2101 Palavras
Aproximadamente 100 anos depois...
Um desagradável ruído ecoa em meus ouvidos. Um som que se assemelha a uma contínua corrente de vento bem acima de mim, o qual nunca senti tocar em minha pele.
Vez ou outra, escuro o que se assemelham a gritos em desespero, ou lamentações solitárias.
Apesar de não haver nada além de mim aqui, sinto o calor sufocante deste espaço, e sinto o suor escorrendo pela minha pele. Um calor que vezes é assim, em outras cresce numa intensa labareda que causa uma dor enlouquecedora, e em outras sinto-me submergir num líquido escaldante que por várias vezes sinto que derreterá meu corpo.
Quando a chama cessa ou o líquido abaixa e desaparece, o calor permanece queimando minha pele, até que eu sinta a dor desaparecendo, e tudo mergulhando no silêncio novamente.
O contrário também ocorria. O frio recaia sobre mim vez ou outra, de forma que sentia meu corpo congelar, e por muito sentia as garras gélidas invadindo meu corpo, e tremores me invadiam, até que por fim o frio desaparecia.
Outras vezes, escuto um ruído alto logo acima de mim. Quando escuto esse ruído, já sei o que se aproxima por entre a escuridão.
Primeiro as várias risadas, maléficas e travessas junto com o barulho de algo arrastando lentamente, ecoando por todos os lados. Logo em seguida, golpes rasgam as sombras e me atingem em vários pontos, impactos e cortes, seguidas por lanças frias que atravessam meu corpo, causando novos picos de dor. E isso perdura, por muito e muito tempo.
Sei que tudo acabou quando os golpes cessam, os sons arrastados se repetem, e uma batida pode ser ouvida não muito longe de onde estou.
E em meio ao silêncio, as dores perduram, até desaparecerem novamente.
Não sei por quantas vezes passei por isso. Perdi a conta de quantas vezes estive à mercê da dor.
A princípio eu reagia. Eu gritava. Debatia meu corpo com as poucas forças que me restavam tentando escapar daquilo que meus olhos não conseguiam enxergar.
Mas nunca adiantou, e então parei de tentar. Parei de gritar. Parei de lutar.
Mesmo que o medo ainda surgisse em meu peito, e ainda tremesse assustada em qualquer ruído.
Parei de esperar por uma salvação.
Não tinha mais força para isso, e em cada nova condição que esse espaço sombrio lançava sobre mim, eu não reagia. Tudo que este lugar recebia era meu silêncio.
Silêncio...
Agora que percebo, o silêncio está durando mais tempo que de costume.
Ouço o ruído logo acima de mim, e sei o que está vindo. Demorou, mas ainda assim veio.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Aurora de Sangue
Roman d'amourDistante dos olhos dos humanos, o anjo cumpriu seu papel. Sempre que seu trabalho foi feito, os humanos se encantavam, mas nunca o encontravam. Por diversos anos, ele os observou, mas nunca se aproximou. Mas a curiosidade o instigou, e assim ele vo...