Pesadelo

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"É só que eu me apaixonei por uma guerra"

✧*:.。.Akira pov.。.:*✧

Desde que Hana nasceu Ran esteve cada vez mais protetor e paranóico. Ele instalou câmeras de segurança em todos os cômodos da casa, incluindo os banheiros e o próprio escritório. Ele também decidiu que seria ideal me manter presa no quarto, acorrentada na cama. As correntes eram longas apenas o suficiente para que eu alcançasse o banheiro, mas não o corredor fora do quarto.

Em tempos normais eu definitivamente não aceitaria isso, mas desde o dia do parto eu estive tão fraca que até mesmo tomar um simples banho era um grande desafio. Eu preferi simplesmente ceder às vontades de Ran e evitar qualquer incidente.

Todos os dias quando chegava do trabalho, o Haitani ia ao quarto encontrar Hana e eu. Passava alguns minutos conosco, e logo em seguida ia assistir às gravações de todas as câmeras da casa. Tudo para a nossa proteção, segundo ele.

Abri os olhos lentamente sentindo um forte aperto no meu braço. Ran me encarava mortalmente, com o rosto tão perto do meu que eu podia sentir sua respiração.

- Que porra você acabou de dizer?!

- Hã? Eu... - Esfreguei os olhos ainda sonolenta tentando me lembrar o que havia feito enquanto dormia.

No momento em que senti o toque de Ran eu estava sonhando com Rindou... Eu devo tê-lo chamado pelo nome do seu irmão.

- Sua maldita! Depois de tudo que eu fiz por você, como você pôde?!

- Ran, por favor fale baixo... Vai acordar o bebê...

- Foda-se o bebê! Eu estou falando de você! - Com toda a alteração do Haitani, Hana começou a chorar alto. Ele subiu sobre mim segurando meus braços com tanta força que parecia que iam se quebrar.

- Ran, por favor, pare!

- Você esteve pensando nele esse tempo todo, não esteve?!

- Ran!

- RESPONDA!

- Não! Eu-

- CALA ESSA MALDITA BOCA!

Ran se levantou irritado com o choro insistente de Hana e a pegou no colo rapidamente. Eu podia ver o ódio brilhar em seus olhos, e sabia que aquilo era ruim. Ele era muito impulsivo, e não seria difícil acabar machucando minha filha mesmo que não tivesse nada a ver.

Arregalei os olhos vendo ele sair pela porta do quarto rapidamente com Hana no colo. A voz dela ecoou pelo longo corredor enquanto se afastavam cada vez mais.

- NÃO! - Me levantei da cama e corri tentando acompanhar Ran, mas antes que chegasse à porta senti a força das correntes puxarem meu braço e consequentemente todo o meu corpo, me fazendo cair sentada.

Minhas mãos tremiam e eu estava em pânico, pensar na possibilidade de ver minha filha machucada me fez chorar desesperadamente. O choro de Hana estava cada vez mais alto, o medo na minha cabeça o fez parecer choro de agonia e sofrimento. Eu continuava a gritar e implorar pela piedade de Ran, até que tudo ficou em silêncio.

Um silêncio frio e mortal, no qual a única coisa que eu ouvia era meus próprios soluços.

Meu coração disparou e eu percebi que pior do que o choro da minha filha era a falta dele. Comecei a me debater loucamente sentindo as lágrimas quentes descerem desenfreadas pelo meu rosto como duas cachoeiras.

- O QUE VOCÊ FEZ?! DEVOLVA A MINHA FILHA! HANA!

Ran surgiu caminhando levemente até a porta, se encostando no batente da mesma. Com as mãos nos bolsos, ele observou minhas inúmeras tentativas falhas de me libertar, enquanto eu apenas machucava meu braço e nem sequer saia do lugar. Eu sentia todo o meu interior doer pelo esforço que estava fazendo.

- Ela está bem. - Respondeu lenta e calmamente - Eu apenas a coloquei para dormir.

Quase imediatamente meu choro cessou. Mesmo sabendo que não poderia confiar totalmente nele, me senti um tanto aliviada com suas palavras. Implorava a Deus para que ele estivesse dizendo a verdade.

Ainda assim eu estava muito assustada. Me encolhi quando Ran se aproximou de mim e se abaixou na minha frente, deslizando os dedos pela minha bochecha com afeto.

- O que eu devo fazer pra te lembrar que você é minha...? Te dar uma surra para que fique vários dias de cama? Ou te foder até você sangrar? Minha mente é tão criativa quando se trata de você... Mas por hora, já sei o que devo fazer.

Eu observei enquanto Ran se levantava colocando as mãos nos bolsos novamente seguindo até a porta.

- Você não verá nem a sombra da nossa filha enquanto não aprender o seu lugar.

- Por favor... - Senti o desespero tomar conta de cada pedaço do meu ser enquanto implorava de joelhos - Eu vou me comportar! Serei toda sua, eu prometo!

- Você parece bem confiante, meu amor. Mas eu não quero promessas, quero atitudes. - Ran me deu um último selinho antes de sair do quarto fechando a porta. Eu pude ouvir o som da tranca sendo virada duas vezes.

- Não... Minha filha... - Me sentei sobre os tornozelos sentindo minha cabeça girar. Abracei minhas pernas escondendo meu rosto ali, sentindo as lágrimas caírem novamente.

{...}

- Querida? - Ran entrou no quarto com uma grande bandeja em mãos, fechando a porta assim que passou.

Ele se aproximou lentamente e se sentou ao meu lado na cama, pousando a bandeja na minha frente. Havia dois sanduíches com peito de peru, uma garrafa de suco de laranja e alguns biscoitos.

- Eu trouxe algo pra você. - Disse tranquilamente, acariciando minhas costas - Vamos, coma.

- Eu não quero. - Escondi o rosto nas pernas.

- Akira, já faz dois dias que você não come. Desse jeito nunca vai se recuperar.

- É? Tomara, quem sabe assim eu não morra logo.

Ran suspirou alto.

- Olha, sei que eu peguei um pouco pesado com você, mas estou fazendo tudo pelo bem da nossa família.

- Não Ran, não existe uma "família" aqui há muito tempo! - Exclamei enfatizando aspas com os dedos. - Tudo que você faz é me machucar.

- Não diga isso, bebê. Eu amo você mais do que qualquer coisa. E agora nós temos uma filha, eu só quero manter ela bem e segura e-

- Não Ran, nós não temos uma filha, EU tenho!

- ...

- E quer saber? Eu não me arrependo nem um pouco de ter escolhido o Rindou. Ele me ama de verdade e me faz bem! E a Hana é a prova viva do nosso amor!

Cobri minha boca com as mãos ao perceber o que havia dito.

Foi por puro impulso, mas eu sabia que as consequências não seriam nada boas. Ran ficou sério repentinamente, mas logo um sorriso assustador se formou em seus lábios e ele começou a rir.

- Puta merda, acredita mesmo nisso? - Gargalhou - Isso é impossível, sua idiota!

- ...

- Ai meu Deus, ele não te contou? Quando Rindou tinha oito anos ele precisou passar por uma cirurgia, e graças a ela ele se tornou estéril! O seu amante é um maldito infértil!

Ran gargalhava maleficamente como se se divertisse com aquilo. Ele seguiu até a porta, se virando uma vez antes de fechá-la.

- Eu estava até pensando em te liberar... Mas quer saber? Apodreça nesse quarto pensando no seu doce namoradinho.

Send Me Orchids - Ran Haitani Onde histórias criam vida. Descubra agora