3794 Palavras
Tudo escureceu e assim permaneceu.
Não sei ao certo por quanto tempo estou dessa forma, enxergando o pleno nada, rompido vez ou outra por vultos e estranhas nuances de cores em movimento que recordam momentaneamente o fluir do vento, e logo desaparecem.
Não tenho certeza do que enxergo, nem se realmente enxerguei algo, pois meus olhos parecem pesados demais e não consigo ter força o bastante para abri-los.
Vez ou outra tive a sensação de me mover.
Como se erguida no ar e flutuasse, talvez parada no lugar, ou quem sabe até me movendo pelo ar. Da mesma forma que a sensação surgiu, ela desapareceu, e então surgiu novamente, e acho que assim permaneceu. É outra coisa que não tenho certeza.
A verdade é que não tenho nenhuma certeza neste momento.
A única sensação que permaneceu em mim foi de algo familiar em mim.
Um calor que acho já ter sentido antes, a muito tempo atrás, não consigo lembrar exatamente onde ou quando foi, mas é um calor que penetra meu corpo e o esquenta cada parte do meu ser em intensidade que não queima ou incomoda, está muito distante disso. É uma sensação agradável e confortável, me traz grande relaxamento e parece retirar um imenso peso de mim.
Uma sensação muito parecida de quando consigo adormecer profundamente, uma agradável familiaridade, e dessa sensação, às vezes tenho a sensação que algo dourado, também sem forma, passar em torno de mim repetidas vezes, emanando o calor e o conforto que sinto em mim.
Tenho a sensação de ver novas nuances próximas de mim. Cores pálidas e opacas, brancas e cinzentas que surgem ao longe sem uma forma clara, vagando lentamente de um lado ao outro sem assumir qualquer tipo de aparência que soe familiar ou me diga qualquer coisa.
Algo sem forma definida, mesmo que tente me concentrar, não consigo distinguir nada nessas novas cores e seu mover estranho. Da mesma maneira que as primeiras cores, tons vermelhos que parecem igualmente opacos surgem ao longe e se aproximam, passando próximos de mim mas não o bastante para que possa tocá-los. Mesmo que tentasse, não acho que conseguiria.
Vezes ou outras, algo parece ecoar nesse lugar estranho. Sons e ruídos estranhos, que parecem distantes e ao mesmo tempo tão próximos como se originados de algo bem a minha frente que não consigo enxergar.
São tons difíceis de distinguir, mesmo que me concentre não consigo entender nada em suas variações e no tempo que duram, mas que não chegam a me assustar ou deixar apreensiva, apenas bastante curiosa em saber de onde surgem, e se podem significar alguma coisa. São sempre tons iguais que surgem, e permanecem surgindo e desaparecendo um atrás do outro, até que parece que aos poucos se distanciam e voltam a desaparecer, e mergulho novamente em silêncio.
Tudo que sei é que isso é tudo que me rodeia, é tudo que existe à minha volta, e já não sei a quanto tempo as coisas estão assim.
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Aurora de Sangue
RomansaDistante dos olhos dos humanos, o anjo cumpriu seu papel. Sempre que seu trabalho foi feito, os humanos se encantavam, mas nunca o encontravam. Por diversos anos, ele os observou, mas nunca se aproximou. Mas a curiosidade o instigou, e assim ele vo...