5922 Palavras
Termino de dobrar algumas roupas que limpei nos últimos dias, e organizando a pequena pilha de peças escuras, as levo para o quarto de Mika.
Costumo deixá-las organizadas na ponta da cama, para que assim ela escolha como prefere guardar.
Desço novamente, passando pela sala e cozinha, e ao alcançar o lado de fora, para na varanda e observo a cidade. Acho que seria bom fazer uma ronda para me certificar que tudo está bem.
Algo bem ao meu lado me chama a atenção, uma coisa que nunca vi antes. Bem ao lado da escada da varanda, duas rosas acabaram de florescer. Uma rosa branca e uma rosa preta, levemente enlaçadas entre si.
Lembro-me de ver os dois botões crescendo timidamente no decorrer dos últimos dias, e este é o momento que finalmente abriram. Mas é muito incomum rosas abrirem durante a noite, ainda mais serem de cores diferentes.
E parece que, um novo caule começou a nascer entre as duas rosas, uma terceira flor em breve irá surgir.
Observo ambas com bastante atenção, me sentindo estranhamente ligado a rosa branca, e uma sensação de estar olhando para suas belas pétalas brancas, seu tamanho e sua beleza me dão a sensação de olhar a mim mesmo.
E no momento que meu olhar se volta a rosa negra, igualmente grande e com pétalas vivas, parecendo irradiar vitalidade em cada uma de suas pétalas, e nesse momento um grande carinho parece recair em mim. Um carinho, junto a vontade de cuidar e proteger essa rosa, que mesmo repleta de afiados espinhos de pontas vermelhas que até parecem serem capazes de queimar profundamente ao mero toque, ainda assim parece muito frágil e delicada.
Estranho, não sei bem o porquê disso, mas essa rosa me faz lembrar da Mika. Olhar para ela, é como olhar para aquele pequeno anjo que mexe comigo de tantas formas.
Não sei porque estou pensando nisso, mas esse pensamento me tira um sorriso. Mas sei que gostarei de olhar para essas rosas na porta de casa durante os próximos dias.
Ouço um bater de asas não muito distante de onde estou, o que tira minha atenção das rosas. Pressinto a proximidade da graça de outro anjo, e caminhando até o gramado, uma intensa luminosidade pode ser vista no chão, criando uma longa sombra a partir de onde estou, e em seguida de dois anjos pousam a minha frente.
- Ka'Su, precisamos conversar. – Ion'Alia se pronuncia sem demora, enquanto Lay'L para ao seu lado. – Agora, se possível.
- O que se trata? – Pergunto os olhando.
- Temos novidades. – Lay'L diz em uma empolgação apreensiva – Acredito que conseguimos localizá-lo.
- A Cria do Abismo? – Questiono com os olhos apertados, e Lay'L assente.
Olho para trás por um momento, entendendo que, para ambos terem vindo aqui, essa não será uma conversa curta.
Não tive notícias de Mika até então. Por isso, imagino que ela ainda não tenha voltado do submundo. Acredito que dará tempo de ter essa conversa.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Aurora de Sangue
RomansaDistante dos olhos dos humanos, o anjo cumpriu seu papel. Sempre que seu trabalho foi feito, os humanos se encantavam, mas nunca o encontravam. Por diversos anos, ele os observou, mas nunca se aproximou. Mas a curiosidade o instigou, e assim ele vo...