4. Brigas e discussões

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Eu estava sentada no capô do carro de costas para a entrada da escola, já era tarde da noite e eu estava com frio e dor no braço. A dor era insuportável e onde antes eu não sentia nada, agora eu sinto tudo e mil vezes mais forte, aquele maldito xamã não sabe é de merda nenhuma, como ele diz ser médico se a única coisa que fez foi piorar minha situação? Eu passava a mão por cima da tipóia na esperança que aliviasse pelo menos um pouco, mas era óbvio que isso não ia acontecer e vez ou outra eu fechava os olhos sem aguentar, era como se queimasse enquanto um caminhão passava por cima. Se o efeito do feitiço anestésico estivesse presente eu estaria de boa, mas a partir do momento que ele começou a sumir...

- Está pronta? - Noeri chegou acompanhado do motorista que nos levaria até Osaka. Desci do carro respirando fundo no intuito de não deixar transparecer o que eu estava sentindo, mas falhei miseravelmente - Se sente bem? - Era óbvio que ele perceberia.

Entrei no carro e fiquei no banco de trás, Noeri entrou em seguida e sentou-se ao meu lado, enquanto o motorista colocava as nossas coisas na mala.

- Keyth?

- Seu xamã não é tão bom quanto diz ser. - Ele ergueu uma sobrancelha em dúvida - Depois que a "anestesia" saiu, meu braço dói como se estivesse em meio a chamas.

- Sinto muito, eu deveria ter chamado alguém mais competente. - Havia preocupação no seu tom de voz o que era de se estranhar - Prefere ficar? Posso pedir para que venha outro xamã-médico para averiguar a situação.

- Não há necessidade disso. Já tive trabalho demais para convencer Killa de que você não me mataria no meio do caminho, logo ela não precisava vir. - Ele riu anasalado com o que contei.

- Ela disse mesmo isso?

- Disse.

- Que garotinha perturbada essa. Então eu acertei quando disse que ela iria querer vir também, mas que bom que você a convenceu de que não quero te matar.

- Bom, convenci ela disso, porém não quer dizer que eu esteja convencida. - Falei na cara, ele me encarou perplexo, mas fiz questão de não olhar para ele.

- Está falando sério? - Noeri perguntou estupefato.

- Ora, sim. Não sei o porquê da surpresa, não esperava que eu fosse confiar em você assim de uma hora para a outra, não é? - Até parece que eu iria confiar nele depois de tudo o que passei sob suas ameaças, o medo de perder Killa caso não fizesse o que você mandou, nunca esquecerei disso.

- Nem sequer passou uma loucura dessas na minha mente! - Se defendeu.

- Vindo de você algo assim não seria nada estranho. - Ele balançou a cabeça de um lado para o outro ainda incrédulo. Toquei meu braço ao sentir uma fisgada.

- Quando vai confiar em mim? - Ri com escárnio.

- Isso é uma piada? "Quando vai confiar em mim", é sério isso? Depois de passar meses me atormentando com ameaças de que iria matar Killa caso eu não fizesse o que você pediu, você ainda tem a coragem de vir com essa de "quando vai confiar em mim"?! Isso sem contar todas as outras coisas que você já me fez passar!

- O que, preferia que eu ameaçasse tirar a sua vida?! - Rebateu como se estivesse com a razão.

- Na verdade, era preferível que não houvesse ameaças de mortes!

- Nós tínhamos um acordo, caso não lembre. Era o garoto em troca da sua adesão ao alto escalão!

- Não sei dizer se um "faça o que eu mandei que te coloco no alto escalão, do contrário sua amiga morre" é de fato um acordo. Tá mais para um incentivo! - Respondi irônica o vendo revirar os olhos. O motorista desligou o carro em meio a discussão e se manteve calado enquanto alternava seu olhar entre o retrovisor e a janela do carro.

Um amor (im)possível (Satoru Gojou)Onde histórias criam vida. Descubra agora