca tenha demonstrado qualquer coisa por mim além de desejo carnal. Mas estava tudo bem, porque eu tinha um plano.

Foi bem fácil. Consegui uma boa dose de lsd com Sanzu e misturei à bebida favorita de Ran. Ele caiu facilmente e logo estava totalmente à minha mercê, alucinando ele me via como a sua amada Akira. Pobre garota, eu vi todo o encanto desaparecer diante dos seus olhos quando ela me viu desfrutar do que era dela.

Por um tempo pareceu realmente ter funcionado, até que eu descobri a consequência do que eu havia feito.

- COMO ASSIM 'GRÁVIDA'?! - Izana berrou furioso batendo as mãos contra a sua mesa. Eu estava encrencada e sabia disso. - Quem é o pai?

- ......Ran.

- O QUÊ?! - Eu podia ouvi-lo hiperventilar mesmo à distância. Ele andou de um lado para o outro enquanto pensava, e então simplesmente correu até mim e agarrou meu braço. - Essa criança não pode nascer.

- Espera, o quê?!!

Izana apenas me puxou para fora, e Ikumi nos seguiu em silêncio. Eu sabia o que viria a seguir, e entrei em pânico enquanto ele me puxava com toda a sua força.

- IZANA, POR FAVOR!

- DEVIA TER PENSADO NISSO ANTES DE AGIR COMO UMA PUTA!

- P-POR FAVOR! EU PROMETO QUE VOCÊ NÃO VAI TER NENHUMA DOR DE CABEÇA COM ISSO! E-EU SÓ PRECISO-

- CHEGA! - Ele me puxou para fora uma última vez, me forçando a entrar em seu carro.

...

Ele me forçou a matar o meu filho.

...Mas foi pelo meu bem, certo?

Send Me Orchids - Ran Haitani Onde histórias criam vida. Descubra agora